Economia

Americanas fecha quatro lojas em Belo Horizonte

A mais recente foi no Power Shopping Centerminas; no total são quatro lojas que encerraram as atividades na capital mineira até o momento neste ano
Americanas fecha quatro lojas em Belo Horizonte
Além da unidade do Power Shopping Centerminas, em Belo Horizonte, a rede fechou a loja no Shopping Del Rey e nos bairros Ouro Preto e Gutierrez, em 2025 | Foto: Divulgação Lojas Americanas

A unidade das Lojas Americanas do Power Shopping Centerminas, no bairro União, na região Nordeste de Belo Horizonte, foi fechada no primeiro sábado (4) do mês. Com luzes acesas e funcionários dentro da loja conversando, mas sem trabalhar, a loja estava fechada com um bilhete: “Encerramos nossas atividades. Não abriremos”. Em recuperação judicial desde a crise por irregularidades contábeis que estourou em 2023, a empresa tem fechado algumas de suas unidades pelo País e dispensado trabalhadores.

Chamados para esclarecimentos, nenhum funcionário veio de encontro à reportagem para explicar o que estava acontecendo. Um dos seguranças do shopping, que preferiu não se identificar, confirmou o encerramento da loja, mas também não soube informar o que havia acontecido.

Procurada, a Lojas Americanas, por meio de nota, informou que “o processo de abertura e fechamento de lojas físicas faz parte do curso normal do varejo”. E alegou que a empresa segue no plano de transformação da companhia, que prevê ajustes de curto e médio prazos, com foco na rentabilidade, otimização do negócio e atendimento aos comportamentos de consumo em determinadas regiões.

Ainda segundo a nota, a jornada de evolução da empresa contempla, entre outras frentes, a reestruturação estratégica do parque de 1.500 lojas em todos os estados do País para aprimoramento operacional e melhora da experiência dos mais de 50 milhões de clientes. O movimento, segundo a empresa, inclui ajustes da presença física em locais onde há sobreposição de unidades, como ocorria com a loja no Power Shopping Centerminas.

A empresa reforçou também que, nesse caso, os clientes podem continuar adquirindo produtos e serviços pelo aplicativo ou site da empresa e na unidade mais próxima, que é a do Minas Shopping, localizada a 600 metros da unidade fechada, e que será reformada ainda este ano.

A unidade do Centerminas foi a quarta a encerrar atividades este ano em Belo Horizonte, conforme comunicou a empresa. A Lojas Americanas informa que mais de 20 lojas seguem abertas na capital mineira. Apesar de a varejista não divulgar quais foram as unidades fechadas na cidade, além do Centerminas, o Diário do Comércio tem ciência do encerramento das atividades da loja do shopping Del Rey (região Noroeste), além de unidades nos bairros Ouro Preto (região da Pampulha) e Gutierrez (região Oeste).

Quanto aos colaboradores das operações encerradas, a empresa alega que, sempre que possível, são realocados para outras lojas. E em se tratando das questões judiciais, a Lojas Americanas diz estar cumprindo com todas as obrigações trabalhistas.

Em julho de 2023, pouco após a explosão da crise, a empresa chegou a desligar 1.404 funcionários em todo o País. As demissões ocorreram após a empresa entrar em recuperação judicial devido ao rombo de R$ 20 bilhões em seu balanço, decorrente de inconsistências e fraudes contábeis pela antiga diretoria.

Em Minas Gerais, o Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte e Região confirmou, na época, que as demissões estavam acontecendo. Procurados agora novamente, o presidente do sindicato, João Periard, informou que no total, desde o início da crise, 121 homologações foram feitas na entidade, sendo 97 em 2023 e 24 em 2024. Este ano, não há registros de homologações.

Ainda na nota enviada à reportagem, a Lojas Americanas informou que o plano de transformação do negócio, já demonstra resultados com o crescimento de dois dígitos nas vendas. A empresa também alegou que para atender à alta demanda de consumo no fim de ano, está com inscrições abertas para 360 vagas efetivas e temporárias na região.

Minas Gerais é Estado estratégico para varejista

Segundo a empresa, Minas Gerais tem a terceira maior presença da Americanas no País, com um centro de distribuição estrategicamente posicionado em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, para abastecer as mais de 120 lojas da companhia em Minas e dezenas de lojas em Goiás, Tocantins e Distrito Federal.

Também procurada, a administração do Centerminas informou por meio de sua assessoria que “por questões contratuais, eles não são autorizados a falar sobre o encerramento de atividades”. Questionada se alguma marca já estaria prevista para substituir o ponto, a assessoria informou que não há informações.

Relembre a crise

Em janeiro de 2023, a empresa anunciou que havia identificado irregularidades contábeis, com um déficit de aproximadamente R$ 20 bilhões, que haviam sido escondidas por manipulação de seus balanços financeiros ao longo de anos.

A descoberta levou a uma sequência de eventos judiciais, incluindo o pedido de recuperação judicial da companhia, que afetou milhares de fornecedores e comprometeu a confiança dos investidores. A crise da Americanas também gerou um impacto no mercado financeiro, afetando as ações da empresa e provocando uma análise rigorosa sobre a governança corporativa no Brasil.

A crise expôs falhas graves na administração da varejista e o escândalo de corrupção envolvendo executivos da Lojas Americanas gerou uma onda de reações no setor e na política econômica.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acusou quatro ex-executivos, juntamente com outros ex-gestores da empresa, de uso de informação privilegiada. O Ministério Público Federal denunciou treze ex-executivos e ex-funcionários da Americanas por envolvimento em fraudes. Os promotores apontaram o ex-CEO, Miguel Gutierrez, como o principal responsável pelas fraudes.

A partir da divulgação do rombo, a companhia iniciou um processo de reestruturação, tentando recuperar a confiança do mercado, além de buscar soluções para honrar suas dívidas. A situação gerou um intenso debate sobre a transparência financeira das grandes corporações no Brasil e sobre as consequências para os trabalhadores e consumidores, uma vez que a Lojas Americanas era uma das principais redes de distribuição no País.

Esta semana, mais um ex-diretor firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público, somando quatro ex-executivos a fechar a colaboração.

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