Agronegócio

Intempéries climáticas comprometeram café até a safra 2026

Pesquisa realizada com cafeicultores atendidos pelo ATeG mostrou que 90% foram afetados; situação mais grave ocorre no Cerrado e Sul de Minas, maiores produtores do grão
Intempéries climáticas comprometeram café até a safra 2026
Cafezais tiveram menor pegamento dos chamados “chumbinhos” e houve comprometimento vegetativo para 2025 e 2026 | Crédito: Divulgação Emater-MG

Em 2024, as altas temperaturas combinadas com a estiagem prolongada, que em algumas regiões durou cerca de seis meses, impactaram de forma negativa na produção de café em Minas Gerais. Uma pesquisa feita pelo Sistema Faemg Senar, com cafeicultores atendidos pelo Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) mostrou que cerca de 90% deles foram afetados pelas intempéries climáticas ao longo de 2024.

Com isso, a estimativa é de que a safra de café mineira fique realmente menor em 2025, podendo a queda – frente a safra passada – superar os 11,6% estimados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

A pesquisa, feita entre 16 de dezembro de 2024 e 20 de janeiro de 2025, ouviu 2.298 produtores de diversas regiões do Estado. Da área total cultivada por eles, 71% foram afetadas. As lavouras sofreram com as altas temperaturas e o déficit hídrico.

Os efeitos do clima nas lavouras de café provocaram uma maior desfolha, abortamento da florada acima da média, menor pegamento de chumbinhos e comprometimento vegetativo para as safras de 2025 e também para a de 2026.

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Conforme a analista de agronegócio do Sistema Faemg Senar, Ana Carolina Gomes, o cenário é bastante preocupante. “Havia uma sinalização de que a safra 2025 seria desafiadora e agora a pesquisa veio confirmar esse cenário. É uma situação preocupante uma vez que os produtores que recebem assistência técnica tiveram problemas grandes, então,  imagina o cafeicultor que não recebeu assistência, o problema pode ser maior ainda”, disse. 

Clima adverso afetou todas as regiões produtoras de café

O levantamento do Sistema Faemg mostrou que os impactos das intempéries climáticas ocorreram em todas as regiões cafeeiras do Estado. A situação mais grave ocorre no Cerrado e Sul de Minas, as maiores produtoras do grão.

No Cerrado Mineiro as lavouras comprometidas chegam a 89% do total, seguido pelo Sul de Minas, com cerca de 76% dos cafezais impactados. Na Chapada de Minas o índice de cafezais afetados é de 66% e Montanhas de Minas – que compreende as Matas de Minas e a região do Caparaó – de 51%. 

Conforme Ana Carolina, esta primeira etapa da pesquisa analisou os impactos do clima nas floradas do café. A segunda etapa, que já está em campo, vai levantar as estimativas de perdas em volumes. O resultado deve sair em março.

“Os números já levantados trazem um sinal de alerta. Em 2024, tivemos altas temperaturas e uma estiagem muito grande que em algumas regiões durou cinco, seis meses. Isso gerou grande déficit hídrico nas plantas. Há relatos de perdas de plantas, com a morte de mudas mais novas. Cerca de 27% dos produtores ouvidos também tiveram que fazer algum tipo de manejo de poda não programada. Isso, indica uma exaustão da planta e um baixo potencial dela produzir em 2025”.

Ainda conforme Ana Carolina, o percentual de podas não programadas é alto, o que impactará de forma negativa no volume da safra de café. “Isso indica que podemos ter, em 2025, uma perda produtiva maior que a estimada pela Conab, que é de 11,6% em Minas Gerais”.

Preços seguirão em alta

Diante da perspectiva de perdas ainda maiores na safra de café e diante de um mercado com pouca oferta e consumo crescente, a tendência é que os preços do café continuem elevados.

“São cinco safras consecutivas de perdas. Então, o mercado reflete isso, fazendo com que haja altas recordes nos preços pela oferta reduzida, estoque enxutos e consumo crescente. Até o momento, não há expectativa de melhoria neste cenário”. 

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