Agronegócio

Safra de grãos em Minas é favorecida por chuvas

Maior volume pluviométrico tem ajudado, entre outros, na recuperação dos cafezais no Estado, que em 2021 sofreram com seca e geadas
Safra de grãos em Minas é favorecida por chuvas
Foto: José Gomercindo/ANPr

As chuvas abundantes registradas nas últimas semanas em Minas Gerais estão contribuindo para o bom desenvolvimento da produção da safra de  grãos 2021/22. Além disso, o maior volume pluviométrico tem favorecido a recuperação dos cafezais atingidos pela seca e geadas em 2021, o que deve impactar de forma positiva a safra 2023 do grão. A avaliação é do Radar Agro – Atualização dos Impactos Climáticos no Agro, produzido pelo Itaú BBA.

Em relação à cotação dos produtos, a situação é de preços firmes, com tendência de alta na soja e no milho, uma vez que a safra no Sul do País vem sendo prejudicada pela seca e já impacta o mercado. A valorização nos preços dos grãos frustra a pecuária, principalmente, a produção de suínos e aves, que esperavam custos mais acessíveis com a maior safra de grãos em 2022. No caso do café, a tendência é de alta devido à baixa oferta. 

De acordo com o consultor de Agronegócio do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, as principais regiões produtoras de grãos em Minas Gerais vêm recebendo volumes de chuvas que são positivos para o desenvolvimento das culturas.

Até o momento, os impactos são favoráveis e o Estado caminha para uma produção maior, principalmente, de milho e soja. No caso do café, as chuvas ajudam na recuperação das  lavouras, mas o efeito só será sentido em 2023.

“No café, avaliando a safra que será colhida este ano, as chuvas não ajudam mais. Isto pela florada já ter acontecido. Foi uma florada bonita, mas com pegamento ruim devido à seca. As geadas também afetaram a produção em algumas regiões. Com os problemas climáticos, as lavouras estão debilitadas e a safra não deve ser boa, mas pode ser um pouco maior que a do ano passado pela bienalidade positiva”, explicou Alves.

Na safra passada, conforme  o 4º Levantamento da Safra 2021 de Café, elaborado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a bienalidade negativa combinada com o clima adverso fez com que a produtividade total das lavouras cafeeiras recuasse 32,1% em Minas Gerais, chegando a um rendimento médio de 22,6 sacas de 60 quilos por hectare.

O impacto positivo das chuvas atuais será sentido somente em 2023. “As chuvas contribuem para encher mais os grãos na safra 2022 e jogam uma luz sobre a safra 2023. As lavouras estão super enfolhadas, se recuperando da seca e prontas para 2023. Também há uma recuperação dos reservatórios para quem utiliza irrigação. Para a safra 2022 não resolve, mas para 2023 é boa. Com as chuvas, produtores enfrentam mais dificuldades no controle de doenças e, em algumas regiões, aumento das erosões, mas que não causam grandes impactos”, disse.

Em relação aos preços, com a baixa oferta combinada com o dólar valorizado, o que estimula os embarques, a tendência é de mercado firme. Os preços do café arábica estão em torno de R$ 1.500 por saca de 60 quilos, ante os cerca de R$ 600 praticados em igual período de 2021.

“Os preços tendem a se manter firmes e com tendência de novas altas até a normalização da oferta”, completou.

Sequência de dias nublados acende alerta

Apesar dos benefícios das chuvas regulares, de acordo com o consultor de Agronegócio do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, há receio em relação à luminosidade, que vem sendo prejudicada pelos dias mais nublados, podendo impactar o desenvolvimento. 

“Quando se tem dias chuvosos acompanhados de abertura de sol, a planta agradece, faz boa fotossíntese e tem água. Excesso de chuvas com dias nublados pode prejudicar. Não tem nada impactando até aqui, mas a chuva está um pouco acima da conta. Por enquanto, em Minas, não é nada preocupante. Talvez afetando o feijão, que é mais sensível e Minas é produtor, podendo perder qualidade”, explicou.  

No caso da soja, a safra vem se desenvolvendo bem. De acordo com a Conab, a projeção é de que a colheita em Minas chegue a 7,15 milhões de toneladas, crescimento de 1,8% em relação à safra anterior. Os dados apontam uma área plantada de 1,92 milhão de hectares, avanço de 1,5% ante a temporada 2020/21 (1,89 milhão de hectares). A produtividade vem se mantendo próxima à estabilidade, passando de 3,69 toneladas/ha na safra passada para 3,70 toneladas/ha na atual.

Em relação aos preços, os mesmos estão em alta, mas a variação não é suficiente para acompanhar o aumento dos custos de produção. No Triângulo,  a saca de 60 quilos de soja está cotada  a R$ 170, 5% acima do valor praticado em igual período do ano anterior. 

O desenvolvimento do milho também vem sendo estimulado pelas chuvas no Estado. Os preços do cereal também estão mais altos, em função das perdas esperadas no Sul do País. Na região do Triângulo, a saca de 60 quilos é negociada a R$ 88, 15% superior ao valor praticado em igual período do ano passado. 

O aumento dos preços é favorável para os produtores, que tiveram a margem achatada, se comparada com 2021, em função da alta dos insumos. Já para os pecuaristas, a situação é desfavorável. A estimativa era de custos mais acessíveis em função de uma safra de grãos maior. A avicultura e a suinocultura são as mais afetadas com a alta dos grãos. 

“O produtor que precisa comprar milho, as granjas de aves e suínos, terão custos mais elevados do que esperavam. Apesar de a safra mineira de grãos ser, possivelmente, boa, o Brasil como um todo está indo em direção contrária, com perdas relevantes. Fazendo com que os preços subam aqui também”, destacou Alves.

No caso da pecuária de leite, a alta do milho é compensada, em parte, pela recuperação das pastagens. Mas o setor, segundo Alves, enfrenta quedas de produção, uma vez que a margem está ruim para o produtor e insuficiente para cobrir os custos de produção em alta. Outro problema é o consumo, que continua fraco e impedindo a valorização do leite.

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