Acordo com China depende de parceiros

São Paulo – Um acordo comercial entre Brasil e China, como proposto ontem pelo ministro Paulo Guedes (Economia), dependerá do aval dos outros países que fazem parte do Mercosul, de acordo com especialistas em comércio exterior.
O governo brasileiro também poderia optar por sair do bloco sul-americano para negociar diretamente com os chineses.
Nessa hipótese, no entanto, o Brasil perderia todos os avanços feitos em relação a outros blocos econômicos, ficando de fora, por exemplo, do acordo Mercosul-União Europeia.
“Desde 2000, o Mercosul só negocia em bloco. Todas as negociações comerciais hoje em curso são em bloco», afirma o ex-secretário de comércio exterior Welber Barral, sócio da consultoria Barral M Jorge.
Barral diz que uma negociação com a China enfrentaria grande resistência por parte do setor industrial, mas seria benéfica para os setores produtores de commodities agropecuárias e minerais.
“O mercado chinês é muito grande, existem possibilidade, mas o Brasil tem dificuldades para exportar outros produtos que não sejam commodities e teria de aumentar sua competitividade.”
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), afirma que o Brasil não tem condições de estabelecer uma relação comercial totalmente livre com um país como a China, que, por exemplo, não segue todas as regras internacionais de comércio.
“Seria suicídio industrial coletivo”, afirma.
Castro destaca ainda a desvantagem em se tentar uma negociação fora do âmbito do Mercosul. “Você tem de fazer acordo com o bloco, não com um país individualmente, a não ser que esteja passando pela cabeça do Brasil sair do Mercosul. Mas aí tem de voltar a negociar outros acordos, como com a União Europeia”, afirma o presidente da AEB.
Roberto Dumas Damas, professor do Insper e especialista em China, também afirma que não seria bom para o Brasil abrir mão do acordo fechado com a União Europeia para negociar com a China, mas avalia como positiva a sinalização do ministro da economia de que está disposto a abrir o País para o comércio exterior e abandonar a política de proteção industrial que vigora há décadas.
O especialista afirma ser a favor de um acordo mais amplo do bloco com os chineses, mesmo que isso represente perdas para a indústria brasileira em um primeiro momento. Para ele, não dá mais para proteger o setor com tarifas, prejudicando todos os outros segmentos da economia.
Além disso, uma abertura poderia ser uma oportunidade para modernizar o parque fabril brasileiro, aumentar a competitividade do setor e elevar as exportações para outros países futuramente, diz o professor do Insper.
“Ficamos abraçados com Argentina e não fizermos nada. Agora é hora da mudança. Sou a favor de um acordo de livre comércio. Mas é claro que não vamos abrir tudo de uma vez.” (Folhapress)
Todos têm a ganhar com essa relação, diz Bolsonaro
Brasília – O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem, depois de reunião bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping, que o governo e os empresários brasileiros querem ampliar e diversificar o comércio com a China e que todos têm a ganhar com essa relação.
“Essa relação bilateral em várias áreas, inclusive com aceno de agregarmos valor ao que produzimos, é muito bem-vinda”, disse Bolsonaro ao lado de Xi.
A China é o principal destino das exportações brasileiras, mas o comércio até hoje é basicamente concentrado em commodities, especialmente soja e minério de ferro. O governo brasileiro tenta há bastante tempo ampliar a pauta para incluir mais manufaturados e aumentar o valor agregado das exportações.
Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, o governo brasileiro tem conversas para ampliar o número, o escopo e o valor agregado dos produtos que o Brasil hoje exporta para a China.
“Precisa aumentar o número de produtos que você manda e o montante de valor agregado. Mas também precisamos fazer nossa lição de casa, os chineses não vão comprar os produtos só porque são brasileiros”, disse.
Em sua fala, Xi Jinping defendeu a parceria com o Brasil e disse esperar um intercâmbio em “pé de igualdade” com o País.
“A China atribui grande importância à influência do Brasil na América Latina e no Caribe. Está disposta a trabalhar junto com o Brasil para promover um intercâmbio em pé de igualdade e de confiança mútua”, disse o presidente chinês.
Um dos pontos ressaltados por ele é a intenção de alinhar as iniciativas Cinturão e Rota e o Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) do Brasil.
Propostos pela China em 2017, Cinturão e Rota representam investimento na América do Sul em projetos de infraestrutura – especialmente estradas, ferrovias, hidrovias e portos – para facilitar a circulação de mercadorias que interessam às empresas chinesas.
A primeira conversa sobre o assunto aconteceu na viagem do vice-presidente Hamilton Mourão a China, em maio deste ano. Ao voltar da viagem, o vice-presidente afirmou que o Brasil estava aberto aos investimentos chineses, desde que seguissem as regras brasileiras.
Durante o encontro foram assinados oito protocolos e memorandos de entendimento. Entre eles, um protocolo sanitário para exportação de melão, o que deve abrir o mercado chinês para a fruta brasileira. (Reuters)
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