Economia

Aeroporto Carlos Prates: 78% das aeronaves já deixaram terreno

Aeródromos de Pará de Minas e Divinópolis continuam recebendo equipamentos, enquanto o Aeroporto da Pampulha segue fechado por falta de espaço
Aeroporto Carlos Prates: 78% das aeronaves já deixaram terreno
Aeroporto ocupa espaço de 500 mil m² na região Noroeste de BH | Crédito: Aeroin/Divulgação

Após quase duas semanas do encerramento das operações do Aeroporto Carlos Prates, na região Noroeste de Belo Horizonte, 78% das aeronaves já foram retiradas do terreno. No entanto, a falta de uma justificativa oficial, até o momento, para a revogação do contrato entre a União e a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) gera insatisfação entre afetados.

Em contato com o DIÁRIO DO COMÉRCIO, o presidente da Associação Voa Prates, Estevan Velásquez, conta que o processo de desmobilização do modal não se trata de uma mudança. “Eu não sei até hoje qual foi o motivo de desativar o Aeroporto Carlos Prates. Isso que estão fazendo com a gente não se trata de uma mudança, mas sim de uma expulsão, e sem motivo”, conta com indignação.

Segundo ele, o terreno abrigava 138 aeronaves, sendo que uma parte foi direcionada para os aeródromos de Divinópolis e Pará de Minas, no Centro-Oeste do Estado, e outra parte, cerca de 12%, foi estacionada no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Este último terminal, inclusive, segue fechado desde o último dia 5 de abril por causa de lotação máxima do pátio.

Nos próximos dias, outras 30 aeronaves devem também ser direcionadas para o interior do Estado, onde ficarão temporariamente.

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Futuro incerto e prejuízo incalculável

Em nota enviada à reportagem, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) explica que a desativação do aeródromo no bairro Padre Eustáquio veio de “uma demanda antiga”. A intenção do fechamento foi apresentada, segundo o órgão, em previsão de portaria nº 10.074/SIA, no dia 16 de dezembro de 2022.

Estevan Velásquez afirma que, apesar de terem destinados os aviões para outros terminais, o futuro das empresas, incluindo as escolas de pilotagem, segue incerto. “Não temos para onde ir. Não tem hangar disponível na Pampulha, que é o aeroporto mais próximo. Como está tudo lotado por lá, não temos como operar. É um aeroporto que, além de não ter hangares e espaço, gera custos altos. Inclusive, até a Polícia Militar de Minas Gerais teve treinamento negado na Pampulha”, diz.

Na situação de contar como alternativa com espaços de outros aeroportos no interior de Minas, o presidente da entidade ressalta que “o nosso nicho é a formação por meio das escolas de aviação e de manutenção. Aqui em BH temos cinco universidades com cursos voltados para aviação. Grande parte dos nossos estudantes são assistidos pelo Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior). Como eles dependem de horas/aula de aviação para se formarem, como elas vão para o interior?”, indaga.

O especialista em aviação explica que, para estabelecer um novo espaço, é preciso infraestrutura, além de mobilidade. “Não é porque tem uma pista em Pará de Minas que vai dar certo irmos para lá. Nossos estudantes serão prejudicados. Fora que as famílias que aqui vivem não são todas que iriam. Teremos, portanto, que fazer demissões, como as empresas já estão fazendo, e cada uma decidindo para onde vai”, diz.

Estevan Velásquez, diante das promessas de aproveitamento do terreno onde funcionava o Aeroporto Carlos Prates, teme pelo seu abandono. “A gente escuta sobre a construção de sambódromo, de casas, ideias sem planejamento algum. O prefeito (Fuad Noman, do PSD) diz ainda que a previsão de iniciar essas obras é até 2025, pois tem que captar recursos, contratar empresas. Ou seja, a gente não sabe se ele será reeleito até lá. A verdade é que ele já está jogando um problema para outro possível prefeito. Esse terreno de 540 mil metros quadrados pode acabar virando uma grande favela”, exclama.

Nesta quarta-feira, o prefeito Fuad Noman se reuniu com representantes do governo federal e reforçou a defesa de construção de casas populares, parques e equipamentos públicos na área onde funcionava o Aeroporto Carlos Prates. O chefe do Executivo municipal ainda acertou os últimos detalhes para a transferência definitiva da área para a Prefeitura de Belo Horizonte.

Terreno foi doado para uso aeronáutico: “Estamos avisando isso há anos”

Nesta semana, um novo capítulo surgiu para a definição do futuro do terreno do Aeroporto Carlos Prates. Considerada uma das famílias mais antigas e tradicionais a povoar o município de Belo Horizonte, a família Cavalcanti de Albuquerque afirma ser a dona do terreno onde operava o aeroporto.

O advogado Rodrigo Teixeira Cavalcanti de Albuquerque, que faz parte da família, assumiu junto com alguns parentes a tarefa de tentar encontrar o termo de doação do terreno. “Nós contratamos um despachante para localizar algo que comprove essa doação, pois era muito comentado pelas minhas tias, que eram a Lídia Maria e a Maria Tereza. Porém, uma faleceu em 2021 e outra, no ano passado”.

“Na época, esse documento foi feito para que o terreno fosse utilizado para fins de aviação com a construção do aeroporto, mas não existe nenhum registro que comprove isso até agora. Estamos atrás dessa informação junto aos cartórios de Belo Horizonte”, conta Rodrigo Albuquerque.

Sobre o caso, Estevan Velásquez conta que essa situação já era prevista. Segundo ele, há informações, mas não comprovadas, de que a origem do Aeroporto Carlos Prates ocorreu por conta de uma doação de terreno. “O terreno foi doado para que nele fosse o aeroporto. Porém, condicionalmente, se ele deixasse de existir, ele voltaria para a família. Estamos avisando sobre isso há anos para as autoridades. Agora, a família está aí em busca do terreno”, conclui.

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