Economia

Alta da Selic vai aumentar o custo do crédito e diminuir o consumo

Alta da Selic vai aumentar o custo do crédito e diminuir o consumo
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

A taxa básica de juros (Selic) voltou a subir após quase seis anos. Os juros passaram de 2% para 2,75% ao ano, conforme a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Com o aumento, a expectativa é controlar a inflação, tornar os títulos brasileiros mais atrativos, atrair o investidor estrangeiro e reduzir o preço do dólar. Por outro lado, pode haver um encarecimento do crédito e impacto negativo no consumo.

Economista e professora do Centro Universitário Una, Vaniria Ferrari explica que a princípio não é possível afirmar se a medida de aumento da Selic será positiva ou não, já que demandará um certo tempo para o mercado reagir à decisão. Segundo ela, a decisão de aumentar a Selic teve como objetivo tentar frear a inflação, que fechou fevereiro em 0,86%, a maior taxa desde 2016. Esse aumento da inflação é uma preocupação grande para o governo, que tem o receio de ultrapassar a meta.

Outro fator que levou o Copom a reajustar a taxa é a intenção do governo em atrair mais investimento estrangeiro, principalmente, de capital especulativo, pressionando o dólar para baixo e também a inflação. A queda do dólar por reduzir os preços dos alimentos, já que muitos têm os preços dolarizados.

“Ao tornar os títulos brasileiros mais atrativos, a tendência é atrair investidores estrangeiros, pressionando o dólar para baixo. Com isso, haverá um impacto nos preços dos alimentos, que podem ficar mais baratos, já que vários itens têm os preços balizados pela moeda norte-americana. O dólar mais barato também pode provocar queda de preços de várias matérias-primas, que são importadas. Ao reduzir o valor do dólar, a expectativa é que a inflação também fique menor”.

Ainda segundo Vaniria, os impactos de uma inflação menor e da queda dos preços dos alimentos, por exemplo, seriam, em partes, interessantes para a população, principalmente, de baixa renda, que teria o poder de compras aumentado. Mas, o acesso ao crédito, que já é difícil, ficaria ainda mais restrito.

Em relação aos empresários, o aumento da taxa Selic vai encarecer o crédito. “O crédito ficará mais caro, mas, no atual momento de crise, e como as empresas operando com capacidade ociosa, não haverá grandes impactos”. 

Do lado do consumo e dos investimentos, o aumento dos juros pode frear as intenções. “Pensando nos impactos negativos, ao aumentar a taxa de juros, ocorre queda no consumo, o que é ruim no atual momento em que é necessário um estímulo para a economia se recuperar. Se cai o consumo, cai a produção, podendo piorar os índices de desemprego”, explicou.

Para o professor de economia Ibmec Felipe Leroy, a decisão do Copom em aumentar a taxa Selic já era esperado. “A inflação está em alta em um momento em que a economia está parada. Isso é a inflação de custo. Ou seja, o custo das empresas que está mais alto e sendo repassado para o produto final. O aumento tem o objetivo de conter a inflação”.

Ainda segundo Leroy, ao mesmo tempo em que se tenta controlar a inflação, o governo busca aumentar a remuneração dos títulos. “A valorização dos títulos é importante para que o governo possa trocar e pagar as contas. Ninguém quer comprar títulos com juros baixos, os investidores querem juros altos”.

Com a decisão, o crédito ficará mais caro. “O aumento da Selic vai encarecer o custo de crédito, vai tornar o dinheiro mais caro e, isso, pode levar à redução do consumo. É um desafio para todos nós”, disse Leroy.

Investimentos

Com o aumento da Selic, a tendência é que os fundos de renda fixa se tornem uma opção interessante para investimentos.

“Esse aumento da Selic pode ser positivo no que se refere aos títulos de renda fixa, sejam eles públicos ou privados. Nos públicos do tesouro, principalmente os pré-fixados com base na Selic ficarão mais atrativos. No caso dos privados, LCI, LCA, CDB, se tornarão atrativos porque são remunerados pelo CDI, que acompanha a Selic”.

Em nota, o assessor de investimentos da Terra Investimentos, Deibert Fernandes de Aguiar, explica que para quem está com dinheiro alocado na poupança, conforme a Selic vai subindo, a rentabilidade segue a mesma tendência. A rentabilidade da poupança é de 70% da taxa Selic.

Investimentos da categoria pós-fixado passam a ter uma rentabilidade maior com a subida da taxa, dado que esses investimentos também são atrelados à Selic.

Já para os investimentos de categoria prefixado, é preciso estar atento à subida da Selic. Isso porque existe uma relação inversamente proporcional entre a taxa Selic e o valor do investimento prefixado: quando a taxa sobe, o preço ou valor da aplicação prefixada cai, mas essa relação só é absorvida se o investidor resgatar a aplicação antes do vencimento acordado.

“Quando ocorre a elevação da taxa, a tendência é de um movimento de migração de parte dos valores que estão em ações para a renda fixa, para isso o investidor precisa vender esses papéis, colocando uma pressão vendedora nesses ativos e derrubando os preços. Assim como recentemente tivemos o movimento de queda de juros e migração do capital para renda variável, o inverso também pode ser verdadeiro”, disse.

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