Agronegócio

Após recorde em 2024, safra de azeitonas deve cair mais de 50% em Minas

Na Serra da Mantiqueira, expectativa de produção gira em torno de 75 mil litros de azeite neste ano. O número é metade do resultado registrado em 2024
Após recorde em 2024, safra de azeitonas deve cair mais de 50% em Minas
Colheita na região já começou, mas impactos climáticos foram fortes na Serra da Mantiqueira Crédito Mariane Ribeiro Olivais Gamarra

Após o recorde de produção em 2024, a safra de azeitonas em Minas Gerais enfrentará uma queda que pode ultrapassar 50% em 2025. O impacto é atribuído principalmente a fatores climáticos, como o longo período de estiagem e temperaturas mais elevadas que o normal, influenciando diretamente na perda de florada das oliveiras.

Com 65% do território em Minas Gerais, a Serra da Mantiqueira, uma das principais regiões produtoras de olivicultura no Brasil, espera produzir, pelo menos, 75 mil litros de azeite neste ano. O número é metade do resultado registrado em 2024, quando somou 150 mil litros.

A região conta atualmente com 200 produtores que cultivam centenas de oliveiras em um território de aproximadamente 3 mil hectares. Para atender à demanda, 40 agroindústrias processadoras de azeite se instalaram na região, que hoje possui cerca de 90 marcas locais, algumas reconhecidas internacionalmente pela qualidade dos produtos.

Olivais Gamarra
Olivais Gamarra foi afetado com baixa produção e foca agora no turismo na bela fazenda | Crédito: Divulgação Olivais Gamarra

De acordo com o pesquisador e coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig, Pedro Moura, a região, apesar de não ser nativa para o cultivo, conseguiu se adaptar bem em relação ao solo brasileiro, entretanto, é dependente das condições climáticas locais. “Dependendo da condição climática do ano anterior, a produção tende a oscilar. Em 2022, foram 120 mil litros, em 2023 a safra baixa caiu pela metade, voltou a crescer em 2024 e recua novamente neste ano”, explica.

Além da adaptação das plantas ao clima, doenças nos olivais, alta de impostos, especialmente do azeite, também estão entre os desafios persistentes para o cultivo de azeitonas em Minas Gerais e no Brasil. A produção local, segundo Moura, ainda é recente e, por isso, é focada no consumo interno com comercializações voltadas para empórios e mercados especializados.

Para contornar esses desafios, o pesquisador relata que a Epamig vem conquistando recursos para viabilizar avanços em pesquisas, especialmente focadas na adaptação das plantas às mudanças climáticas. “Melhoramos muito os investimentos em pesquisas para diversas culturas, que vão estudar tecnologias para melhorar a produtividade da plantas do campo, em segmentos como adubação, fisiologia vegetal, botânica, produção sustentável para controle de pragas e doenças, além da adaptação com relação às mudanças climáticas”, pontua.

Na olivicultura, Moura destaca que já existem mais de 20 projetos em desenvolvimento e que, nos próximos anos, haverá tecnologias para melhorar o cultivo da planta. Dentre os projetos, estão pesquisas voltadas para a adaptação das plantas ao clima local, tecnologias de processamento de agroindústria para melhor rendimento da produção do azeite e análises de qualidade e sensoriais para melhorar qualidade dos produtos.

“Graças às pesquisas feitas ao longo dos anos e a forte contribuição dos produtores, o azeite nacional produzido em Minas Gerais é reconhecido internacionalmente pela excelente qualidade”, destaca.

Turismo é fundamental para o desenvolvimento da olivicultura

Além disso, os produtores de azeitonas têm investido no olivoturismo para atrair turistas às belíssimas fazendas em Minas Gerais e, com isso, aproximá-los da produção e diversificar fontes de receita para os negócios. Experiências como visitas às fábricas, degustações guiadas de azeites e atividades relacionadas à cultura do produto estão se consolidando como uma forma de manter a atratividade econômica da região.

Em Baependi, na Serra da Mantiqueira, a olivicultora e diretora da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), Vanessa Bianco, avalia que as condições climáticas no ano passado impediram o desenvolvimento dos frutos nas oliveiras para 2025. Pela primeira vez em dez anos, não haverá produção comercial na Olivais Gamarra, que cultiva 1.500 árvores de oliveiras das variedades Arbequina, Koroneiki, Grappolo, Coratina, Picual e Maria da Fé, colhendo anualmente de 500 a 600 litros de azeitonas.

Vanessa Bianco e o marido, Cláudio Álvares Ferreira
Vanessa Bianco e o marido, Cláudio Álvares Ferreira, são olivicultores em Baependi | Crédito: Vanessa Bianco / Olivais Gamarra

Com projeções de retomada da produção apenas em 2026, o espaço se mantém focado em visitas turísticas que, além das degustações e visitas à fábrica, também conta com uma bela paisagem por estar situada no entorno do Parque Estadual da Serra do Papagaio. “O turismo é fundamental para a olivicultura acontecer. As visitas e degustações continuarão acontecendo graças aos produtores amigos, que terão produções feitas especialmente para a nossa marca”, destaca a produtora.

Para o futuro, as expectativas são otimistas, embora apreensivas com relação ao impacto dos efeitos climáticos no local. “Ficamos apreensivos com as mudanças climáticas, mas ao mesmo tempo esperançosos para retornamos com excelentes produções no próximo ano”, finaliza Vanessa Bianco.

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