Pandemia deve forçar novas reduções na taxa de juros
Brasília – O Banco Central (BC) provavelmente será forçado a deixar de lado suas apreensões e reduzir ainda mais as taxas de juros, testando o chamado lower bound enquanto enfrenta o maior colapso econômico já registrado e uma mínima histórica para a inflação.
Um debate em torno do limite efetivo para a redução dos juros, que consumiu vários bancos centrais globais nos últimos anos, agora está em curso na maior economia da América Latina, onde a taxa Selic já está no menor nível de todos os tempos: qual é o nível mínimo em que os cortes dos juros se tornam contraproducentes e passam a aumentar a preocupação com a inflação ou a estabilidade financeira?
O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) reduziu sua taxa Selic, na quarta-feira, em 75 pontos-base, para 2,25%, e disse que pode haver espaço para uma nova flexibilização “residual” nos próximos meses.
O comunicado que acompanha o corte da taxa e os recentes comentários dos formuladores de política mostram relutância em prosseguir com cortes maiores. Eles citam o potencial impacto prejudicial sobre taxa de câmbio, expectativas de inflação, confiança dos investidores e estabilidade financeira geral.
Porém, um número crescente de analistas diz que a realidade econômica irá forçar a conduta do presidente do BC, Roberto Campos Neto, especialmente pelo fato de que a autarquia está falhando em seu principal objetivo, de cumprir as metas de inflação. Para um país com um histórico de hiperinflação, esse é um fenômeno raro.
“Eles não terão escolha. O diagnóstico deles acerca da crise está errado, assim como o remédio”, disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator em São Paulo, criticando o BC por não entender a gravidade da atual crise.
“O Banco Central terá que fazer o que for necessário para apoiar a economia e trazer a inflação de volta à meta”, disse ele, prevendo que a Selic, eventualmente, será reduzida para 1,5%.
Selic em 1%? – Um crescente grupo de economistas está adotando essa visão. Cassiana Fernandez, do JP Morgan, prevê que a Selic fechará o ano em 1,75%, e Gustavo Arruda, do BNP Paribas, e Dev Ashish, da Société Genérale, calculam que a taxa chegará a 1,5%.
Carlos Kawall, diretor de pesquisa econômica do ASA Bank e ex-secretário do Tesouro, acredita que a taxa básica de juros será reduzida para 1%. Se não fosse o debate do lower bound, poderia até ir a zero.
“Nós continuamos enxergando espaço para uma flexibilização monetária adicional significativa”, escreveram ele e seus colegas, em nota, na quarta-feira.
O ponto central dessa análise é a inflação, ou melhor, a falta dela. Em termos anuais, a inflação ao consumidor, que encostou em 7.000% há apenas uma geração, atualmente é de 1,9%, o menor nível em mais de 20 anos. (Reuters)
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