Agronegócio

De commodity a café especial: produção de Caratinga valorizou 70% com descoberta

Conheça a trajetória do café Maricota, na Região do Rio Doce, que teve início há quatro gerações
De commodity a café especial: produção de Caratinga valorizou 70% com descoberta
Grãos de café Maricota | Crédito: Diego Vargas/ Seapa

Vem de Caratinga, na Região do Rio Doce, o cheirinho de café produzido pela cafeicultora Fernanda Eloise Sá de Andrade Ribeiro. E de mais longe ainda vem a sua história. O Café Maricota, que leva o apelido da sua bisavó, Maria Claudina de Sá, é produzido na fazenda quase bicentenária da família. Lá, as primeiras lavouras foram fincadas há mais de 50 anos pelos avós de Fernanda. Mas só recentemente ela descobriu que o que vendia como commodity era, na verdade, um café mais que especial. 

Panorama da fazenda do café Maricota, em Caratinga
A Fazenda Maricota | Crédito: Diego Vargas/ Seapa

“Café especial não é algo que se venda em grande volume, porque é sua alma ali dentro. Eu vendo carinho, zelo e harmonia. O gosto remete a algo do passado, a alguma coisa que as pessoas já sentiram, e isso lhes dá prazer. É o que eu quero continuar passando para frente; quero que as pessoas sintam o sabor do carinho na xícara. É o tipo de momento que eu e minha família tentamos proporcionar”, conta Fernanda Ribeiro.

Mas foi só em 2022 que ela descobriu que da fazenda da Maricota brotavam grãos especiais. Até então sob a condução de sua mãe, os negócios da família só passaram para as mãos de Fernanda, contadora por formação, há cerca de três anos.

“Só aí fui entender o que era uma lavoura, a vivência dos funcionários, como funcionavam os mecanismos e os manejos tradicionais. A fazenda sempre produziu bons frutos, mas nunca os tratou como café especial ou selecionado”, explica.

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A descoberta da “mina” de café

Para além da vivência na produção, o insight só veio quando a cafeicultora decidiu se aprofundar mais na área de cafés. Ela fez um curso da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) que serviu como ponto de partida para a sua jornada no universo dos grãos. Nesse encontro, Fernanda se encantou, especialmente, por uma palestra do presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais das Terras Altas do Caratinga, Mauro Grossi. 

“Ele deu uma aula de cafés especiais e fiquei fascinada. A partir daí fui aprender como cultivar. Fiz inúmeros cursos, entendi o manejo da lavoura, o respeito com o meio ambiente, descobri melhor os grãos e as classificações do café. Tudo isso para conhecer melhor o produto que eu já estava produzindo. E isso mudou por completo o formato do nosso negócio”, lembra. 

Café Maricota valorizou 70%

Depois disso, o contato com os técnicos da Emater se tornou mais frequente. “Fui envolvida nos treinamentos e no meio, até que um dia, um técnico que estava em campo na nossa cidade me pediu para separar uma mostra do nosso café para mandar para um concurso deles. Meu café pontuou 83 pontos sem eu nem saber que se tratava de um café especial”, recorda. Vale lembrar que um café precisa ter, no mínimo, 80 pontos para ser considerado um café especial segundo escala da Specialty Coffee Association (SCA).

A cafeicultora Fernanda serve o café Maricota à mesa com quitandas.
A cafeicultora Fernanda Ribeiro | Crédito: Diego Vargas/ Seapa

A jornada acabou culminando, então, em toda a preparação e adequação do negócio para receber a certificação oficial da produção, que chegou em outubro do ano passado. Trata-se do Certifica Minas Café, coordenado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG), selo que garante a certificação de propriedades cafeeiras e assegura a produção dentro de critérios internacionais de sustentabilidade socioeconômica e ambiental. 

“Com o Certifica Minas, o produtor rural desfruta de diversas vantagens, desde o aumento do valor agregado até a assistência para toda a sua produção, de maneira ambientalmente correta. Isso cria oportunidades, especialmente no mercado externo”, explica o subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Seapa, Caio César Coimbra.

Fernanda Café Maricota
O café Maricota | Crédito: Diego Vargas/ Seapa

Com isso, o valor agregado do produto teve um salto de 70% em relação ao valor que Fernanda vendia como commodity. E isso também a transformou.

“Eu, antes, era só produtora de café. Agora, me vejo como empresária, porque tenho que organizar a torrefação, as vendas, a propriedade… tenho que ter tudo redondinho. O interesse no meu produto está aumentando e hoje eu consigo fazer vendas melhores, contato com exportadores para negociar meu café cru e organizar a expansão. Hoje eu conheço o produto que está nas minhas mãos”, reitera Fernanda Ribeiro.

Planos de expansão

Atualmente, a propriedade produz uma média de 600 a 700 sacas anuais do produto cru. Mas a previsão é expandir a produção, renovar o negócio e investir em novos projetos, especialmente, em inovação. 

“O aumento da produção o produtor sempre almeja, claro. Mas paralelamente a isso, estou fazendo uma parceria com a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) para a criação de um campo experimental, para analisar qual o cultivo vai ser adaptar melhor na região e render uma produtividade melhor. Venho de uma sucessão familiar, então a lavoura vai ter que passar por uma renovação. Também quero realizar projetos de irrigação e outras tecnologias”, revela. 

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