Economia

Alheio a fatores externos, setor de transporte de cargas de Minas Gerais prevê faturamento até 10% maior

Especialistas apontam, porém, que transportadoras precisam se organizar internamente para superarem “frete predatório”
Alheio a fatores externos, setor de transporte de cargas de Minas Gerais prevê faturamento até 10% maior
Crédito: Adobe Stock

O setor de transporte de cargas estima que o faturamento vai crescer entre 5% e 10% em 2025 na comparação com o ano passado. Porém, as margens de lucro deverão ser maiores, de acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Antonio Luis da Silva Junior.

A projeção otimista se dá em meio ao cenário desafiador para as empresas no Brasil, com taxa de juros elevada, oscilações no custo do diesel e infraestrutura rodoviária precária.

Porém, para alcançar a maior lucratividade, especialistas explicam que as transportadoras ainda precisam se organizar internamente para garantir a rentabilidade do serviço prestado, uma vez que não é possível ter controle sobre os fatores externos.

Com mais de 25 anos de experiência em consultoria em transportes, o especialista em gestão econômica de transporte e frotas da Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte (Fabet), Carlos Augusto Silveira, aponta que a organização interna ainda é a maior barreira para as transportadoras superarem o “frete predatório”, em que o valor do serviço é abaixo do custo, mas o problema somente é identificado após a operação e consequente prejuízo.

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“Temos duas abordagens, a visão interna da transportadora, e a externa, crise política, valor do dólar, etc, e poucas empresas conseguem olhar para isso. O que resta para a empresa é trabalhar dentro da sua casa”, declara Augusto Silveira. “O maior desafio é olhar de uma maneira diferente, buscar eficiência, efetividade. Tem que ter certa austeridade para vencer essa crise. Frete predatório é uma luta grande”, completa.

Ele aponta que a reformulação da estratégia pode fazer com que a transportadora consiga rentabilidade mesmo nas condições desafiadoras para as empresas do ramo, com parcerias entre empresas, busca por outros modais de transporte e também de outros segmentos.

Mas o especialista da Fabet aponta que a organização da gestão interna ainda não gera o interesse necessário das transportadoras. Essa desmotivação, ressalta, deve-se a um diagnóstico malfeito. “Muitas vezes, o diagnóstico do cenário das empresas está em pedaços. Tem que fazer a seguinte pergunta: tenho que olhar para dentro da empresa, mas como? Usar adequadamente os métodos, as ferramentas, para entender a empresa”, ressalta.

O presidente do Setcemg acredita que metade das dificuldades do setor são alheias às vontades dos transportes, enquanto a outra parte depende de os transportadores terem condições de exigir um frete com preço justo para os clientes.

Condições essas que aparecem apenas quando as empresas de TRC conseguem contabilizar seus custos corretamente. Por conta disso, o sindicato lançará a Campanha Frete Justo para capacitar empresas do setor em relação ao cálculo correto de preços, adoção de práticas justas e técnicas de negociação. A campanha contará com treinamentos e cursos feitos em parceria com a Fabet e Fundação Dom Cabral (FDC).

Setor de transporte deve reduzir investimentos

Uma das maiores preocupações das transportadoras é com a falta de recursos do governo federal e estadual para manutenção das estradas. A queda de produtividade, medida com o tempo em que os caminhões ficam parados nas operações de carga, assusta o setor.

“É um risco que temos, porque isso não depende dos transportadores”, disse o presidente do Setcemg. “Isso que nos fez levar a uma capacitação no cálculo do frete, que hoje é muito pouco difundido nas planilhas”, completa. Ele estima que este ano será de redução de investimentos e envelhecimento da frota das transportadoras, já que o patamar elevado da taxa de juros e a alta do preço dos veículos afeta diretamente a capacidade do setor investir.

Os dois fatores, inclusive, ajudaram as empresas a registrar um resultado com menores margens de lucro em 2024. “Operamos com resultado menor do que o padrão normal e um fator que afetou muito foi o preço dos caminhões e dos equipamentos. Eles cresceram muito acima da inflação. Os custos dos investimentos estão muito altos e os juros, consequentemente, oneram mais ainda”, disse Antonio Luis da Silva Junior.

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