Agronegócio

Tarifaço obriga cafeicultores mineiros a segurarem estoques e buscarem novos mercados

Produtores mineiros apostam na diversificação de mercados, estocagem e valorização dos cafés especiais para reduzir impacto da tarifa dos EUA
Tarifaço obriga cafeicultores mineiros a segurarem estoques e buscarem novos mercados
Foto: Mario Antonio / Adobe Stock

A inclusão do café na lista de produtos brasileiros taxados em 50% pelos Estados Unidos tem levado cafeicultores mineiros a reavaliar rotas comerciais e estratégias de posicionamento internacional. Um movimento que exige produtores atentos às exigências específicas de cada país e capacidade de adaptação a diferentes demandas de certificações, rotulagem e padrão de qualidade.

“Café não é um produto perecível no curto prazo. Quem tiver capitalizado pode estocar por algum tempo, esperando por uma eventual reversão da tarifa ou por melhores oportunidades de negociação”, afirma o cafeicultor Allan Botrel, da Fazenda Monjolo, em Três Pontas, no Sul de Minas, exportadora do grão desde 2017.

Entre as alternativas de médio e longo prazo, segundo Botrel, está a diversificação de mercados. “Já vínhamos avançando em países da Ásia, como China e Japão, além da região do Golfo e do Sudeste Asiático. Embora ainda não tenham o mesmo volume de compra dos Estados Unidos, são mercados em expansão no consumo de café”, diz Botrel.

Para o CEO da Fazenda Bioma Café, Marcelo Nogueira Assis, o caminho é reforçar o diferencial dos cafés especiais. “Investir em sustentabilidade e rastreabilidade ajuda a manter o valor agregado e facilita o acesso a mercados exigentes”, diz o CEO, que não detalha quanto do café exportado vai para o mercado norte-americano. “Nosso papel é enfrentar o cenário com resiliência e seguir firme na construção de novos caminhos”, afirma. Localizada na região do Cerrado, a Bioma exporta 90% da sua produção.

Análise do cenário

O professor de Ciências Contábeis da Estácio BH Alisson Batista reforça a importância de fortalecer o relacionamento comercial com outras nações. “A saída é diplomática e estratégica. O Brasil precisa acelerar acordos com blocos como a União Europeia, além de ampliar a presença em feiras e rodadas internacionais”, aponta.

Ele avalia que o tarifaço pode funcionar como catalisador para modernização e rearticulação da cadeia produtiva. “Na pandemia, empresas que não estavam preparadas para o digital foram forçadas a se adaptarem rapidamente. Com o café pode ser semelhante. O desafio pode impulsionar a inovação e abertura para novos destinos”.

Para Batista, outra possibilidade está na realocação parcial da produção de café para o mercado interno. “Parte do volume pode ser absorvida internamente, o que tende a estabilizar os preços e até ajudar no controle da inflação”, afirma.

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