Economia

Adição de biodiesel: Setcemg aponta impactos de até 20% para atividade

Proposta teria como objetivo acelerar a descarbonização da frota, mas vem trazendo prejuízos para o segmento e meio ambiente.
Adição de biodiesel: Setcemg aponta impactos de até 20% para atividade
Alteração está vigor desde 1º de março, com adição de biodiesel no diesel de 14% no País | Crédito: Charles Silva Duarte / arquivo Diário do Comércio

Em vigor desde 1º de março a adição de biodiesel no diesel ao percentual de 14% no País, o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg) alerta para os impactos que poderão chegar a 20% no setor. Inicialmente, a proposta desse acréscimo de biodiesel teria como objetivo acelerar a descarbonização da frota mas, ao invés disso, vem trazendo prejuízos para o segmento e para o meio ambiente.

De acordo com diretora do Setcemg, Juliana Martins, o biodiesel, ao contrário do objetivo inicial que era ser adicionado ao diesel para que fosse mais benéfico ao meio ambiente, de fato não cumpre esse papel. “Ele traz prejuízos mecânicos aos veículos. O biodiesel, principalmente na época de frio, ou em locais com temperaturas menores, como o Sul de Minas, acaba tendo uma separação, gerando uma camada mais espessa que fica acumulada no tanque. Na hora da bomba puxar o diesel para o sistema do motor do caminhão, há peças que estão estragando por conta dessa maior mistura”, explicou.

Esse tipo de situação ocorre em qualquer tanque de armazenagem ou, em tempos de muito frio, dentro do tanque do próprio caminhão que está transportando o produto, disse a dirigente que atua na condição de transportadora e revendedora de combustíveis. “Esse tipo de situação é muito frequente, com o cliente muitas vezes fazendo o produto retornar por estar com o aspecto mais leitoso por cima do diesel, com as pessoas acreditando que houve algum problema químico, devolvendo o produto”, exemplificou.

De acordo com a dirigente, é uma situação bem recorrente e qualquer revendedor ou distribuidor está enfrentando esse cenário. “Por outro lado, os revendedores e transportadoras tentam não repassar para o cliente o custo de transporte, mas esse acréscimo de biodiesel é um problema enfrentado por quem transporta combustível. Para quem consome, na hora que vai tirar o produto, o biodiesel não sai, estraga a bomba ou sai com aquelas placas condensadas e vai para dentro do tanque do caminhão, que entope todo o sistema do veículo”, disse.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


“Com maior frequência, temos que fazer a troca de peças dos veículos e isso não ajuda o meio ambiente ao consumirmos peças que não podem ser recicladas e acabam virando sucata. Quando a adição do biodiesel era menor, não sentíamos tanto esses problemas. À medida que vem aumentando o volume do biodiesel na mistura e se tornando recorrente, o desgaste do veículo é muito maior, o número de peças trocadas é muito maior, além de aumentar o custo das transportadoras. Se a mecânica encarece, o setor é obrigado a repassar essa diferença para o consumidor”, salientou a dirigente.

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) luta pela manutenção de uma proporção inferior a 7% na mistura, alinhando-se à prática adotada por nações europeias. A entidade disse acreditar que, dessa maneira, seria possível alcançar um equilíbrio mais eficaz entre os aspectos econômicos e ambientais. Estudos técnicos realizados pela CNT por meio da Universidade Federal de Brasília (UnB) indicaram um impacto negativo expressivo em termos financeiros e ambientais quando há elevação do percentual da mistura. A CNT está fazendo mais pesquisas laboratoriais para comprovar esses prejuízos.

“A despesa com essa nova adição no diesel vai variar de região para região. Os locais mais quentes sofrem menos com esse tipo de problema e as mais frias sofrem mais. A condensação do diesel é influenciada pela temperatura. Cada vez que aumenta a quantidade de acréscimo do biodiesel encarece tudo, inclusive o preço do diesel, que, teoricamente, seria para baratear o produto. Quando começou essa ideia no Brasil, acreditava-se que o biodiesel iria baratear o produto, porém, não é uma realidade”, ponderou.

Outro ponto apresentado pela dirigente é o fato de não existir uma produção única de biodiesel, onde existem produtos de origem animal ou vegetal. “Às vezes, não é possível comprar um lote de um fornecedor apenas. Aí ainda existem as misturas no produto. Nesses casos, quando há algum problema, não temos com quem reclamar, pois não existe uma produção única, em série, com parâmetros definidos. A qualidade do biodiesel não é uma unanimidade e existem produtos de todo tipo e qualidade no mercado. As distribuidoras são obrigadas a adicionar o biodiesel e têm que comprar de quem tem disponível”, afirmou.

“Quando começou, era 2% de acréscimo no diesel e vem aumentando com o passar do tempo, para dar condição aos produtores de suprir o mercado. Da forma que acontece hoje, é muito prejuízo para toda a cadeia, que enfrenta vários problemas com o acréscimo gradual de biodiesel. Acredito que, além dos custos aumentando, a proposta do biodiesel que era proteger o meio ambiente. De fato não está cumprindo seu papel”, reforçou Juliana Martins.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas