Economia

Alta histórica do cacau impacta indústria e consumidores, mas crise pode virar oportunidade para o Brasil

Com crise mundial, Brasil pode voltar a ter protagonismo no mercado de cacau; elevação do preço já afeta consumidores
Alta histórica do cacau impacta indústria e consumidores, mas crise pode virar oportunidade para o Brasil
Foto: Adobe Stock

O preço do cacau vive um período de alta histórica e os reflexos dessa elevação são sentidos por produtores, indústrias e consumidores ao redor do mundo. Com essa oscilação, consumidores sentem o impacto nos preços de produtos como chocolates e derivados, e a indústria precisa se adaptar rapidamente a esse novo cenário. O futuro do cacau, no entanto, passa pela inovação, estratégia e uma visão de longo prazo, que podem transformar o Brasil em um novo protagonista no mercado global.

É o que conta o CEO da Fralía Cacau Brasil e presidente do Conselho de Tecnologia e Inovação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Matheus Pedrosa. Ele destaca que a principal causa para a alta do cacau é a escassez da oferta na África, que responde por 72% da produção mundial, especialmente Gana e Costa do Marfim.

“Nesses dois países, no ano de 2023 para 2024, a gente teve um excesso de chuvas e, aliado a essa questão de mudança climática, a gente tem uma série de outros fatores que contribuem para isso. Outro fator gravíssimo é o adoecimento das lavouras de cacau, que estão estragando as árvores, não só os frutos”, explica Pedrosa, que ressalta outros fatores.

“Adoecimento das lavouras, problemas climáticos, estrutura socioeconômica e tecnológica para o cultivo levaram esses dois países a ter uma queda que já vinha sendo anunciada durante muito tempo que iria acontecer e sob negligência de todo mundo ela aconteceu efetivamente agora, trazendo escassez ao produto e levando o preço para uma alta histórica”.

Em novembro de 2023, o preço do cacau estava em torno de US$ 3 mil a tonelada. No entanto, a partir daquele mês, o preço disparou, atingindo mais de US$ 12 mil por tonelada. Atualmente, o cacau está na faixa de US$ 8 mil.

“Nós estamos falando de quatro vezes o preço. É muito alta. Hoje, recuou um pouquinho, mas foi um crescimento muito forte no preço do cacau.”

Oportunidade para o mercado brasileiro de cacau

O Brasil já foi um dos maiores produtores de cacau do mundo mas, atualmente, a produção representa apenas 5% do total global. O déficit interno de produção é de 35 mil toneladas de cacau. Com a crise no mercado mundial de cacau, o Brasil tem uma grande oportunidade de voltar a ser um dos principais produtores, com a participação de Minas Gerais.

“O Brasil já foi um dos maiores produtores de cacau do mundo, mas sofreu um grande revés na década de 90 com a doença da vassoura de bruxa, que dizimou a produção. Nos últimos anos, contudo, estamos vendo um esforço significativo, liderado pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), para recuperar a produção e chegar à marca de 300 mil toneladas até 2030”, afirma Pedrosa.

Segundo ele, o Brasil tem como emergir desta crise com uma grande potência na produção de cacau do mundo, substituindo ou adicionando ao saldo mundial esse cacau que está faltando na África.

“O Brasil tem tecnologia, tem uma estrutura do agro fenomenal, é referência mundial, tem clima, tem terras e tem água, tudo que o cacau precisa para poder se expandir. A gente tem acompanhado muito de perto a expansão do cacau para outras regiões que não só o sul da Bahia, que estão fazendo um trabalho sensacional, inclusive de plantio a pleno sol, com pivô, irrigação e tudo mais”, detalha.

Consumidor sente a alta do cacau

close-up-chocolate-arrangement
Crédito: Freepik

A disparada dos preços impõe um dilema às empresas: repassar totalmente o aumento ao consumidor e arriscar a queda nas vendas, ou segurar preços e comprometer as margens. Esse aumento, segundo Pedrosa, não poderia ser absorvido apenas pelas indústrias sem repassar o custo ao consumidor.

“Não tem como um aumento dessa magnitude ser absorvido pelas margens da indústria. Certamente vai ser repassado ao consumidor numa velocidade maior ou menor. Ao longo do ano passado a gente já vinha tendo essa alta do cacau, e esses preços estão chegando ao consumidor agora”, destaca Pedrosa.

A sócia-fundadora da Java Chocolates, Aline Palmiro, revela que a empresa precisou buscar alternativas, como menos variedade, chocolates mais recheados e menor gramatura, para superar os custos e manter a experiência sem estourar o bolso.

“A alta do cacau encarece a produção, mas a elasticidade de preço não nos permite repassar integralmente esse aumento ao consumidor. Enxugamos margens, ajustamos o portfólio e criamos alternativas, como chocolates com menor teor de cacau e embalagens menores para a Páscoa. É um desafio que exige austeridade e criatividade”, conta.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas