Café sem filtro

O universo das variedades de café

Cada variedade conta uma história de migração, ciência e adaptação

Quando falamos em cafés especiais, muito se discute sobre terroir, torra e métodos de preparo. Mas há um elemento essencial que muitas vezes passa despercebido: a variedade do grão. Cada semente carrega uma identidade genética que influencia aroma, sabor, corpo, acidez e até o teor de cafeína. Entender um pouco mais sobre essas variedades é como conhecer os bastidores de um espetáculo e, muitas vezes, é ali que mora a verdadeira mágica.

Entre as estrelas desse universo está a Gesha, uma variedade originária da Etiópia, que ganhou fama ao ser cultivada no Panamá. Sensível no campo, a Gesha se revela exuberante na xícara, com notas florais, frutas cítricas e uma doçura que impressiona até os paladares mais treinados. Em contraste, temos o Catuaí, variedade brasileira desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), fruto do cruzamento entre Mundo Novo e Caturra. Lançado nos anos 70, o Catuaí é valorizado pela produtividade, pelo porte baixo e pela versatilidade sensorial, que pode ir do caramelo às frutas amarelas.
E por falar em singularidade, vale mencionar a Laurina, variedade rara da Ilha da Reunião. Com grãos pontiagudos e naturalmente menos cafeína, cerca de 30% a 50% a menos que outras, ela entrega uma bebida delicada, com doçura sutil e notas florais. Ideal para quem busca uma experiência mais leve, sem abrir mão da complexidade.

Mas o universo das variedades vai além. A tradicional Bourbon, com raízes no Iêmen e forte presença no Brasil, é conhecida por sua doçura marcante, especialmente na versão Amarelo. O africano SL-28, desenvolvido no Quênia, é um clássico por sua acidez vibrante e perfil de frutas vermelhas. Outras como Icatu, Mundo Novo, Obatã e híbridos mais recentes, como o Arara, vêm mostrando o potencial de inovação genética da cafeicultura brasileira, muitas delas também nascidas de pesquisas conduzidas no próprio IAC.

Cada variedade conta uma história de migração, ciência e adaptação. Algumas nasceram da natureza; outras, da dedicação de pesquisadores em busca de resistência no campo e excelência na xícara. Saber a variedade do seu café é se conectar a tudo isso, é valorizar o trabalho do produtor, conhecer a origem do sabor e beber com mais consciência.

Na próxima vez que escolher um café especial, experimente perguntar qual é a variedade. Pode ser o começo de uma descoberta deliciosa.

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