Terras-raras ainda precisam de conhecimento geológico no Brasil

Os Estados Unidos voltaram a demonstrar interesse nos minerais críticos e estratégicos (MCEs) do Brasil recentemente. Na mira do governo norte-americano estão, especialmente, as terras-raras, que apesar do nome, não são tão raras e podem ser encontradas em Minas Gerais, assim como em vários outros estados brasileiros. Um grande problema, entretanto, é que o País não tem pleno conhecimento do seu próprio potencial geológico.
Executivo com vasta experiência no setor mineral, Wilson Brumer ressalta que é importante diferenciar terras-raras de minerais críticos. Os minerais críticos são mais amplamente definidos e possuem reservas específicas, como de lítio, cobre, nióbio, tântalo, grafite, entre outros. Já as terras-raras são um grupo de 17 elementos químicos, que estão misturados com outros minérios e, por isso, possuem uma extração e separação complexa e custosa.
Dito isso, ele afirma que a China, além de dispor da maior reserva de elementos de terras-raras do mundo, é responsável por cerca de 80% da produção global e domina a tecnologia de refino. Parte dos produtos dos chineses, inclusive, é enviada para os EUA. Diante de disputas geopolíticas, os norte-americanos querem depender menos do gigante asiático.
O Brasil, conforme o especialista, tem potencial de responder por cerca de 12% a 15% do mercado mundial de terras-raras. Contudo, o País não conhece, de fato, seu subsolo, isso porque pouco teve pesquisas geológicas nas últimas décadas.
O diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Trivellato, também diz que há um grande desconhecimento geológico no Brasil e uma escassez de pesquisas minerais, em decorrência da falta de investimentos. Para ele, ao melhorar a governança da ANM e disponibilizar mais áreas públicas para pesquisas, como tem sido feito nos últimos meses, o País atrai investidores não só dos Estados Unidos, como da Europa e da própria China.

Vale dizer que, nesta semana, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que vai solicitar um levantamento para seu governo de todas as riquezas do solo e subsolo brasileiros. De acordo com o líder do Executivo federal, somente 30% do potencial mineral do Brasil já foi monitorado. A medida veio diante do interesse dos EUA nas MCEs.
Brasil não deve negociar terras-raras em troca de tarifas, afirma especialista
Em meio a tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos, com a tarifa de 50% aplicada sobre os produtos brasileiros que entram no mercado norte-americano, a vigorar a partir da próxima sexta-feira (1º), surgiu a hipótese de o governo federal utilizar as terras-raras como “trunfo” nas negociações. Para Brumer, o País não deve misturar os assuntos, uma vez que é pouco competitivo quando se fala em agregação de valor.
No entanto, caso exista uma negociação entre os dois países que envolva as terras-raras e tarifas comerciais, é preciso que o governo brasileiro exija contrapartidas estruturantes, de acordo com o especialista. “Eu defendo que sejam coisas separadas, mas, se no final do dia, isso venha para a mesa, não devíamos abrir mão de trazer não só recursos, mas também tecnologia para agregar valor ao minério propriamente dito”, sublinha.
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