Setor de fertilizantes cresce no Brasil, mas ainda depende da importação

O setor de fertilizantes registrou 129 novas empresas operando no Brasil entre os anos de 2020 e 2024. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), o setor está passando por um momento de crescimento e renovação. No entanto, a dependência do País na importação desse produto segue sendo motivo de preocupação no mercado nacional.
O levantamento identificou 872 empresas ativas atuando na produção e importação de fertilizantes, o que demonstra o dinamismo e a expansão desse mercado nos últimos anos. Dentre elas, 129 estão sediadas em Minas Gerais, o equivalente a 13% do total. O Estado é o terceiro em número de empresas, ficando atrás de São Paulo (345) e Paraná (131).
Entre as novas empresas, o estudo destaca aquelas voltadas à produção de fertilizantes organominerais e orgânicos, reflexo da crescente demanda por tecnologias alinhadas à sustentabilidade e ao uso eficiente dos recursos naturais. Além disso, mais de 75% das empresas iniciaram suas atividades após o ano 2000, sinalizando uma indústria jovem, inovadora e em plena expansão.
Confira a diversidade de portfólios entre as companhias brasileiras:
- 718 empresas atuam com fertilizantes minerais,
- 388 com organominerais,
- 476 com orgânicos
- e 11 empresas com biofertilizantes.
Outro destaque é a variedade de modos de aplicação contemplados por essas empresas. Das 872 entidades identificadas, 687 têm produtos para aplicação via solo, 547 via folha, 126 via sementes, 160 via fertirrigação e 31 via hidroponia. Os números mostram a capacidade do setor em oferecer soluções adaptadas às diferentes realidades do campo.
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Mercado consumidor e dependência da importação de fertilizantes

O anuário publicado pela Abisolo ainda aponta que a soja segue na liderança como maior mercado consumidor de fertilizantes especiais no Brasil, respondendo por 44,1% da demanda interna. Em seguida aparece o milho, com 13,2% das vendas em 2024.
Na análise por estados brasileiros, Minas lidera o ranking como maior mercado consumidor deste tipo de produto do País, com 18,2% da demanda. Outros destaques são São Paulo e Mato Grosso, com 16,7% e 13,6%, respectivamente. Ao todo, nove estados (Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Espírito Santo) respondem por 87% do consumo no Brasil.
Já as revendedoras e distribuidoras são os principais clientes das empresas do setor, com 50,4% das vendas de fertilizantes especiais destinadas para esse grupo. Os produtores respondem por 33,5% do mercado, enquanto as vendas para cooperativas representaram 16,1% do total no ano passado.
Ao mesmo tempo em que é um dos principais mercados consumidores de fertilizantes no mundo, o Brasil também sofre com uma grande dependência da importação de fertilizantes. O conselheiro da Abisolo, Giuliano Pauli, ressalta que o País é um dos grandes mercados importadores, com mais de 85% dos produtos consumidos no Brasil sendo de origem estrangeira. Portanto, o mercado interno segue sendo altamente dependente de países produtores como Marrocos, Canadá, Israel e Rússia.
Esforços para aumentar a autonomia nacional
Há um projeto em desenvolvimento pelo governo federal, que tem como objetivo aumentar a participação da produção nacional no mercado brasileiro: o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). O programa possui algumas metas e ações a serem realizadas até 2050 visando a diminuição da dependência do Brasil na importação deste tipo de produto.
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Giuliano Pauli observa que o mercado brasileiro ainda produz poucos nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), que são os mais utilizados na agricultura. No entanto, ele reforça que o PNF possui uma série de iniciativas voltadas também para as cadeias emergentes, como é o caso dos fertilizantes especiais e dos bioinsumos.
“Essas cadeias emergentes são muito importantes para diminuir a dependência do Brasil no médio prazo. Nos próximos dez ou 15 anos elas serão muito importantes e por um motivo muito simples: essa é uma área em que o Brasil detém tecnologia de ponta”, afirma.
O especialista destaca que a base do bioinsumo vem da biodiversidade e o Brasil é o país com uma das maiores biodiversidades do mundo. Ele acredita que o mercado nacional tem a capacidade de se tornar, no médio prazo, um exportador de tecnologia, principalmente, nas cadeias emergentes, deixando de ser um mero importador no mercado internacional.
Cenário problemático

O conselheiro da Abisolo lembra que o cenário geopolítico e sanitário, desde a pandemia de Covid-19, é problemático, com muitos conflitos ocorrendo em diferentes pontos do planeta. Segundo Pauli, em momentos como este, há uma tendência de valorização e melhoria no mercado de fertilizantes especiais.
“Nesse cenário geopolítico e sanitário que estamos vivendo ao longo dos últimos seis anos, os fertilizantes especiais têm ganhado muita relevância, e são tecnologias muito eficientes e que possuímos aqui no Brasil. Ou seja, não demanda tanto da importação tecnológica”, diz.
Além disso, o dirigente explica que em um cenário de aumento de custo dos fertilizantes NPK, as tecnologias especiais se tornam mais competitivas quanto ao custo benefício da sua utilização. “Todos esses fatores têm contribuído para que os fertilizantes especiais conquistem cada vez mais relevância”, acrescenta.
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