30 anos do Plano Real: inflação ainda preocupa?

Com praticamente três décadas desde sua implementação em 1994, o Plano Real passou a estabelecer as bases para uma conjuntura cada vez mais sólida e estável no Brasil. E os efeitos dessa mudança foram positivos para o País. Ao menos esse é o ponto de vista de praticamente 71% da população. E para 15%, essa estabilidade realmente funcionou e a inflação, inclusive, já deixou de ser uma grande dor de cabeça para os brasileiros.
Os dados constam da pesquisa do Observatório Febraban, que apurou também que 66% da população acredita que os brasileiros estão preocupados com a situação atual de inflação no País. Esse cenário, aliás, é ainda mais evidente para 79% dos entrevistados, que consideram que a inflação deve ser um ponto de atenção permanente, tanto para o consumidor, quanto para os governos.
O estudo em questão foi encomendado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) ao Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) que entrevistou um total 3 mil brasileiros nas cinco regiões do território nacional. Ao analisar os resultados, o presidente da Febraban, Isaac Sidney avalia que é possível identificar um reconhecimento público sobre a atuação das instituições no trabalho para manter um equilíbrio da moeda e uma redução da inflação.
“A Inflação é um imposto perverso, atinge as famílias, dificulta o cálculo empresarial, eleva o risco da economia, tira a previsibilidade do investimento de longo prazo, reduz o consumo de bens e serviços e, particularmente, penaliza as camadas mais baixas da população”, diz.
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“A notícia boa desse levantamento é que, felizmente, o brasileiro compreendeu a importância de combater a inflação e manter os preços estáveis. Mas a inflação é um gato de sete vidas: ela precisa ser controlada, pois volta quando baixamos a guarda”, completa.
Inflação é vista como alta e muito alta por quase metade da população
No contexto da economia de mercado, os preços praticados estão atrelados, de forma contínua, às alterações que compreendem o princípio fundamental de oferta e demanda. No entanto, mesmo com os preços estabilizados na maior parte do País, ainda assim, 47% da população considera que a inflação segue alta ou muito alta.
Ainda conforme o Observatório Febraban, um terço dos entrevistados, ou 34%, consideram a taxa de inflação acumulada em 2023 maior do que realmente é. Um quarto (26%) indica corretamente um número entre “3% e 5%”, próximo à projeção do último Boletim Focus para o IPCA (4,51%), divulgada pelo Banco Central. Outra parcela de quase um quarto (23%) não tem ideia; e pouco menos de um quinto (17%) responde um percentual menor do que é a inflação de fato.
Conforme divulgado pelo Banco Central no dia 11 de dezembro, esse indicador ficou fixado em 4,51%. Na última segunda-feira (18), a nova projeção divulgada já apresenta uma redução de 4,51% para 4,49%.
Plano Real completou 30 anos em 2023
Em 1994, as primeiras cédulas da família Real (R$ 1, R$ 5, R$ 10 e R$ 100) começaram a circular no País, marcando a implementação de medidas emergenciais do governo de Itamar Franco para estabilizar a economia e combater a hiperinflação. Naquela época, os consumidores enfrentavam o desafio diário de lidar com preços que mudavam constantemente entre a manhã e a tarde, tornando as idas ao supermercado uma realidade preocupante.

Desde então, o objetivo principal do Plano Real tem sido equilibrar a taxa de inflação do País. Ulisses Fernandez, economista e especialista em informação da Mackenzie, destaca que a situação crítica da economia brasileira ficou para trás. “Saímos de uma trajetória terminal, onde reconhecer a gravidade da situação era uma das maiores dificuldades. Isso não significa que todos os problemas tenham sido resolvidos desde então. Pelo contrário, ainda há muito a ser feito”, afirma.
Real superou a memória da hiperinflação
Há 30 anos, a moeda de R$ 1, por exemplo, tinha um valor significativo. Segundo a calculadora do Banco Central, hoje essa mesma moeda valeria o equivalente a R$ 7,77. E, justamente pela entender sobre a dimensão da importância que a atual moeda possui, que o Observatório Febraban também questionou os entrevistados. Neste sentido, para 80% da população, há um conhecimento claro sobre a criação do Plano Real e seus efeitos. Contudo, o tema se torna algo desconhecido para 15% dos entrevistados.
Quando questionados sobre a avaliação retrospectiva e atual do Plano Real, a maioria (77%) considera como ótimo ou bom. Já 18% classificaram o Plano Real como uma medida regular, enquanto 2% expressaram uma opinião negativa.
“Vejo que o Plano Real, em linhas gerais, resultou numa transformação qualitativa. É fato que, a própria polução, após toda aquela situação desastrosa de 93 para 94, se convenceu da necessidade de uma estabilização. Ter essa estabilidade no preço dos produtos era uma solução para uma dor da população que via o seu dinheiro sendo corroído. Mas, entender que a moeda, essa mesma que carregamos no nosso bolso atualmente, é uma conquista que não se pode refutar”, avalia Fernandez.
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