Agronegócio

Produção de cogumelos aumenta na RMBH

Município de Nova Lima vem ganhando espaço na produção de alimento cada vez mais consumido pelos mineiros
Produção de cogumelos aumenta na RMBH
Ambientes com temperaturas mais amenas e com umidade favorecem a produção de cogumelos | Crédito: Divulgação/Cogu das Minas

O tempo em que os cogumelos eram presença confirmada apenas no estrogonofe ou na pizza vegetariana passou. Hoje, em muitos pratos, eles já são protagonistas. Cada vez mais presente na mesa dos mineiros, o alimento movimenta a economia de pequenos produtores da Região Metropolitana de Belo Horizonte e projetam o Estado e o sabor do ingrediente a partir de ideias inovadoras. 

Em uma curta volta ao tempo, o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos (ANPC) e doutor em engenharia agrícola, Daniel Gomes, lembra que em 2008 o consumo e a produção do produto no País eram praticamente limitados às conservas de champignon. No entanto, após findada uma proteção do mercado brasileiro que existia sobre o cultivo dos cogumelos estrangeiros, o mercado mudou. 

“O cogumelo é um produto que deve ser feito aqui, por ser fresco. E, com essa queda da proteção, houve uma mudança de guinada e os produtores começaram a produzir os cogumelos in natura. E outra coisa que foi interessante perceber é que o cogumelo cozido, em conserva, parece uma borrachinha. É meio azedo e super limitado gastronomicamente. Quando o cogumelo de verdade chegou, vimos que era outra coisa e ele foi ‘caindo na graça (das pessoas)’”, conta Daniel Gomes. 

Ainda segundo o presidente da ANPC, no princípio o consumo dos cogumelos estava concentrado nos restaurantes de comida japonesa, já que o alimento é utilizado e bastante difundido na culinária asiática como um todo. 

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Apesar de ainda ser um produto considerado de nicho e comprado por pessoas que têm hábitos alimentares diferenciados, somente no País a produção anual de cogumelos frescos é estimada entre 12 a 15 mil toneladas, conforme dados da associação. Além disso, o volume de importação é de 13 mil toneladas anuais. 

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levantados em 2006 mostram que, naquela época, São Paulo liderava a produção com 277 produtores dos fungos. O estado era seguido por Paraná e Minas Gerais, panorama que deve ser atualizado em futuros censos. 

Polo em Nova Lima

A procura pelo cultivo de cogumelos enquanto meio de subsistência e fonte de renda fica cada vez mais visível em Nova Lima, na região metropolitana da capital mineira. 

De acordo com o técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) Glaidson Guerra, em 2019, 24 produtores participaram de um programa de qualificação junto ao órgão para se profissionalizarem no cultivo do fungo. 

“A gente faz o acompanhamento na parte da produção, gestão e também atuamos para dar visibilidade e fazer com que eles sejam conhecidos na região, abrindo possibilidades de mercado e participação em políticas públicas. Essa é uma crescente, e vários outros municípios da Região Metropolitana acabam entrando em contato em busca de informação”, afirma o técnico da Emater, que cita Nova Lima como um polo para o cultivo.

O segredo para as colheitas satisfatórias, ainda segundo o técnico, está no clima da região, uma vez que ambientes com temperaturas mais amenas e com umidade favorecem a produção. Vale ressaltar, no entanto, que a participação de responsável técnico para o diagnóstico de cada área pode ser um passo fundamental para o sucesso do negócio. 

Entre as razões para considerar o cultivo de cogumelos como uma oportunidade está a possibilidade de iniciar o manejo com investimentos baixos. 

“O valor do investimento pode ser alto ou baixo. Vai depender da espécie do cogumelo, porque existe a diferença de um para outro.  Hoje, os cogumelos da família pleurotus, como o shimeji e o ostra, permitem uma estrutura mais rústica, de baixo investimento. Mas o shitake, por exemplo, exige mais investimentos por demandar uma casa de cultivo climatizada”, explica Glaidson Guerra. 

Conservas de cogumelos defumados são produzidas em Nova Lima | Crédito: Maria Paula Romano

Empreendedores aproveitam nicho em expansão

Em Nova Lima, onde a Emater-MG estima uma produção anual de 15 toneladas, os Cogumelos do Caminhante são produzidos desde 1988. A escolha do produtor rural Roney Bernardes Rocha se deu, à época, por ser vegetariano e pela vontade de empreender em um negócio ligado à agricultura. 

“A alternativa de produtos vegetais sempre incluía áreas muito grandes. E, quando eu descobri as propriedades do cogumelos e benefícios para a saúde, me interessei. De lá para cá, a demanda aumentou bastante. Quando eu comecei a produzir, os clientes estavam limitados a quem tinha ido ao exterior e aos asiáticos, que já tinham o costume de consumir”, conta Roney. 

Os preços dos cogumelos comercializados aos consumidores finais, pontos de venda ou a restaurantes giram em torno de R$ 10,00 a bandeja (200 gramas), valor que pode variar dependendo da espécie. Na propriedade de Roney são produzidos, mensalmente, em média, 600 quilos de cogumelos, de quatro espécies. 

A particularidade, no caso dos Cogumelos do Caminhante, está na produção com certificação orgânica, concedida pelos órgãos responsáveis ainda em 2006, o que atesta a procedência das matérias-primas dos produtos. 

