Suinocultores em alerta com PSA

Após quase 40 anos, foram identificados novos casos da Peste Suína Africana (PSA) no continente americano. A doença foi registrada na República Dominicana no início de julho. Em Minas Gerais e no Brasil, a adoção de medidas urgentes para impedir a chegada e uma possível propagação da doença é considerada fundamental já que para o controle da enfermidade é necessário o abate dos suínos em massa, o que gera perdas econômicas consideráveis. O Brasil não registra casos de PSA desde o início da década de 1980.
Para proteger a produção nacional e tentar barrar a entrada do vírus no mercado brasileiro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou o Plano Integrado de Vigilância de Doenças dos Suínos, que visa fortalecer a capacidade de detecção precoce de casos de PSA, Peste Suína Clássica (PSC) e a Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS, na sigla em inglês). O plano também é usado para demonstrar a ausência das doenças em suínos domésticos.
O Mapa também emitiu alerta para a atuação mais rigorosa dos setores de controle de importações, da vigilância agropecuária internacional e dos serviços oficiais de saúde animal. Todas as medidas adotadas são consideradas importantes para manter o Brasil livre da doença.
O médico veterinário, diretor da Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Asemg) e presidente do Comitê Estadual de Sanidade Suína (Coesui), Fernando Araújo, explica que o Brasil é livre da Peste Suína Africana e que a doença tem um grande potencial de disseminação com impacto legal em barreiras sanitárias para as exportações de carne suína. Por isso, os cuidados são essenciais e devem ser adotados, inclusive, por produtores mineiros.

Medidas de segurança sanitária
“Atualmente, o Brasil exporta aproximadamente 20% de sua produção, e toda a cadeia da suinocultura brasileira é dependente das exportações para equilibrar a sua produção interna. A suinocultura tecnificada deve redobrar os cuidados com a biossegurança. O risco de esta doença contaminar o Brasil é um material infectado encontrar o hospedeiro (suíno), portanto devemos redobrar os cuidados com restrição de acesso de visitantes nas granjas e todas as demais medidas sanitárias comumente utilizadas em nossos plantéis”, disse.
A prevenção da doença exige ainda um controle rigoroso das importações, barrando a entrada de suínos vivos infectados e também de produtos de origem suína oriundos de países ou regiões afetadas pela PSA. Dentre as medidas de controle também está o descarte adequado (tratamento térmico) de resíduos de alimentos de aeronaves, navios ou veículos provenientes de países com ocorrência da PSA.
A aplicação de medidas de biosseguridade rigorosas em granjas para prevenir a introdução e disseminação do vírus também é fundamental. De acordo com os dados divulgados pela Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), para evitar a contaminação, suinocultores devem evitar visitas nas unidades de produção, é preciso fazer o isolamento e a quarentena dos suínos importados, proibir a entrada de alimentos (pessoais) e que possam ser fornecidos aos suínos.
Além disso, visitantes devem estacionar os carros longe dos galpões, deve haver proibição da entrada de itens pessoais e que não possam ser descontaminados, como telefone celular, joias e outros, e é necessário tomar banho antes da entrada à granja e usar roupas e calçados (limpos) fornecidos pela unidade de produção. Os veículos de transporte dos animais também precisam ser higienizados.
“Todos os cuidados recomendados pelo Mapa e pela ABCS devem ser adotados para evitar o ingresso da PSA no Brasil. É uma doença de fácil disseminação e que pode trazer muitos prejuízos para a atividade”, explicou o presidente da Asemg, João Carlos Bretas Leite.
Alto custo de produção afeta pecuaristas no Estado
Em relação ao mercado, a suinocultura mineira vem registrando perdas em função do alto custo de produção, o que pode impactar de forma negativa no longo prazo. De acordo com os dados da Asemg, o custo médio de produção do suíno está em torno de R$ 7 a R$ 7,50 por quilo, em granjas eficientes, e o preço de venda variando de R$ 6,60 a R$ 6,70 por quilo. Ou seja, a cada quilo comercializado, o suinocultor registra, em média, um prejuízo de R$ 0,80.
“É uma situação muito complicada. Os produtores estão acumulando prejuízos porque os custos estão muito elevados. O farelo de soja e o milho aumentaram muito e não há expectativa de os preços caírem. Mesmo com a importação de milho, o valor vai se manter em alta, já que os estoques estão baixos. No caso do farelo de soja, os estoques mundiais também estão baixos, o que vai manter os preços em alta”, explicou o presidente da Asemg, João Carlos Bretas Leite.
Com um ciclo de produção em torno de 240 dias, o impacto dos prejuízos será sentido no longo prazo. Além de uma tendência de queda da produção, pode haver queda da qualidade, uma vez que, para manter os negócios, suinocultores podem reduzir a qualidade da ração ofertada.
“O cenário atual está muito ruim. Para a recuperação das margens do setor, seria necessário um aumento dos preços. Caso o valor do Bolsa Família seja ampliado e a economia do País reaja, pode haver aumento do consumo, favorecendo o setor”, completou.
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