Economia

Investimentos no futebol feminino movimentam esporte e transformam vidas

De proibida a evidenciada, a presença das mulheres no futebol profissional foi impulsionada pela ascensão do feminismo brasileiro. Estima-se que hoje elas sejam 40% da audiência do futebol na televisão, segundo dados do IBOPE. A modalidade tem atraído atenção também dos patrocinadores. A mineira Saudali, por exemplo, investe no time feminino do Cruzeiro há 4 anos através de uma iniciativa pioneira em Minas Gerais
Investimentos no futebol feminino movimentam esporte e transformam vidas
Crédito: Pixabay

“A mulher em campo é um ato político”. Com essa frase, Lu Castro, jornalista e uma das maiores pesquisadoras sobre o futebol feminino no Brasil, sintetiza a relevância do esporte no processo de construção da identidade das brasileiras em seu livro Futebol Feminista – Ensaios, a autora fez uma investigação minuciosa de como a evolução da modalidade no país foi essencialmente política e, sobretudo, impulsionada pelas reivindicações do movimento feminista. 

Com apenas 39 anos de legalização, o futebol feminino tem tido um crescimento extraordinário.  Estima-se que as mulheres já representaram cerca de 40% da audiência do futebol na televisão brasileira. De acordo com dados do Ibope, entre 2014 e 2021, houve aumento de pelo menos 30% no tempo médio consumido do futebol por mulheres. Somado a isso, houve salto de 51% no tempo médio consumido jogos femininos pela população em geral. 

De proibido a evidenciado, o jogo delas tem atraído atenção também dos patrocinadores. A mineira Saudali, por exemplo, investe no time feminino há quatro anos por meio de uma iniciativa pioneira em Minas Gerais. Ao escolher caminhar junto com o então recém-criado time de futebol feminino azul e branco, a empresa alimentícia produtora de cortes suínos e pescados ganhou destaque no cenário esportivo nacional ao se tornar a primeira do estado a patrocinar uma equipe profissional da categoria.

Quem acompanha hoje o sucesso das mulheres dentro de campo talvez não saiba que, para estar lá, muitas batalhas precisaram ser travadas fora dele. De 1941 ao fim de 1979, as mulheres foram impedidas por lei de jogar futebol, após um decreto do Governo de Getúlio Vargas que considerava o esporte impróprio para elas devido a suas ‘condições de natureza’, especificamente a maternidade. A regulamentação só saiu em 1983. E o campeonato Brasileiro só começou em 2013, há 9 anos. Sabemos que as mulheres jogam nas 11 posições, no campo e na vida. No esporte a luta não é menos desafiadora. Poder apoiar o empoderamento dessas atletas é um compromisso da Saudali. Temos satisfação de testemunhar a transformação da vida dessas jogadoras”, diz Cristiane Nobre, Supervisora de Marketing e Comunicação da Saudali que também já colaborou como diretora do Conselho da Mulher Empreendedora da Associação Comercial de Minas Gerais, e, ainda na diretoria da Federaminas Mulher.

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Quem vê a volante Robinha com a bola no pé, não faz ideia o que ela já passou para chegar no time profissional. De família simples, brincava de chutar latinha nos campinhos durante a infância. A mãe proibia a menina de jogar e falava que o futebol era “pra homem”. Na escola, era estudiosa. Mas ela lembra que não tinha apoio quando compartilhava o sonho de ser profissional. Preconceito por ser mulher, negra, pobre. A falta apoio sempre marcou sua luta. Porém, Robinha diz que ela transformou tudo isso em estímulo “Eu não tinha nem tênis para jogar bola. Muitas pessoas diziam que futebol não era para mulher. Mas eu queira ser jogadora. Eu ouvi até de uma professora que não conseguiria. Aquilo tudo me incentivou. Quem era ela para me dizer que eu não poderia ser alguma coisa? Então eu tive que lutar. Na família, junto a amigos e na sociedade. Apesar de muito difícil, eu contei comigo. Minha mãe sempre me incentivou a estudar.  Hoje sou jogadora e fisioterapeuta. É assim, o sonho se tornando realidade”, revela satisfeita. 

Pouca gente sabe que a zagueira Mariana Pires fez jornada dupla quase a carreira toda. Isso porque ela trabalhava em uma fábrica de colchão quando começou no América. Ela trabalhava das 07 às 17h e treinava de noite. Chegava quase meia noite. E chegou a parar por um período por medo da instabilidade na carreira como atleta: “Em 2018, o cenário do futebol feminino ficou um pouco melhor, decidi arrisca e estou até hoje por conta do futebol. O cenário ainda está longe de ser ideal. Hoje estou no Cruzeiro, consigo viver do futebol, ajudar minha família e estou muito feliz por conseguir fazer isso” revela. 

Para a coordenadora do Futebol Feminino do Cruzeiro, Barbara Fonseca, apesar dos avanços, a vitória ainda não está consolidada “É bom poder celebrar o Dia Internacional das Mulheres como um dia de luta por direitos. Hoje podemos jogar, votar, lutar e colocar nossas potencialidades mais livremente na sociedade. É fato que os avanços do futebol feminino são indissociáveis do movimento feminista. E, assim como ele, tem muita bola para rolar. Ainda há disparidades entre homens e mulheres. Não importa, estamos dispostas a lutar por igualdade de direitos, no futebol e onde mais a gente desejar.”

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