Agronegócio

Produtores apostam em agricultura sustentável

Na Fazenda Indaiá, em Brumadinho, Lucas Sigefredo adotou o modelo agroflorestal, agregando valor aos produtos | Crédito: Arquivo pessoal/Lucas Sigefredo
Técnicas aplicadas melhoram o solo

Mesmo enfrentando desafios, os produtores de olerícolas do cinturão verde de Belo Horizonte seguem garantindo alimentos para a população urbana e investindo na produção cada vez mais sustentável.

Algumas propriedades vão além e passam a integrar os roteiros turísticos dos municípios. Com visitas agendadas, os turistas podem conhecer os sistemas de produção, técnicas sustentáveis aplicadas e a importância do trabalho do produtor rural. 

Em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o produtor Lucas Sigefredo adotou o modelo agroflorestal na Fazenda Indaiá. No modelo produtivo, é possível cultivar hortaliças e frutas com uma diversidade alta e, junto, plantar floresta.

“Planto floresta enquanto colho alimentos. Normalmente, a produção das olerícolas é feita em linhas de monocultura. Já na agrofloresta, a gente prepara as mesmas linhas, mas também planta cedro, jacarandá, entre outras espécies que irão ficar prontas para a colheita em cerca de 20 anos. Enquanto elas se desenvolvem, na mesma área, vamos colhendo diversas outras variedades de ciclos mais curtos, como a goiaba, mexerica, mamão, café, eucalipto, abacate, limão, banana, mandioca, tomate, entre outras”, explica o produtor.

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Na unidade, a variedade de produtos é grande e a colheita tem períodos diferenciados. Isso faz com que o solo fique coberto a maior parte do tempo. A cobertura constante do solo, além de melhorar a qualidade, evitando a lavagem pela chuvas ou a perda de umidade devido à exposição ao sol, permite a atração de predadores naturais, evitando o uso de produtos químicos para controle de pragas. 

“Não precisamos utilizar agrotóxicos, porque tem uma grande variedade de culturas que atraem os predadores naturais. No sistema agroflorestal, o solo está sempre coberto, pois na medida em que plantas maiores vão crescendo, vamos fazendo podas e essas podas são aproveitadas forrando os canteiros. Ao fazer isso, economizo água, porque a evaporação será menor, e também promovo a nutrição do solo pela decomposição orgânica. Isso, evita o crescimento de ervas espontâneas que não são de interesse. Outra vantagem é a melhoria da condição climática de temperatura do ambiente e do solo”. 

Além da produção sustentável, a diversidade de produtos cultivados permite uma receita constante. “Com o sistema, temos um fluxo de receita que é constante. Não preciso esperar a safra de uma única cultura para vender. Temos colheitas todas as semanas e todos os dias”.

A garantia de renda e o retorno financeiro são fundamentais para que a atividade seja perene. O produtor Lucas Sigefredo explica que, por ser uma produção sustentável, é possível agregar valor aos alimentos e fazer com que a demanda do mercado siga aquecida.

“Os preços dos nossos produtos são diferentes. As pessoas não estão comprando comida, estão comprando alimento e apoiam o propósito da agricultura regenerativa. Elas não precisam ser agricultores, no campo, para apoiar. Se priorizarem o consumo de alimentos mais saudáveis, elas apoiam o agricultor a permanecer no campo, a sustentar a atividade regenerativa”.

As olerícolas produzidas por Sigefredo são vendidas diretamente para os consumidores finais. Os produtos são comercializados em cestas semanais em Brumadinho, Nova Lima e Belo Horizonte.

“Com o aumento na produção – que deve crescer de forma gradativa a cada ano – a ideia é diversificar a clientela e atender também empresas que busquem por alimentos de qualidade e sustentáveis, como pousadas, hotéis, restaurantes e supermercados com pegada orgânica. Vamos ampliar o leque de produção e de clientes, mas vamos manter o atendimento aos consumidores que buscam pelas cestas”.