A Cogu das Minas, startup de produção orgânica de cogumelos, nasceu pouco antes da pandemia com a produção de sementes (micélio) em uma casa no Santa Amélia, em Belo Horizonte. Logo depois, com a crescente demanda, o negócio se expandiu e hoje as sócias Valéria Alves Fernandes e Juliana Figueiredo de Oliveira Resende atuam em parceria com uma fazenda para a produção de cogumelos. 

A cada dois meses, a Cogu das Minas, que tem o nome inspirado no Estado e na participação majoritária de mulheres na empresa, produz 1 tonelada de cogumelos frescos para a comercialização. Além disso, em 2021, o negócio cresceu três vezes quando comparado com o ano anterior, sendo que, em 2022, as sócias esperam dobrar de tamanho. 

Inicialmente, o foco do cultivo era para suprir a demanda de restaurantes e hamburguerias que utilizam o alimento nas receitas. No entanto, com a pandemia, as vendas hoje são focadas no consumidor final, sendo o público bastante diversificado. 

“A gente faz pesquisas em nossos canais de relacionamento, como o Instagram, e percebe que tem um público vegetariano e vegano. Mas a maioria come carne e busca no cogumelo uma alimentação mais variada e que agrada o paladar também”, afirma Valéria. 

Hoje, o carro-chefe da empresa está nos cogumelos do tipo shimeji. A média de preço por bandeja (200 gramas) é de R$ 12,00 e, assim como no caso dos Cogumelos do Caminhante, há variações a partir do tipo.

Nos últimos meses, o faturamento mensal da Cogu das Minas girou em torno de R$ 40 mil, sendo que a empresa também faz a produção de salgados de cogumelos congelados para a complementação da renda. A exceção está em meses como dezembro, quando a empresa faturou R$ 100 mil, e o mês de maio, quando a empresa aproveita o Dia das Mães para incrementar a venda de cestas e dar um up no negócio. 

Cogumelos em conserva

Inspirado na carne de lata mineira, o sócio-fundador da Cogumelado, Thiago de Azevedo, criou um novo conceito para o alimento: conservas de cogumelos defumados no azeite de oliva extra-virgem, um produto fabricado em Nova Lima e que hoje circula por diversos comércios não só de Minas Gerais, mas do País

“A história passa por mim, porque eu parei de comer carne há dez anos. E eu consumia muita carne e tive uma mudança muito voltada ao meio ambiente. Eu também cozinho desde criancinha e eu tive que revolucionar a minha cozinha ao parar com o consumo de carne”, conta Thiago. 

A partir dessa revolução em sua cozinha, ele começou a mostrar aos amigos receitas com cogumelos. Os momentos descontraídos e culinárias em casa deram origem ao restaurante dedicado aos fungos de mesmo nome, aberto em 2018 e que encerrou as atividades em 2019 em benefício de um propósito maior: a abertura de uma fábrica de cogumelos — negócio incentivado por meio de investimentos na foodtech. À época, conforme conta Thiago, o restaurante Cogumelado também tinha como público principal aquelas pessoas que consumiam produtos de origem animal. 

O primeiro produto lançado em 2020 foi o cogumelo ostra defumado enlatado. No ano passado, a empresa lançou o cogumelo al mare, feito com o intuito de celebrar a culinária nordestina litorânea. 

Para 2022, a expectativa é crescer e levar para cada vez mais pessoas o conceito de um produto verde. “O cogumelo, além de toda a questão de sabor e versatilidade com diferentes texturas, é super sustentável. O impacto é baixíssimo na produção vertical. Em termos de saúde, ele tem antioxidantes, é um alimento que traz valores medicinais”, afirma o sócio-fundador da Cogumelado. 

Alimento propicia benefícios à saúde e proteção contra doenças

Segundo o nutricionista e membro do Laboratório de Nutrição e Treinamento Esportivo da Universidade Federal de Minas Gerais, Matheus Mendes, o consumo do cogumelo, ajustado a uma alimentação adequada, pode ajudar no controle da pressão arterial, dos níveis de açúcar no sangue e auxiliar, ainda, no sistema neuroprotetor e imunológico. 

“Esses benefícios estão relacionados com a melhora da saúde intestinal. Eles auxiliam na modulação da microbiota intestinal, e isso vai melhorar o sistema imunológico, vai melhorar as concentrações de glicose e também liberar compostos no nosso organismo que vão fazer bem para a saúde mental e proteger contra doenças como o Alzheimer e Parkinson”, explica Matheus. 

O nutricionista conta, ainda, que estudos em andamento mostram que o alimento pode ser promissor também no combate ao câncer. Além disso, ele explica que os cogumelos são ricos em fibras como a betaglucana e em aminoácidos, minerais – como potássio, fósforo e magnésio –  e vitaminas que irão variar dependendo das espécies. 

Apesar de não haver uma quantidade diária recomendada, o conhecimento científico mostra que quantidades de 100 a 250 gramas estão dentro de um limite para não ocasionarem efeitos tóxicos no organismo. 

Para vegetarianos e veganos, o nutricionista recomenda, no entanto, que os cogumelos, apesar de terem todos os aminoácidos presentes na carne e alimentos de origem animal, sejam consumidos em conjunto com as leguminosas para que a refeição seja satisfatória em quantidades de proteínas. 

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas