Economia

Para presidente da Faemg, recurso do Plano Safra 2025/2026 é metade do necessário para o setor

Presidente do Sistema Faemg defende ampliação do seguro agrícola e questiona se os recursos do Plano Safra chegarão de fato aos produtores mineiros
Para presidente da Faemg, recurso do Plano Safra 2025/2026 é metade do necessário para o setor
Foto: Reuters/Agustin Marcarian

O governo federal lançou, nesta terça-feira (1º), o Plano Safra 2025/2026, com R$ 516,2 bilhões em recursos para custeio, comercialização e investimento na agricultura e pecuária empresarial. O crédito vai apoiar grandes produtores rurais e cooperativas com R$ 447 bilhões, e produtores enquadrados no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) com R$ 69,1 bilhões.

O valor é considerado o maior da história, mas, para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg/Senar), Antônio de Salvo, o Plano Safra continua aquém das reais necessidades do setor e levanta dúvidas sobre sua eficácia no dia a dia do produtor mineiro.

“Atende à demanda? Sim, atende em parte. O que precisamos para plantar essa safra é R$ 1,3 trilhão. Então, isso atende uma parte ou quase a metade do que precisa. O resto, a iniciativa privada tem que nos financiar”, afirma De Salvo.

Segundo o presidente da Faemg, a participação de Minas Gerais no volume total dos recursos do Plano Safra também é uma incógnita. O Estado, que responde por mais de 22% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro por meio do agronegócio, tem um perfil diversificado e forte tanto na agricultura quanto na pecuária.

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“Não dá para saber se o dinheiro vai chegar de forma igualitária em todos os estados. Minas é um Estado diverso, grande. O que a gente precisa saber de forma bem direta é se esses recursos vão estar nas agências disponíveis para os pequenos, médios e grandes produtores”, destaca. 

Juros altos ameaçam viabilidade da produção

Presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio de Salvo
Foto: Divulgação / Faemg

Um dos principais pontos de atenção do novo plano é a manutenção de taxas de juros elevadas, mesmo com o aumento do volume financeiro. O governo estabeleceu taxas de 10% ao ano para produtores do Pronamp e 14% ao ano para os demais em operações de custeio e comercialização. Para investimentos, os juros variam entre 8,5% e 13,5% ao ano.

Para De Salvo, os juros minam a rentabilidade da produção e exigem atenção redobrada dos produtores. “Estão falando que o Plano Safra é recorde. Não é. Se você subtrair a inflação, ele só aumentou 1,5% em relação ao plano anterior. Com essas taxas de juros, dificilmente uma agricultura pode ser viável. Mas é o que nós temos no momento. Vamos ter que trabalhar com isso”, ressalta. 

O presidente da Faemg também observa que o aumento da taxa Selic para 15% eleva o custo de todas as linhas de crédito e pode comprometer a margem de lucro do produtor.

“Mas, de uma forma geral, os planos têm sido bons. Este ano, especificamente com esses juros altos, a gente vai ter que redimensionar, lembrando que teremos que buscar muita tecnologia, muita assistência técnica e muito juízo para pegar dinheiro com taxas tão altas como as existentes hoje no nosso Estado e no Brasil”.

No lançamento do Plano Safra, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ressaltou que a alta nos juros foi menor do que a elevação da Selic no período. 

“Nós tínhamos uma Selic de 10,5% ao ano, hoje ela está em 15%, portanto 4,5 pontos percentuais a mais do que no momento do lançamento do Plano Safra passado. E ainda assim, com todas essas dificuldades, o aumento das taxas de juros foi da ordem de 1,5% a 2%”, destacou.

Falta de seguro agrícola e gargalos logísticos preocupam Faemg

Além das taxas, De Salvo reforça que o principal gargalo estrutural do agro mineiro segue sem solução: a ausência de um seguro agrícola robusto, que garanta segurança a produtores e instituições financeiras em caso de perdas por eventos climáticos.

“A grande falha do Plano Safra é o valor ínfimo do seguro agrícola. Todo o primeiro mundo tem um seguro robusto. Isso permitiria taxas menores e tranquilidade para quem empresta e para quem produz”, explica o presidente da Faemg. 

Ele também cita a necessidade de investimentos em logística e armazenagem, especialmente para grãos como soja e milho, permitindo ao produtor armazenar e comercializar em períodos mais vantajosos, e não apenas no pico da colheita.

“Precisamos ter uma melhoria de logística, um aumento da capacidade de armazenagem de grãos para que você possa ter uma garantia que se investiu numa lavoura branca, soja, milho, você tem onde guardar caso você não queira negociar na colheita. Isso precisa ser melhorado em Minas e no Brasil como um todo”, reforça. 

Recursos do Plano Safra precisam estar disponíveis nas agências

Embora o plano preveja um valor histórico, a experiência de anos anteriores gera desconfiança sobre a efetiva liberação dos recursos prometidos. Segundo o presidente da Faemg, os recursos do último Plano Safra não chegaram às agências bancárias.

“O grande problema são dois: o seguro e saber se esse dinheiro vai estar nas agências bancárias. No plano passado, menos de 80% do que foi prometido chegou às agências. Não adianta anunciar um valor se ele está indisponível para o produtor”.

O presidente da Faemg ainda defende que o País precisa pensar além do ciclo anual, adotando um planejamento agrícola mais estruturado e de longo prazo.

“Se você plantar café, que é um dos principais produtos mineiros, você precisaria de uma segurança de margem maior, porque sua lavoura de café demora dois anos para produzir. O governo deveria pensar num plano realmente robusto”, finaliza.

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