Sem vacinação, pecuária pode ampliar ganhos em Minas

A suspensão da vacinação contra a febre aftosa, a partir de 2023, traz boas perspectivas para o setor produtivo de Minas Gerais. Assim que reconhecido como livre da doença sem vacinação pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), processo que pode demorar até 24 meses, o Estado fica apto a buscar novos mercados que, hoje, pagam mais pela carne, mas exigem o status de livre de aftosa sem vacinação para manter relações comerciais, como o Japão e a Coreia do Sul. A última etapa da vacinação em Minas Gerais ocorrerá em novembro, quando todos os bovinos e bubalinos receberão a dose.
A permissão para suspender a vacina contra a febre aftosa no ano que vem veio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e é válida para seis estados e o Distrito Federal.
A medida entrará em vigor após a última etapa de vacinação deste ano, a ser realizada em novembro, e abrange as unidades da federação que integram o Bloco IV do Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PE-Pnefa). São elas: Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins e Distrito Federal. Ao todo, aproximadamente 113 milhões de bovinos e bubalinos deixarão de ser vacinados, o que corresponde a quase 50% do rebanho total do País.
De acordo com o coordenador estadual do Programa de Vigilância para a Febre Aftosa, o médico veterinário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Natanael Lamas Dias, a suspensão da vacina faz parte do projeto de ampliação de zonas livres de febre aftosa sem vacinação no País. Para que isso aconteça, os estados devem cumprir uma série de requisitos previstos no Plano Estratégico, que está alinhado com as diretrizes do Código Terrestre da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE).
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“Existem 102 ações que precisam ser atendidas, sendo que 42 são de competência de cada unidade federativa. No dia 26 de abril, houve reunião do bloco IV com todos os estados e o Mapa apresentou a avaliação de cada unidade federativa. Minas Gerais, o Distrito Federal e mais cinco estados foram autorizados a suspender a vacinação a partir de 2023. Para que isso ocorresse, foram atendidas todas as 42 exigências, que incluem, por exemplo, o georreferenciamento das propriedades e um fundo de defesa privado ou público”, disse.
Os critérios estabelecidos pelo Mapa também incluem exames comprovando a ausência da circulação do vírus no rebanho, cobertura vacinal acima de 95% e a estruturação física e de pessoal nas unidades de vigilância.
Ainda segundo Dias, para garantir a fiscalização e o serviço de vigilância em Minas Gerais, estão sendo feitos investimentos na estrutura do IMA e capacitação dos profissionais. Também está previsto um concurso público para reforçar o quadro técnico da instituição.
Com repasses do Governo de Minas, serão aplicados R$ 42,2 milhões na modernização de estruturas e fortalecimento das atividades realizadas pelo IMA. O recurso é proveniente do Termo de Reparação de Brumadinho firmado pelo Estado com a mineradora Vale. O valor está sendo destinado à renovação da frota e melhorias nas unidades administrativas e nas barreiras de fiscalização sanitária.
Maior produtividade e economia são esperadas
O superintendente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Altino Rodrigues Neto, ressalta que a suspensão da vacina contra a febre aftosa é uma vitória histórica do Estado e dos pecuaristas.
“Estamos em um momento histórico. Depois de mais de 60 anos de vacinação e controle da doença, estamos erradicando a aftosa. Passamos para um novo patamar, estamos na prateleira de cima em termos mundiais em relação à parte sanitária. A febre aftosa tem esse poder de fazer com que países sejam melhor classificados, pela dificuldade que é erradicar a doença. É um feito realmente histórico”, avaliou.
Ainda segundo Rodrigues, além de abrir a oportunidade de exportar para outros países, que exigem o reconhecimento de livre da aftosa sem vacina e pagam mais pela carne, o pecuarista tem uma economia imediata. Isso porque não haverá gastos com a compra da vacina e a parte operacional do manejo do gado para vacinar.
Além disso, não haverá mais impacto na produtividade das vacas, que reduzem a produção de leite logo que vacinadas. No setor de corte, segundo Dias, por conter óleo, a vacina pode causar uma lesão e, com isso, após o abate, é perdida uma grande parcela da carne.
“Então a retirada da vacina contra a febre aftosa gera economia de recursos e diminui prejuízos e o produtor poderá investir mais no controle de outras doenças e zoonoses. Vai conseguir acessar mercados melhores, não só da carne, mas também de outros produtos, como a soja citrus”.
Altino explica ainda que Minas Gerais está preparado para a suspensão da vacina, já que conta com um sistema de vigilância sanitária efetivo e que vem sendo aprimorado com investimentos.
“Com a retirada da vacina, vai aumentar muito o controle sanitário, a vigilância passa a ser ainda mais rigorosa com trânsito de animais, aglomerações de animais em leilões, suspeitas de doenças. E o produtor passa a ter papel mais relevante ainda porque passa a ser o primeiro agente a identificar uma possível reintrodução no Estado e no País. O produtor terá o papel mais preponderante no processo”, destacou.
Outro ponto fundamental é o Fundo de Defesa Sanitária do Estado de Minas Gerais (Fundesa), que tem recursos para dar suporte às ações de defesa sanitária, ao produtor, prevenir e combater doenças que possam acometer os rebanhos de Minas Gerais.
“Estamos implantando o fundo, mas com algumas dificuldades ainda em relação aos frigoríficos do Estado que ainda não entenderam o papel importante no processo. Estas indústrias serão muito beneficiadas com a retirada da vacina, com a possibilidade de abertura de mercados e agregação de valor. É importante ter a participação dos frigoríficos mineiros. O custo é muito baixo, são R$ 0,70 a cada animal abatido, que tem valor médio de R$ 6 mil. Todo o recurso é revertido em benefícios ao setor”, explicou.
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