Em relação à produção mensal, que varia de acordo com a estação, em média são produzidos 200 quilos por mês, entre legumes, folhosas e frutas. Em quatro ou cinco anos, o objetivo é ampliar para duas toneladas por dia.

Público de Inhotim

Outra atividade desenvolvida na Fazenda Indaiá é o turismo rural de base comunitária, aproveitando o público que visita Inhotim.

“Oferecemos vivências e experiências para o público que vem visitar Inhotim e que está buscando o contato com natureza, observação de pássaros e que querem compreender de onde vem os alimentos. São várias as vivências possíveis que fazem parte do coletivo Céu de Montanhas. O projeto envolve vários empreendedores do setor privado de Brumadinho, que oferecem vivência em vários campos, como a cerâmica, gastronomia, passeios a cavalo, criação de abelhas, entre outros”.

Ainda segundo Sigefredo, abrir a propriedade para os turistas proporciona uma experiência rica, cheia de novidades, bonita para as famílias e que ajuda o produtor a ter mais uma fonte para diversificação da receita.

Proximidade com consumidor é diferencial

A proximidade com o mercado consumidor de Belo Horizonte é o grande incentivo para que os produtores rurais do cinturão verde continuem a investir na olericultura. A demanda elevada e a proximidade permitem que os produtos sejam comercializados a preços que geram rentabilidade e também sejam acessíveis aos consumidores.

Segundo o produtor João Paulo Amorim Henrique, da Fazenda Lambari, localizada na zona rural de Sarzedo, na RMBH, são vários os produtores que desenvolvem a atividade com o intuito de abastecer os centros urbanos, principalmente, Belo Horizonte, Nova Lima, Contagem e Betim.

“Na nossa região, a produção de hortaliças é destinada aos grandes centros e os principais municípios produtores são Mário Campos, Sarzedo, São Joaquim de Bicas, Igarapé, Nova Serrana, Matozinhos, Pedro Leopoldo e Confins. O cinturão verde produz praticamente todas as folhosas que abastecem a Capital e os municípios próximos”.

Entre os itens mais cultivados na Fazenda Lambari estão os vários tipos de alface, couve, almeirão, mostarda, variedades de brócolis, espinafre, acelga, salsa, cebolinha, entre outros.

Um dos principais desafios enfrentados é o clima. O calor e as chuvas de verão prejudicam as folhosas. Já nos períodos mais frios e secos, a restrição hídrica compromete a irrigação. 

“A produção no cinturão é forte porque está muito próxima a Belo Horizonte. O clima não é tão bom para a produção de verduras, que se desenvolvem melhor em clima frio. Mas, por estarmos perto, a logística funciona bem”.

João Paulo Amorim Henrique, da Fazenda Lambari, no município de Sarzedo, produz vários tipos de hortalicas | Crédito: arquivo pessoal/João Paulo Amorim

Cobertura do solo

Para minimizar os impactos do clima, o produtor sempre está em busca de alternativas. Na Fazenda Lambari, Amorim explica que tem investido na cobertura do solo.

“O que temos feito e que vem apresentando resultados positivos é o plantio das hortaliças por cima da palhada, da cobertura vegetal. Semeamos o capim para cobertura, cortamos e quando ele seca, plantamos por cima. O solo fica mais úmido e frio, isso ajuda no controle de pragas e no manejo geral. É uma forma de proteger o solo da chuva e do sol”.

Para Amorim, ainda é preciso avançar nas tecnologias para a produção de hortaliças. Por haver pouca opção de mecanização, o trabalho é árduo e exige mão de obra, o que é cada vez mais escasso. 

“Observando a região, é possível notar que as hortas estão reduzindo. A gente vê poucos jovens atuando nas lavouras. A sucessão familiar tem reduzido, assim como o ingresso de novos produtores. Para o futuro da produção, a mecanização será necessária para facilitar o trabalho e atrair mais gente”, disse.

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