Alta do trigo já impacta preço do “pãozinho”

Há 23 dias, o preço do trigo oscila constantemente em todo o mundo. Não por acaso, esse é o mesmo período que compreende o início dos ataques russos ao território ucraniano, no Leste europeu. O desequilíbrio no mercado mundial de trigo ocorreu porque, juntos, os países envolvidos na guerra produzem, em média, 100 milhões de toneladas de trigo por ano, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, sendo a Rússia responsável por 70% do montante. Por esse motivo, a oferta de trigo no mundo ficou mais reduzida, o que altera os valores da commodity, que são ajustados na operação da Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos.
Em Minas Gerais, essa mudança do mercado está pesando nos custos da produção do pão de sal. Consequentemente, o “pãozinho”, que faz parte das manhãs de muitas pessoas, já custa mais caro. De acordo com o presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), Vinícius Dantas, o aumento do insumo nas padarias já chega a 15%.
“A gente (o Brasil) nunca comprou muito trigo da Rússia ou da Ucrânia. Mas a Europa comprava e passou a consumir agora de países como Argentina, Canadá e Estados Unidos. Neste primeiro momento, a alta repassada dos moinhos para as panificadoras foi de 15%. Mas acreditamos que essa alta vai se assentar, porque o consumidor reage e reduz o consumo”, afirma Dantas.
Além disso, o presidente da Amipão afirma que a alta no valor do trigo compreende também custos com o transporte, já que os combustíveis estão encarecendo também a logística do principal insumo da panificação. Em meio a essas variações positivas em produtos de alto impacto para o setor que se recupera da pandemia da Covid-19, os consumidores devem absorver uma alta de pelo menos 6% no pão de sal. O repasse ocorre concomitantemente à inflação sobre os produtos que integram a categoria alimentos e bebidas e que já pesa no bolso do consumidor mineiro.
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Economia de recursos
Para driblar os altos custos dos insumos, o presidente da Amipão afirma que a estratégia é minimizar e eliminar os riscos de desperdícios dentro da produção. “A padaria tem cortado ao máximo o recolhimento do produto final. Nós evitamos também a produção de alimentos que tenham o trigo como base e que não representam vendas significativas. Outra estratégia é embalar o produto, porque quando ele está protegido ele dura mais e não resseca”, conta ele.
Preços no mercado
Para se ter ideia do impacto da guerra e das safras em menor quantidade em outros países que contribuem para o suprimento da demanda mundial, de acordo com o histórico registrado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo, em um mês (18 de fevereiro), o trigo subiu de R$ 1.593,76 (por tonelada) no Brasil para R$ 1.902,20, valor registrado ontem (17 de março). Em valores absolutos, a variação foi de R$ 308,44, alta que, percentualmente, representa 19% a mais que o preço praticado antes do início da guerra no Leste europeu.
A título de comparação, em 2 de janeiro de 2020, quando a pandemia da Covid-19 ainda não havia sido declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o preço de cada tonelada do insumo era avaliada em R$ 814,52. A partir de março daquele mesmo ano, o valor passou da casa dos R$ 900,00 e, a partir de 13 de abril de 2020, quando bateu R$ 1.000,00 por tonelada, o valor não voltou mais ao patamar registrado no período anterior à pandemia.
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