Economia

Alta de alimentos ainda afeta as empresas

Apesar da deflação registrada nos últimos dois meses, estabelecimentos ainda sentem a pressão nos custos
Alta de alimentos ainda afeta as empresas
Expectativa é que o setor empregue 40% a mais na temporada de verão em comparação com o período antes da pandemia | Crédito: Charles Silva Duarte / Arquivo DC

Em julho, guiado pelas constantes reduções no preço dos combustíveis, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou deflação. Na sequência, vieram as ligeiras reduções na taxa de energia elétrica e no preço do gás de cozinha. Mesmo com essas mudanças, que garantem, de maneira branda, um fôlego ao funcionamento de bares e restaurantes, o segmento ainda sente um forte impacto devido à alta dos alimentos. 

Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Matheus Daniel argumenta que o reflexo da deflação tem surtido pouco efeito aos estabelecimentos. “Vai melhorar um pouco a rentabilidade dos bares e restaurantes de uma certa forma, mas nada que garanta surtir um efeito relevante aos estabelecimentos. Afinal, sofremos e muito com a alta da gasolina, com o frete do delivery, aluguel e o preço do gás de cozinha nos últimos meses”.

“Outro fator que tem prejudicado o setor foi a classificação da energia elétrica para a bandeira vermelha, que teve uma demora danada por parte do governo em ser retirada, mesmo chovendo muito no início do ano, ou seja, são um conjunto de fatores que impactam o setor”, diz. 

Em agosto, o grupo de alimentos que inclui carnes, leite e derivados, óleo e grãos, segundo o IPCA, teve elevação de 0,24%, sendo o nono aumento mensal consecutivo. No intervalo entre agosto de 2021 a agosto de 2022, esse aumento atingiu os 13,43%, estando acima da inflação total. 

“Nós estamos com cerca de 18% dos estabelecimentos operando em prejuízo em julho, 45% com lucro, e 37% em equilíbrio. Mas, o que podemos acompanhar é que os alimentos subiram mais que o dobro da inflação neste ano. Por exemplo, uma compra feita com elevação de preço entre 10% e 12%, não repassada para o consumidor por alguns, mas repassada por outros, mostra que há um grande impacto sentido. Para se ter uma ideia, o filé de frango antes comprado por R$ 6,90 o quilo, hoje não é encontrado a menos de R$ 16”, compara.

De portas fechadas

Com tradicional história na Capital mineira, o restaurante Paracone decidiu no final de agosto trancar as portas após 33 anos operando com unidade no bairro Santa Efigênia, na região Leste da Capital. Assumindo as operações da marca há duas semanas, Matheus Daniel ressalta que o local por anos era bem badalado e funcionava por 24 horas até meados de 2010. No entanto, com a chegada da pandemia em 2020, e posteriormente com a inflação ‘nas alturas’, vários entraves provocaram o fechamento da casa. 

“A decisão ocorreu após as tentativas de diálogo com o ex-prefeito, que prejudicou muito os bares e restaurantes, mantendo-os fechados e sem estrutura de apoio. Somada a essa questão, era pouco o movimento, além de muito alto o custo operacional. O Paracone não teve outra escolha, a não ser manter as suas atividades por serviços de entrega delivery”, revela Matheus Daniel.

Driblando a inflação 

Ao mesmo tempo que lugares independentes, tradicionais e acessíveis estão sob pressão para se manterem de pé, seja fisicamente ou on-line, há estabelecimentos que têm apostado em estratégias competitivas. A aposta da Porks, maior rede de franquias de bares do País, resolveu repassar o custo inflacionário de uma forma minimizada, mas criando atrativos para agradar o público e ganhar fôlego no caixa. 

“Temos um modelo com preços acessíveis, mesmo tendo que repassar o menor custo possível. No entanto, fizemos promoções novas, adaptações no cardápio e outros atrativos sempre para agradar o cliente, e de uma forma que ele não sentisse o preço. É certo que um cliente mais antigo, nota sim uma leve diferença, mas gosta das promoções e consome. Por isso, buscamos aumentar o mínimo possível o preço dos nossos produtos, mas criando essas ações para manter a casa sempre cheia”, conta um dos sócios da rede, Diogo Manfredini. 

Ele que comanda três operações próprias em Belo Horizonte desde a primeira inauguração, há quatro anos, anuncia duas novas unidades na Capital. “Ambas serão franquias, com investimento total de R$ 200 mil, e seguem em fase de venda para instalação ainda neste ano na região da Pampulha, e outra nas proximidades do Estádio do Atlético-MG, em construção no bairro Califórnia, região Noroeste da cidade.

Expectativas 

Em meio ao desempenho entre deflação de bens e serviços, mas de inflação dos alimentos, uma boa notícia para terminar 2022. Segundo a Abrasel-MG, a expectativa é que o setor em todo o Estado empregue 40% a mais na temporada de verão em comparação com um período antes da pandemia. De acordo com a associação, fatores como a realização da Copa do Mundo, eventos sazonais, confraternizações de fim de ano e férias movimentam os bares e restaurantes.  

O levantamento realizado pela entidade aponta ainda que de três a cada 10 donos de bares e restaurantes pretendem contratar até o fim deste ano. De 191 empresários do segmento, 56% planejam manter o quadro de empregados atual, ao passo que apenas 10% têm a intenção de demitir. Enquanto isso, o setor espera fechar o ano com 10% de alta nas vendas comparado ao período pré-pandemia, em 2019

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