Produção de cachaça e queijo precisa solucionar gargalos para avançar

Importantes e tradicionais produtos de Minas Gerais, a cachaça artesanal de alambique e os queijos artesanais, apesar de serem produzidos há séculos, ainda enfrentam desafios significativos. Entre eles estão escassez de mão de obra, dificuldades com a legislação e com a sucessão familiar e falta de assistência técnica.
Os problemas enfrentados pelas cadeias produtivas dos setores foram identificados em diagnósticos feitos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e discutidos em dois workshops realizados pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). As discussões se basearam em diagnósticos elaborados por meio de entrevistas feitas com pessoas ligadas a toda cadeia de produção do queijo artesanal e da cachaça de alambique nas principais regiões produtoras, desde o fornecedor de insumos, passando pelo produtor, até o vendedor final.
Conforme a assessora técnica da Seapa, Sandra Regina Carvalho dos Santos, no caso da cachaça artesanal de alambique, as entrevistas ocorreram nas regiões de Salinas, no Alto do Rio Doce, e em Ponte Nova, na Zona da Mata. Junto aos representantes da cadeia foram identificados gargalos importantes, como a assistência técnica ainda deficiente, a escassez de mão de obra, a carga tributária elevada e também a fiscalização, que acontece como punitiva e não orientativa.
O uso de variedades de cana-de-açúcar com baixo nível de tecnologia, afetando a produtividade e os resultados na produção da cachaça, também está entre os desafios da produção da cachaça de alambique. Outro ponto relevante que afeta de maneira significativa a renda dos produtores é a falta de informações sobre os custos de produção, essenciais para o cálculo dos preços de venda, garantindo retorno financeiro com a atividade.
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Seapa desenvolve ações
Conforme Sandra dos Santos, a Seapa, junto às vinculadas, vem realizando uma série de ações para contribuir com a promoção da cachaça e solução dos gargalos enfrentados pelos produtores. Entre elas está o “Projeto de Promoção da Cachaça de Alambique de Minas Gerais”.
“O projeto tem ações coordenadas atuando na promoção da cachola de alambique regularizada. O objetivo é fomentar e promover a cachaça formalizada e com qualidade garantida nos mercados nacional e internacional. Foram feitas rodadas de negócios e um diagnóstico do setor, onde foram apontados os perfis de empreendimentos, os dados de produção, perfil da assistência técnica, empregos, entre outros. São dados essenciais para a formulação de políticas públicas”.
Ainda conforme a assessora técnica, as ações do projeto incluem também capacitação de quem atua no setor, incentivos à formalização por meio de palestras, fiscalizações e orientações ao produtor, entre outros. Para a qualidade e sanidade da cachaça, foram inaugurados dois laboratórios para análise no Estado, que darão mais suporte aos produtores. Há ainda a realização de eventos institucionais.
Concurso
Para ajudar na visibilidade, promoção e comercialização, em 2024, pela primeira vez, foi realizado o Concurso de Avaliação da Qualidade das Cachaças de Alambique e Aguardentes de Cana Mineiras – Cachaças Mineiras/2024. Promovido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), o certame contou com a participação de 132 produtores de várias regiões mineiras, sendo 23 deles agricultores familiares. Ao todo, foram 19 produtores premiados, sendo 15 de cachaça e 4 de aguardente.
Produção dos queijos artesanais também enfrenta desafios
Assim como na cachaça, para levantar os principais gargalos da produção dos queijos artesanais de Minas Gerais foram ouvidos agentes de toda a cadeia produtiva. As regiões produtoras ouvidas foram a do Serro, Canastra e Alagoa. Entre os principais desafios, estão a falta de mão de obra, a legislação desatualizada e a burocracia. O setor ainda enfrenta o problema da falsificação dos queijos já reconhecidos pelo Estado e a dificuldade de realizar a sucessão familiar. Há ainda a dificuldade do setor se organizar em associações e cooperativas e a falta de assistência técnica.
Conforme a Seapa, as soluções propostas passam pela revisão da legislação vigente e do sistema tributário e treinamentos para os produtores, conscientizando sobre os benefícios do cumprimento das leis. O fortalecimento das associações e cooperativas também foi uma sugestão para reforçar as demandas dos produtores junto a órgãos públicos e instituições financeiras.

“A Seapa e as vinculadas desenvolvem várias ações para auxiliar os produtores. No caso da assistência técnica – através do programa Queijo Minas Legal – a Emater-MG tem a expectativa de atender, em 160 municípios, 652 produtores de queijo artesanal que têm a intenção de regularizar a produção. Para isso, serão investidos R$ 4,8 milhões”.
Sandra dos Santos ressalta, por fim, que para estimular a sucessão familiar e formar mais mão de obra, a Emater lançou o projeto “Futuro no Campo”. O projeto quer fomentar o protagonismo do jovem rural e apoiar os processos de sucessão. Serão 500 participantes de vários setores da agricultura e pecuária.
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