Volta do horário de verão pode impulsionar bares e restaurantes, diz Abrasel

Diante do crescente risco de sobrecarga no sistema elétrico brasileiro, especialmente nos horários de pico, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) voltou a defender a retomada do horário de verão como uma solução prática, de baixo custo e com benefícios amplos para a economia. A medida, extinta em 2019, tem ganhado apoio de diferentes setores diante das limitações da matriz energética nacional, cada vez mais dependente de fontes intermitentes, como a solar – indisponível justamente no fim do dia, entre 18h e 21h.
“O País precisa de soluções práticas e de baixo custo, e o horário de verão é uma delas. Ele desloca o consumo para um período em que ainda há luz natural, reduz a sobrecarga no sistema e gera ganhos econômicos e sociais relevantes. Com as hidrelétricas sob pressão e a energia solar fora do horário de pico, não adotar essa medida é negligenciar a realidade energética do Brasil hoje”, afirma o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci.
Em Minas Gerais, onde os bares e restaurantes são protagonistas da economia e da vida urbana – especialmente em cidades como Belo Horizonte -, a volta do horário de verão também é vista com otimismo por empresários do setor. Segundo a Abrasel, o movimento em estabelecimentos do setor pode crescer até 50% entre 18h e 21h durante o horário de verão, refletindo em um aumento de até 15% no faturamento mensal.
“Esse aumento está diretamente ligado à maior circulação de pessoas em horários com luz natural, favorecendo o consumo em bares e restaurantes. Embora não haja uma estimativa direta sobre geração de empregos, o aumento de até 15% no faturamento mensal pode favorecer contratações e expansão de operações”, ressalta o líder de Comunicação, Conteúdo e Inteligência da Abrasel, José Eduardo Camargo.
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Horário de verão pode aliviar pressão sobre hidrelétricas e evitar apagões
Os dados técnicos do Plano da Operação Energética (PEN 2025), divulgados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), alertam para a possibilidade de déficit de potência nos próximos anos. Conforme o documento, a matriz elétrica nacional, cada vez mais dependente de energia solar e eólica, enfrenta dificuldades em atender à demanda durante a noite, exigindo o acionamento intensivo de termelétricas.
O ONS avalia que, diante da mudança no perfil de geração de energia no País, será necessária maior flexibilidade operacional e o uso de medidas alternativas, como a possível volta do horário de verão. A adoção da medida poderá ajudar a suavizar a curva de demanda no horário de maior consumo, reduzindo o risco de sobrecarga e apagões.
“O País precisa se antecipar aos problemas. Já temos bandeira tarifária vermelha e risco de déficit de potência nos próximos meses, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico. Ignorar a recomendação técnica dos órgãos competentes e o contexto atual seria um erro grave”, alerta Solmucci.
Sistema elétrico exigirá medidas urgentes
Segundo o ONS, o País deve enfrentar dificuldades para garantir o suprimento de energia entre 2025 e 2029. O estudo projeta a necessidade de leilões de reserva de capacidade e aponta que, sem medidas adicionais, o sistema interligado poderá violar critérios de confiabilidade da oferta de potência em diversos momentos nos próximos quatro anos.
Outro ponto de atenção citado no relatório é o aumento das chamadas “cargas especiais”, como data centers e projetos de hidrogênio verde, que exigem grandes volumes de energia e têm pouca flexibilidade operativa – o que pode agravar o cenário nos horários de pico.

Decisão sobre volta do horário de verão é do governo federal
A decisão da volta do horário de verão está nas mãos do governo federal, especificamente do Ministério de Minas e Energia (MME). A Abrasel acredita que o retorno da medida tem amplo suporte técnico e popular. “O ministério deveria tomar a decisão correta e retomar o horário de verão. A medida é simples de implementar e tem apoio técnico e popular”, reforça José Eduardo Camargo.
De acordo com Camargo, a Abrasel já teve reuniões com representantes do governo e com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ao longo de 2024. A entidade também enviou uma carta ao presidente Lula, com dados de pesquisa feita com consumidores em parceria com o Reclame Aqui. A sondagem mostra que a maioria da população apoia o retorno do horário de verão.
“Havia um sentimento de que o ministério tinha clareza dos benefícios sociais e econômicos da medida, mas acabou prevalecendo a visão de que não havia necessidade”, lamenta o porta-voz da entidade.
Segundo o ONS, a necessidade de medidas alternativas, como o horário de verão, será ainda mais crítica a partir de outubro deste ano, com o aumento do despacho de termelétricas para garantir o suprimento de potência à noite.
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