Agronegócio

Produtores do Queijo Minas Artesanal esperam ampliar mercados com reconhecimento da Unesco

Primeiro produto da cultura alimentar do Brasil a ter “Os Modos de Fazer” reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, Queijo Minas Artesanal terá que ter novas estratégias de mercado
Produtores do Queijo Minas Artesanal esperam ampliar mercados com reconhecimento da Unesco
Produção anual de QMA no Estado gira em torno de 40 mil toneladas | Crédito: Divulgação Seapa

Primeiro produto da cultura alimentar do Brasil a ter os “Modos de Fazer” reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Queijo Minas Artesanal (QMA) tende a conquistar novos mercados. Produtores da iguaria comemoram o reconhecimento e esperam avanços importantes no fortalecimento econômico, social e também na solução dos gargalos enfrentados. 

O Queijo Minas Artesanal é produzido há muitas gerações e representa a mineiridade. Em Minas Gerais, são cerca de nove mil produtores de Queijo Minas Artesanal, uma atividade que gera aproximadamente 50 mil empregos diretos e indiretos. A produção anual do QMA gira em torno de 40 mil toneladas e movimenta mais de R$ 2 bilhões ao ano em renda para os produtores. 

No Estado, o QMA é o tipo de queijo artesanal mais produzido. Ele é feito a partir de leite cru, em pequenas propriedades rurais, utilizando receitas tradicionais e familiares. Atualmente, 15 regiões de Minas Gerais produzem queijos artesanais, sendo que deste total, 10 regiões são do Queijo Minas Artesanal. As regiões são a de Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Diamantina, Entre Serras da Piedade ao Caraça, Serra do Salitre, Serras da Ibitipoca, Serro e Triângulo Mineiro.

Benefícios

Conforme o presidente da Associação Mineira do Queijo Artesanal (Amiqueijo), presidente da Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (APACS) e produtor do Queijo Do Vau Minas Artesanal, José Ricardo Ozolio, o reconhecimento trará muito benefícios para os produtores.

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“A alegria é enorme saber que o modo que fazemos o queijo, com amor, com cultura, que passamos para os nossos filhos e recebemos dos nossos pais é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. É uma satisfação inigualável. Além disso, esperamos que muitas portas se abram, no sentido de chegar tecnologia, cursos e recursos, tanto financeiro como institucionais, para que a gente possa se desenvolver como produtor”, explicou Ozolio.

Ainda segundo Ozolio, também é esperada maior valorização do QMA, o que virá do crescimento do mercado e do maior volume a ser comercializado. “Esperamos que o reconhecimento favoreça o crescimento do mercado para o queijo, proporcionando uma melhor comercialização e em mais quantidade. Pelos produtores serem de menor porte, enfrentamos muitos problemas de logística e de comercialização, e acredito que esse momento será bem favorável para que essas dificuldades sejam exauridas”. 

O produtor José Ricardo explica que os produtores do QMA entendem muito bem o processo de elaboração do queijos, mas, que precisam do apoio dos governos e também das diversas entidades para avançar na cadeia como um todo.

Entre os principais problemas enfrentados está a dificuldade de capacitar e formar mão de obra. Apesar da maior parte da produção do QMA ser familiar, a tendência é que o mercado cresça e que surjam oportunidades de empregos para ampliar a produção. Assim, a capacitação será essencial para manter a tradição da produção e a qualidade superior dos queijos. 

“Nós temos problemas gigantes na mão de obra. Somos pequenos, com produção familiar, então, tendo mais capacidade de venda, precisaremos de mais capacidade e produção. Então, vamos empregar mão de obra, que precisa ser treinada, capacitada e preparada. Assim terá condições de repetir o processo familiar. Então, é uma questão cultural também”.

Logo após o anúncio da Unesco, a procura pelo QMA aumentou e a tendência é que cresça ainda mais. Conforme Ozolio é preciso estar preparado para atender o mercado. “Vamos precisar, junto com as instituições e associações representativas, construir estratégias para podermos atender com bom senso, qualidade e entregar aquilo que a sociedade espera da gente, um queijo com qualidade e respeito que merece”. 

Reconhecimento do Queijo Minas Artesanal (QMA) pela Unesco valoriza produtores

A produtora de Lúcia Oliveira, que junto com o marido Ivair Oliveira, produzem em São Roque de Minas, na Região da Canastra, o Queijo do Ivar comemora a decisão a Unesco e ressalta que o reconhecimento do Queijo Minas Artesanal (QMA) como como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade valoriza e incentiva os produtores a avançarem cada vez mais. 

“A decisão da Unesco vai favorecer pequenos produtores de QMA. Ela nos dará mais força para produzir cada vez com mais vontade, vai nos resguardar e consolidar ainda mais o produto de qualidade que temos. Além disso, vai mostrar para o mundo inteiro que nós,  produtores de Minas Gerais, temos queijo de qualidade e que sabemos produzir. O produtor, quando valorizado, trabalha com mais vontade e tem mais ânimo para luta diária, que não é fácil. Todo reconhecimento que temos é sempre bem vindo”, disse.

Ainda segundo Lúcia, o reconhecimento reforça e ressalta a importância dos trabalhos desenvolvidos pelos antepassados. “O trabalho que foi desenvolvido há muitos anos e passa de geração para geração foi reconhecido pela Unesco. É uma glória, é uma coisa muito boa. O mundo inteiro vai nos enxergar”.

Lúcia Oliveira
Lúcia Oliveira: mundo inteiro vai nos enxergar | Crédito: Reprodução Instagram Queijo do Ivair / Nereu Jr.

A produção do Queijo do Ivair gira em torno de 30 peças por dia, somando cerca de 900 queijos por mês. A iguaria foi pioneira do Queijo Minas Artesanal de Casca Florida Natural, que, este ano, foi regulamentado pelo governo de Minas Gerais.

Legislação avança

A família de Lúcia, a princípio, produzia o Queijo Minas Artesanal casca lisa, mas, a partir de 2015, os queijos começaram a mofar de forma natural. Com um produto diferenciado, os produtores optaram por produzir somente o casca florida. 

“Esse ano foi muito especial para nós, porque foi feito o regulamento do QMA de Casca Florida. Estamos trabalhando regulamentados, foi um marco para nossas história. A regulamentação do Casca Florida e o reconhecimento do QMA pela Unesco foram avanços muito importantes para os produtores”. 

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