Economia

Ambipar pede recuperação judicial e prolonga crise

Em 26 de setembro, a Justiça já havia concedido medida cautelar que suspendeu execuções e cobranças por 30 dias, prorrogáveis por mais 30
Ambipar pede recuperação judicial e prolonga crise
Foto: Reprodução Ambipar

A Ambipar informou nesta segunda-feira (20) ter entrado com pedido de RJ (recuperação judicial) na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, confirmando expectativas de mercado que davam a alternativa como inevitável. Em 26 de setembro, a Justiça já havia concedido medida cautelar que suspendeu execuções e cobranças por 30 dias, prorrogáveis por mais 30.

No documento, a empresa de gestão de resíduos e soluções ambientais se declara vítima de “um verdadeiro bullying empresarial” e afirma que precisa de tempo para se reerguer após uma “série de ataques e investidas maliciosas claramente orquestradas”. Também assegura que suas atividades operacionais não foram afetadas pela discussão financeira com os credores.

Quando um pedido de recuperação judicial é aceito, a companhia consegue evitar a cobrança de dívidas e ganha tempo para organizar um plano de pagamento. Ao recorrer ao tribunal, a Ambipar já havia alegado que o potencial de perdas passava de R$ 10 bilhões com a cobrança antecipada e cruzada de suas dívidas.

Agora, afirma que a RJ é importante para que a empresa retome o perfil da dívida, que foi exigida no curtíssimo prazo, em vez do longo prazo originalmente planejado, e reestruturar o passivo sem inviabilizar por completo as operações.

Segundo a Folha apurou, o BR Partners, que havia sido contratado para negociar com os credores, defendeu um caminho sem recuperação judicial, mas foi voto vencido. Os advogados do escritório Galdino e Salomão, que atendem a Ambipar, insistiram na entrada da consultoria Álvares Marsal, especializada em reestruturação.

A crise da Ambipar começou em setembro, quando os seus green bonds (títulos verdes) começaram a ser vendidos e a perder valor. Os títulos lastreavam operações financeiras e deflagraram cobranças do alemão Deutsche Bank. Na sequência, se alastraram por outros credores Santander, Itaú, Bradesco, Banco ABC, Banco do Brasil e Sumitomo Mitsui, para citar os maiores. Estimativas apontam que o grupo teria a receber cerca de R$ 2 bilhões.

No pedido de RJ, a Ambipar é categórica em responsabilizar ex-executivos pela crise que se instalou, em especial o ex-CFO João Daniel Piran de Arruda, e entrou com um pedido, na polícia civil de São Paulo, para a instalação de inquérito policial contra os ex-executivos, que já está em andamento.

A companhia afirma que grupo, sem consulta ao conselho de administração, teria feito a transferência de contratos e assinado aditivos com o Deutsche que iniciaram a escalada de perdas para a companhia e levaram ao risco de cobranças cruzadas de seus débitos.

Em janeiro do ano passado, a Ambipar Lux, uma subsidiária em Luxemburgo, fez a sua primeira emissão de green bonds (títulos verdes). Para se proteger da variação da moeda estrangeira, contratou junto ao Bank of America um tipo de proteção financeira chamado swap cambial.

O swap, como indica o nome, faz a troca de fluxos de pagamento para evitar perdas. O swap está na família dos derivativos, tipos de contratos que têm esse nome porque derivam de algum ativo, como moedas, índices ou ações. O swap cambial deriva de moedas, normalmente troca taxa de câmbio por outro tipo de taxa.

Em agosto, esses contratos foram transferidos do Bank of America para o Deutsche Bank e é aí que começaram as divergências e diferentes versões.

A defesa de Arruda contesta a versão da Ambipar. “Há até mensagens do controlador, CEO e membro do conselho de administração, Tércio Borlenghi Júnior, enviadas ao seu ex-CFO João Arruda comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank”, afirmou o advogado David Rechulski, em nota.

Os maiores escritórios de advocacia do país estão envolvidos na discussão judicial, que promete ser uma das mais ruidosas da história recente desse tipo de disputa, superando até a crise das Americanas.

Pinheiro Neto atende o Deutsche. SOB Advogados, o Itaú e o Sumitomo Mitsui. Machado Meyer e Warde estão com o Bradesco. Demarest, com o Santander. Uma parte dos bondholders (detentores de títulos de dívida) contratou os escritórios Padis Mattar e o Davis Polk.

Executivos que acompanham as discussões contam que o banco Itaú foi especialmente duro nas negociações que antecederam o pedido de recuperação judicial.

Credores ficaram incomodados com a estratégia de levar a discussão para o Rio de Janeiro, apesar de a sede da Ambipar estar localizada em São Paulo. Mas o procedimento incomodou particularmente o Itaú, que considera importante questionar esse ponto para evitar o uso do expediente, que vem ganhando força recentemente.

Criada em 1995, a Ambipar se define, em seu site, como uma multinacional brasileira, líder global em soluções ambientais, presente em 41 países, com mais de 20 mil funcionários. Em 2024, faturou R$ 6,4 bilhões. Opera com projetos de descarbonização, economia circular, transição energética e regeneração ambiental.

A empresa afirma, no comunicado sobre a o pedido de recuperação judicial, que o objetivo é “garantir a preservação das atividades empresariais do Grupo Ambipar, permitindo a continuidade de suas operações e a manutenção dos empregos, contratos e serviços prestados”. “A medida também busca assegurar tratamento equitativo aos credores e promover uma reorganização ordenada e transparente”, completa.

Em paralelo, a Ambipar Emergency Response, que tem sede nas Ilhas Cayman e atua no atendimento contra crises ambientais, químicas e biológicas, entrou nos Estados Unidos com pedido de adesão ao Chapter 11 (processo na Justiça americana equivalente à recuperação judicial).

(Conteúdo distribuído por Folhapress)

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