Agronegócio cobra ações estratégicas


Quando há um acompanhamento contínuo e planejamento das atividades, que leve em conta a disponibilidade hídrica e suas oscilações sazonais, a perda do produtor rural com a escassez hídrica pode ser eliminada, ou pelo menos minimizada. Quando ocorre o contrário, aumentam os riscos de perdas do valor investido na produção. O alerta é da gerente de Meio Ambiente da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Ana Paula Mello.
“O monitoramento e os alertas são importantes para o planejamento dos produtores, para que possam continuar o cultivo, mesmo com menor quantidade de água”, afirmou Ana Paula. Segundo a especialista, a redução da captação de água para uso na agricultura, de acordo com a disponibilidade hídrica, é feita dentro de parâmetros legais.
No início do mês, com a escassez hídrica, os órgãos ambientais determinaram a redução da captação de água em bacias hidrográficas mineiras. Segundo a especialista, a adoção dos parâmetros legais para equacionar o racionamento evita que algum produtor rural seja prejudicado nesse processo.
“Há situações legalmente determinadas de reduções de captações, em percentuais e áreas específicas. E há também, dentro de grupos organizados de produtores rurais, a decisão conjunta de redução para que não sejam todos prejudicados”, disse.
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Ana Paula explicou que essas decisões levam em conta o acompanhamento contínuo das vazões disponíveis pelo órgão gestor das águas. “É a forma para manter as permissões de captações de todos, ainda que em menor quantidade, em detrimento de cortar direitos de uso, o que seria desastroso”.
Ela lembrou que o racionamento para os produtores rurais é temporário, com prazos que vão até início de novembro. Assim, podem trazer alguma redução na produção, mas é importante o planejamento para que o produtor não faça investimentos contando com uma água que não estará disponível.
Plano de segurança hídrica – “É uma medida urgente e é uma responsabilidade do Estado”, cobrou a executiva da Faemg ao referir-se à implantação de um plano de segurança hídrica que estabeleça diretrizes para soluções e para alocação planejada de reservatórios, para aumentar a disponibilidade e perenizar cursos d’água.
Ana Paula lembrou ainda que as tecnologias de produção agrícola estão avançadas. Atualmente, algumas plantações necessitam de menos água, o que potencializa a produção com ampliação da eficiência da irrigação. As situações de escassez hídrica são cíclicas, explica a especialista, e hoje há um maior preparo e planejamento do setor rural.
“Há plantações mais adaptadas ao déficit hídrico na agricultura de precisão, com menor uso de insumos, incluindo a água. Na irrigação, há o trabalho na eficiência de uso e no manejo correto, evitando-se situações prejudiciais. Há também tecnologias de monitoramento de vazões, por rede telemétrica de dados, que dão suporte ao planejamento”, completou.

Igam anuncia plano de segurança para 7 unidades
O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) prepara um plano de segurança hídrica para sete unidades estratégicas, e suas circunscrições hidrográficas. São os afluentes do Alto Rio São Francisco; os afluentes do Baixo Rio São Francisco; os afluentes do Rio Grande; os afluentes do Rio Doce; os afluentes dos Rios Mucuri, São Mateus, Jequitinhonha e Pardo; os afluentes do Rio Paranaíba, e os afluentes do Rio Paraíba do Sul.
A iniciativa do Igam definiu também três eixos de atuação nas sete unidades: a conservação e restauração da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos relacionadas à água; a produção sustentável e uso racional dos recursos hídricos; e o saneamento, controle da poluição e obras hídricas.
“O plano será executado em áreas prioritárias, definidas como regiões estratégicas para a realização de ações. A integração de ações setoriais, com a finalidade comum da gestão eficiente dos recursos hídricos, promoverá a segurança hídrica e, por consequência, a sustentabilidade do desenvolvimento econômico”, afirma o diretor-geral do Igam, Marcelo Fonseca.
O trabalho vai durar 15 meses e será feito por empresa de consultoria especializada em meio ambiente. A consultoria será escolhida em dezembro de 2021, por meio de licitação. O plano funcionará como uma ferramenta para a gestão dos recursos hídricos em Minas Gerais. O plano vai criar, ainda, um banco de projetos, com a definição de obras de infraestrutura e de infraestrutura verde, além de medidas de gestão para serem executadas nas regiões estratégicas.

Orçamento maior e aumento de pessoal são medidas urgentes
Entre as principais providências para que Minas Gerais reverta a severa escassez de água que experimenta nos últimos anos, agravada em 2020/2021, estão a ampliação do orçamento do Instituto de Gestão das Aguas (Igam) e o aumento do número de funcionários do órgão. A sugestão é da engenheira Patrícia Boson, uma das principais especialistas em meio ambiente do País.
Na avaliação da engenheira, o Igam tem a necessidade de “não apenas quadruplicar, no mínimo, sua equipe especializada, mas também elevar o orçamento atual, muito aquém de suas funções”.
Patricia Boson ressaltou que o orçamento do instituto é, atualmente, de R$ 161 milhões. Entretanto, R$ 141 milhões são provenientes de cobrança pelo uso da água paga pelo consumidor. Outros R$ 16,5 milhões são provenientes de convênios com a Agência Nacional de Águas (ANA). O governo do Estado repassa apenas R$ 3,5 milhões.
“Penso que (o governo estadual) falha em tratar a gestão apenas na parte mais visível, que é o processo produtivo. A verdade é que há poucos diagnósticos e pouco planejamento específico para a segurança hídrica no longo prazo”, afirmou a engenheira.
“Não à toa muitas empresas viveram, nas crises de 2013/2014 e de 2017/2018, paralisações por falta de abastecimento de água”, informou Patricia Boson, lembrando, ainda, que a crise hídrica é, para nós, também uma crise energética”.
A especialista lembrou que é difícil explicar como Belo Horizonte, que tem uma pluviosidade média de 1.205 mm, mais de três vezes superior à de Israel, enfrente uma insegurança como a atual. Em Israel, explicou Boson, um país com um território árido, com uma pluviosidade média 348 mm, não existe insegurança hídrica e racionamentos.
Segundo a engenheira, a explicação para Israel não ter insegurança hídrica é a gestão de água que é realizada no país. “De novo, a resposta simples. Israel tem uma longa história de gestão da água, assim como tantos outros países e regiões menos afortunados em recursos hídricos, ao contrário de Minas Gerais. Essa é a explicação”, advertiu Patricia Boson.
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