Confira oportunidades e riscos do acordo Mercosul-UE para a economia de Minas

Minas Gerais tem oportunidades e desafios pela frente com o acordo entre Mercosul e União Europeia (EU), formalizado nesta sexta-feira (6). Caso prospere, especialistas avaliam que o compromisso pode impulsionar as exportações do agronegócio mineiro e da indústria extrativa mineral, principalmente de café e terras-raras. Por outro lado, há risco de desindustrialização do Estado com concorrência da indústria europeia.
O acordo pode trazer estabilidade para ambos os blocos econômicos, em um cenário global de conflitos comerciais com China e EUA, previsto principalmente pelo retorno de Donald Trump à presidência da maior economia do mundo.
Para a analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Verônica Winter, a indústria mineira tem de se preparar tanto para o aumento das exportações dos produtos que já embarca para a União Europeia quanto para aumentar sua competitividade, frente concorrência maior e mais qualificada.
A indústria europeia é mais desenvolvida em alguns setores e essa competição pode gerar desindustrialização no Estado. “Existe esse risco. Por isso que as empresas já vêm se preparando e a Fiemg faz vários movimentos em relação a esses alertas, em relação ao comércio exterior, para que não ocorra essa desindustrialização”, disse.
Ela ressalta que os setores da economia mineira mais sensíveis aos impactos da concorrência europeia, ainda têm tempo para se prepararem e se tornarem mais competitivas, já que há um longo processo para que o acordo Mercosul-EU seja realmente ratificado.
O professor do Departamento de Relações Internacionais do Ibmec-BH, Adriano Cerqueira, aponta que o acordo pode gerar uma renovação industrial no Estado, uma vez que o acesso aos bens de capital com tecnologia mais avançada produzidos na Europa ficará mais fácil. “Pode ser importante para a renovação do maquinário da indústria mineira”, analisa.
No acordo Mercosul-UE, há algumas salvaguardas bilaterais com o intuito de proteger as indústrias domésticas de surtos de importação decorrentes da liberalização comercial. Uma delas é para compras governamentais, pleito bastante defendido pelo governo brasileiro.
O professor de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bernardo Campolina, afirma que a medida é importante em um país de território extenso como o Brasil, onde o montante de compras do setor público é muito grande. “Há um volume de compras governamentais que é bastante expressivo, tentar salvaguardar esse mercado é importante, senão corre o risco de gerar um problema de vazamento de renda”, explica.
O acordo Mercosul-UE em um cenário complexo
Bernardo Campolina destaca que a oposição de países como França, Polônia e Itália, pode se tornar uma ameaça real ao acordo. Pelas regras do bloco europeu, uma minoria qualificada, composta por quatro países que totalizem 35% da população do UE, pode impedir o acordo.
O acordo Mercosul-UE seria vantajoso em cenário global de disputa geopolítica complexa entre China e Estados Unidos. “Há incerteza muito grande em relação ao comportamento norte-americano nos próximos quatro anos, com o governo Trump. O que possibilitaria para União Europeia e o Mercosul um ambiente de negócios mais estável e efetivo”, analisa.
Adriano Cerqueira destaca o histórico de investimentos europeus na economia mineira, como na mineração e na indústria automotiva. Uma maior internacionalização com o acordo Mercosul-UE, em um cenário internacional complexo, seria positiva para o Estado. “Frente à possibilidade de um aumento tarifário vindo dos Estados Unidos com o Trump, isso poderia reforçar essa ligação da economia mineira com a economia europeia”, explica.
Campolina atenta ao fato que agricultores – sobretudo franceses – temem a concorrência com produtos do Mercosul. O café, por exemplo, terá a tarifa de importação zerada. Agora, deve-se observar se a pressão desses setores fará questões internas, dos europeus, prevalecer frente um acordo de livre comércio neste cenário internacional. “É preciso saber o quanto esses grupos vão conseguir de fato levar a cabo e ter força interna para barrar uma eventual ratificação do acordo”, finaliza.
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