Produtor de Alagoa ganha festival do queijo artesanal

Alagoa é uma pequena cidade de 2.700 habitantes, no alto da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas, que vive da produção artesanal de queijo. É de lá que vem o Fazenda Bela Vista Premium, um queijo de leite cru, com massa semicozida e maturado por dois meses, eleito por votação popular o campeão do Festival do Queijo Artesanal de Minas 2022. Organizado pelo Sistema Faemg e pelo Sebrae Minas, o evento terminou no domingo, dia 25, no Parque da Gameleira.
Em um negócio passado de pai para filho, o modo de fazer do Bela Vista foi preservado pelo produtor Renato de Sousa. Ele só criou uma marca para o queijo feito por seu pai, deu um nome e começou a participar de festivais. Sousa conta que, desde 2018, o Bela Vista Premium já faturou 15 prêmios, 11 deles no Brasil e quatro na França, uma das terras sagradas do queijo.
“Essa história começou com meu avô, que tirava somente leite. Quando ele pegou a fazenda para cuidar, as contas não estavam fechando vendendo leite, ele começou a produzir queijo. Produziu por muito tempo, mas nunca agregou valor, nunca pôs uma embalagem, um nome. Foi só em 2017 que bolamos uma marca, começamos a participar de concursos e fomos ganhando, até chegar aqui. E estamos tentando melhorar mais a cada dia”, conta Renato de Sousa, logo após receber mais um título.
Na Fazenda da família, em Alagoa, 25 vacas em fase de lactação fornecem a matéria-prima para o Bela Vista Premium, que tem sabor mais suave, próximo do parmesão, mas não tão picante, e uma massa cremosa.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
“Ele é maturado naturalmente na fazenda, num local alto e frio, a 1.500 metros de altitude, e com o amor de toda uma família”, conta Tailane Guedes, que cuida da parte comercial do negócio da família e é esposa de Renato. Ela diz que, hoje, a produção de 900 quilos por mês não dá conta da demanda, mas não há planos de ampliar. “A gente pensa que se aumentar muito vai perder o controle da qualidade. Igual hoje: a gente está aqui, e meu pai e minha mãe estão lá na fazenda tirando leite, fazendo tudo sozinhos”, acrescenta Renato de Sousa.
Tailane resume a importância de participar de um festival como o que terminou neste domingo, na Gameleira. “Com os prêmios, a gente agrega valor ao nosso produto, o que nos permite trabalhar um pouquinho menos”, brinca.
Ranking
O segundo lugar ficou com o Queijo Minas Artesanal (QMA) com maturação de 45 dias produzido na Queijaria Soberana, de Leandro Pereira, na região de Diamantina, um produtor que está em franca ascensão.
Em terceiro, houve empate. Um dos premiados foi o Queijo Jacuba, produzido por Maria Teresa Buari no município de Coronel Xavier Chaves, da região de Campo das Vertentes. O produto é feito com leite de vacas Jersey e, no ano passado, venceu o concurso estadual do QMA, promovido pela Emater. Também ficou em terceiro lugar na preferência do público o queijo do produtor Eudes Braga, de Carmo do Caranaíba, na região do Cerrado. Braga é o maior produtor de queijo de leite cru do Brasil.
Modos de fazer
Além de destacar os melhores produtores, o Festival do Queijo Artesanal de Minas de 2022 foi um marco para o setor por ter protagonizado o lançamento da candidatura dos “Modos de Fazer do Queijo Minas Artesanal (QMA)” para integrar a Lista Representativa do Patrimônio da Humanidade, chancelada pela Unesco. A assinatura e entrega do documento ao Ministério do Turismo ocorreu no sábado, em uma cerimônia que contou com produtores, especialistas e representantes dos governos estadual e federal.
Para o presidente do Sistema Faemg, Antônio de Salvo, o pedido de reconhecimento ao modo de fazer do queijo celebra o trabalho dos mineiros. “A importância para os produtores rurais é forte, mas, mais do que isso, o Brasil é um país que se orgulha pouco da cultura que tem. E esse ‘modo de fazer’, que é uma tradição do nosso queijo artesanal mineiro, pode e deve ser aceito como Patrimônio”.
O presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Roberto Simões, disse que a indicação como Patrimônio da Humanidade, com a chancela da Unesco, dá mais corpo ao produto. “As pessoas podem melhorar as suas vendas, que é o nosso grande objetivo, e melhorar a qualidade de vida das famílias”.
Objetivos que também são a premissa do Sebrae, segundo Simões. “Desde 2013, acompanhamos a temática do queijo, formando pessoas e melhorando o atendimento dos técnicos. E, assim, a gente vai junto com o Sistema Faemg, sempre no sentido de melhorar a vida dos produtores e das suas famílias com renda e mais qualidade de vida”.
Desejos que também são do vice-presidente da Amiqueijo, José Ricardo Ozório. “Temos muito caminho a percorrer e devemos acreditar que vamos sim partir para um momento melhor. Precisamos de mais inclusão dos pequenos produtores e trazer com esse reconhecimento traga mais condições de vendas e recursos que possam valorizar o produtor rural”.
Produtos do Serro são destaques em concurso
Quatro produtores de queijo minas artesanal da região do Serro, apoiados pelo Programa Crescer, da Anglo American, conquistaram cinco premiações no 2º Mundial do Queijo do Brasil. O queijeiro Aguimar Barbosa, do município de Serro, recebeu medalha de ouro na categoria um ano de maturação; Estela Mares, de Conceição do Mato Dentro, levou a prata na categoria 100 dias de maturação e o bronze na categoria 60 dias de maturação; Irenice Bicalho, também de Conceição do Mato Dentro, conquistou a medalha de bronze na categoria casca lisa com 20 dias de maturação; enquanto Neuza Pimenta, de Alvorada de Minas (MG), faturou o bronze na categoria 45 dias de maturação.
O sucesso dos queijos produzidos com apoio do Crescer nos municípios de Serro e de Conceição do Mato Dentro é um dos resultados das iniciativas da Anglo American no âmbito do seu Plano de Mineração Sustentável, dentro do pilar social, que prevê o estímulo ao desenvolvimento de comunidades prósperas.
O 2ª Mundial do Queijo foi realizado em São Paulo (SP), entre os dias 15 e 18 de setembro. A edição contou com a participação de mais de mil produtos de 12 países. Além dos produtores apoiados pelo Programa Crescer, outros quatro queijeiros da região do Serro participaram de forma independente do concurso, conquistando mais cinco premiações. No total, foram conquistadas dez medalhas, representadas por oito produtores de queijo minas artesanal da região do Serro.
“Eu não vejo essa premiação como um ganho só para mim. Acho que conquistar essas medalhas agrega valor aos produtos da região e, quando acontece isso, a gente consegue aumentar a renda de todos os produtores. O apoio da Anglo American e da TechnoServe, por meio do Crescer, é fundamental neste processo, já que com o suporte técnico a gente consegue produzir um produto melhor”, comemora Estela Mares, produtora do Queijo Dona Iaiá.
O Programa Crescer, da Anglo American, foi criado em 2013 com o objetivo incentivar o desenvolvimento socioeconômico dos municípios que acolhem o Minas-Rio, empreendimento de minério de ferro da mineradora. Atualmente, sua atuação está concentrada no fortalecimento das seguintes cadeias locais: leite e queijo, turismo, capacitação de jovens e apoio aos governos municipais em compras públicas locais. O programa também já atuou com desenvolvimento de apicultura, horticultura, quitandas e apoio a pequenos empresários locais. Todos os trabalhos são executados com o apoio da ONG TechnoServe Brasil.
“É muito gratificante ver que o nosso programa está cumprindo seu objetivo e contribuindo para que o queijo da Região do Serro seja cada vez mais reconhecido e valorizado em todo o mundo. Além dos prêmios, o evento contribuiu para apresentar os produtos apoiados pelo Crescer a novos mercados. Todo esse trabalho vai ao encontro do nosso propósito de reimaginar a mineração para melhorar a vida das pessoas, desenvolvendo comunidades cada vez mais prósperas”, destaca a analista de Performance Social da Anglo American, Isis Machado.
Ouça a rádio de Minas