Agronegócio

Queimadas devem impactar preço do etanol em 2025; entenda

O cenário coloca produtores e agentes de usinas em estado de alerta até que os impactos possam ser entendidos de forma mais clara
Queimadas devem impactar preço do etanol em 2025; entenda
Crédito: Cristiano Machado / Imprensa MG

A onda de incêndios no interior do estado de São Paulo, que também se espalha pelo Brasil, piorou a situação das lavouras de cana-de-açúcar, que já vinham registrando perdas desde abril por causa da seca. Com isso, o preço do etanol poderá ser afetado no futuro, segundo especialistas. O cenário coloca produtores e agentes de usinas em estado de alerta até que os impactos possam ser entendidos de forma mais clara.

Especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), afirmam que as queimadas afetarão os preços do etanol, mas que ainda é cedo para cravar a proporção.

Segundo os especialistas, os agentes de usinas se afastaram das negociações no início da semana e estão em posição de cautela tentando entender quais serão os possíveis impactos. Além disso, o indicador utilizado pelo Cepea para monitorar semanalmente os combustíveis, como o etanol, só será divulgado nesta sexta-feira (30). Até lá, não é possível observar nenhuma reação no mercado.

O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig/Bioenergia), Mário Campos diz que ainda não consegue prever se os preços do etanol serão impactados. Para ele, a dinâmica do mercado envolve muitos fatores, por isso, acredita que para esse ano, os efeitos serão poucos na oferta de etanol a partir da cana.

O cenário em 2025, no entanto, pode ser outro. “Para o ano que vem já acredito que teremos problemas com a oferta de etanol a partir da cana em função da grande seca. Os incêndios somente potencializam essa perda para a próxima safra”, comentou Campos.

A mesma percepção tem o professor de Ciências Contábeis e diretor da Estácio Floresta, Alisson Batista. Na visão dele, os impactos serão sentidos na safra que será colhida em 2025. Por isso, o motorista que abastece com etanol não precisa se preocupar com a elevação dos preços agora.

“Num primeiro momento, no ano de 2024 principalmente, a gente não vai ver um aumento do preço do etanol, que já está bastante estabilizado. Tivemos o reflexo da modificação no preço das bombas de gasolina, que impactou no preço também do etanol em virtude de uma questão econômica de oferta e demanda, e não haverá reflexos este ano”, diz.

De fato, o aumento da inflação da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), divulgada nesta terça-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) da região avançou 0,29% em agosto e tem maior inflação acumulada do País (4,35%). 

O maior impacto veio justamente do grupo de transporte, que registrou variação de 1,43% em relação a julho, puxada pela alta dos preços dos combustíveis, sobretudo, do etanol, que avançou 5,59% na região.

Reajustes especulativos são possibilidades

De acordo com o professor de Finanças Gilberto Braga, da Ibmec Rio, houve efetivamente perda nas culturas de cana de açúcar da região de Ribeirão Preto e adjacências. “Obviamente isso pressiona o preço do etanol, mas ainda é cedo para dizer que isso vai acontecer”, enfatiza.

Na visão dele, há possibilidade de reajustes especulativos por conta de produtores e de revendedores neste momento, já que ainda não se detectou e não se tem conhecimento de aumentos relevantes no preço do produto..

O discurso oficial é de que os estoques existentes são suficientes para manutenção de preços no curto prazo. “É preciso ainda analisar as repercussões, até porque se espera que o mês de setembro seja também de seca, então há a possibilidade de novas queimadas. É uma situação que precisa ser reanalisada mais para frente”, acredita.

O professor da área de Gestão do Centro Universitário Una, Stênio Afonso, explica que como São Paulo é um dos maiores produtores e distribuidores de açúcar e etanol do País, eles começam a sofrer com a perda de matéria-prima. “As queimadas podem atingir ainda mais estes locais, acabando com uma safra inteira e fazendo com que falte matéria-prima no mercado no futuro, o que pode acarretar no aumento do preço do etanol e até da gasolina”, avaliou.

O coordenador do curso de Economia do Ibmec Belo Horizonte, Ari Francisco, avalia que os preços sofrerão alta já nas próximas semanas. Isso porque a seca e as queimadas reduziram a oferta de insumos, o que encarece o preço do produto final. “Difícil saber o momento em que isso vá aparecer já nas próximas semanas. A produção que começaria em outubro, provavelmente vai ser antecipada para minimizar essas perdas, e o impacto do preço deve vir nos próximos dias ou nas próximas semanas”, acredita.

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