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Lojistas do Mercado Novo “arregaçam” as mangas

Lojistas do Mercado Novo “arregaçam” as mangas
Crédito: Divulgação

Criadas para incentivar a convivência, a boa e velha conversa de boteco e a valorização do que é local, as lojas do 2º andar do Velho Mercado Novo foram pegas de surpresa, assim como mundo todo, pelo fechamento compulsório diante da pandemia do Covid-19.

Mas não pense que a quarentena levou os lojistas do espaço a nocaute. Navegar é preciso, como bem definiu Fernando Pessoa. E levar o barco adiante, ainda que mais lento ou com outra forma de navegar, tem sido a reação de cada uma das dezenas de lojas instaladas no local.

Se até o início da quarentena havia cerca de quarenta lojas abertas, funcionando de 3ª feira a domingo, quando o período de isolamento social acabar serão quase 60 estabelecimentos prontos para receber o público assíduo do Velho Mercado Novo.

Enquanto o comércio não pode ser aberto, muitos lojistas fazem readequações em suas lojas ou terminam de montar seu espaço de comércio, utilizando os dias de quarentena para reformas, instalação dos sistemas de água e luz, montagem de equipamentos e mobiliário, respeitando, obviamente, as recomendações de segurança à saúde dos profissionais que se revezam em turnos de trabalho, isolados, no 2º andar.

As lojas que já estavam em pleno funcionamento até a quarentena, atraindo centenas de clientes para o local, agora levam à casa dos consumidores os produtos que tanto os cativam. Tem sido assim com as comidas confortáveis, em porções generosas, da Cozinha Tupis e da Rotisseria Central; as empadas icônicas da Moscata; os tira-gostos infalíveis do Rei da Estufa; o paiol calmante e necessário da Tabaco; os sorvetes deliciosos da Alento; as cestas de café da manhã da Copa Cozinha; as cervejas artesanais da Viela; as comidas veganas da Cozinha Cipó, entre outros. Todos eles se cadastraram no Ifood e Rappi para tornar as entregas eficientes.

Rifa – Uma forma criativa de manter seu negócio funcionando foi encontrada pela Charcutaria Tapera. Ela promove uma rifa, com apenas 60 números disponíveis, que vai premiar três pessoas. O custo de cada bilhete é de R$ 50 e, ao final, os três sorteados receberão uma cesta contendo os seguintes produtos:

• 1 kit com quatro molhos: harissa, pesto, geleia de abacaxi e chimichurri
• 1 carne da lata
• 1 peça de frango defumado
• 1 peça de queijo curado da Serra do Salitre
• 1 peça de bacon
• 1 peça de linguiça
• 1 salame tradicional
• 1 tábua de madeira exclusiva
• 1 embornal da Tapera
• 1 caixote decorativo

Mas os outros 57 números, não sorteados, não ficarão a ver navios! O comprador fica com o crédito no valor do bilhete para encomendar produtos da loja.

Bem-estar, aconchego e afeto na quarentena – Durante este período de lojas fechadas, a Biboca Casa de Chás se juntou à Papel e Tudo para promover gestos de gentileza e carinho aos seus clientes. É o projeto Chá com Afeto.

A cada sábado, o cliente que adquire a cesta de delícias caseiras, com bolo e biscoitinhos amanteigados, recebe cartões cheios de palavras de ânimo e frases carinhosas para motivar as pessoas a permanecerem em isolamento social.

Para o Dia das Mães, as duas lojas montaram kits chamados Aconchego pra Mãe e Vovó.

Eles são compostos pelo chá de nome Aconchego, mais infusor e mais um cartão personalizado da Papel e Tudo. Um presentinho carinhoso, entregue diretamente às mães em seu dia.

Pacotes de serviços pagos adiantado – A Barbearia Olegário, que não pode entregar serviços, lançou dois pacotes com vendas adiantadas. O cliente poderá ser atendido, na loja, assim que o comércio for reaberto.

Um pacote inclui seis serviços de cabelo e barba, mas o cliente só pagará por cinco deles. O outro pacote dá opção de serviços de cabelo ou de barba. Da mesma forma, o cliente pagará por cinco serviços e terá direito a seis. Nos dois pacotes os preços são parcelados em três vezes sem juros.

Vendas pela internet e via WhatsApp – Algumas lojas, cujos produtos não são de alimentação, continuam atendendo seus clientes via Instagram e pelo WhatsApp.
É o caso da recém-inaugurada Moon Ótica, que tem feito suas vendas via site próprio, Instagram e usa o sistema “ prove em casa”, no qual o cliente pede os modelos de óculos que mais gostar, recebe as peças em casa, experimenta e devolve aquelas que não lhe servirem.

Decisão de parar as atividades foi tomada antes do decreto da PBH – Mesmo antes do decreto da prefeitura de Belo Horizonte determinando o fechamento do comércio na capital mineira, as lojas do 2º andar do Velho Mercado Novo já haviam cerrado as portas em proteção aos clientes assíduos do espaço.

A decisão de fechar as lojas partiu dos lojistas que, de forma coletiva, decidiram pela quarentena em nome da saúde das pessoas.

Ainda que a força do novo espaço esteja no contato social entre as diferentes tribos que frequentam os corredores do Velho Mercado Novo, em tempos de pandemia foi preciso adaptar-se e transformar o que poderia ser considerado negativo em aprendizado. E é assim que os lojistas do 2º andar têm encarado a longa espera pela reabertura de suas casas.

“Eu acredito em nós, acredito no Mercado. Vamos voltar melhores e este ano ainda! Posso vender pouco agora, mas não desanimo jamais… tudo vai passar”, ressalta Fernanda de Lazari, da Cozinha Vó Anna

A positividade também é a crença de Ana Amorim, cuja loja Painço Pães nem chegou a ser inaugurada. Devido à quarentena, ela precisou adiar o começo de seu negócio e agora entrega os produtos na casa de seus futuros clientes presenciais. Ana lembra que apesar de não ser fácil, é preciso retomar as coisas acreditando que vai dar certo:

“Recomeçar é preciso. E recomeços nunca são fáceis. Mas acredito demais no pensar positivo, na força da palavra”.

Todas as lojas estão se preparando para o retorno, seja readequando seu espaço, seja modificando a forma de comercializar seus produtos – levando-os até à casa de seu cliente, seja criando promoções, rifas, clubes de troca e incrementando as redes sociais do Velho Mercado Novo.

Sustentabilidade, valorização do pequeno produtor e da produção local, consumo consciente, coletividade são os conceitos que, desde o início da reocupação do segundo andar do Velho Mercado Novo, em 2018, norteiam o trabalho de quem se candidata a abrir um negócio ali.

São justamente esses conceitos as lições que devem permanecer ao final desta crise planetária, que é muito maior do que qualquer economia. “Vamos voltar fortalecidos”, acredita Fabiana Antunes, da Papel e Tudo. (Da Redação)

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