Economia

Acordo de Mariana excluiu prefeituras das cidades mineradoras na avaliação da Amig

Entidade entende que tratativas excluíram as prefeituras das cidades mineradoras
Acordo de Mariana excluiu prefeituras das cidades mineradoras na avaliação da Amig
Foto: Fred Loureiro

A Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig) considera que o Acordo de Mariana, assinado no último dia 25 após nove anos de discussões, foi feito de cima para baixo e excluiu as prefeituras das cidades mineradoras na tomada de decisão, afirma o consultor de Relações Institucionais e Econômicas da entidade, Waldir Salvador.

“Os municípios (mineradores) deveriam ter sido chamados para participar do acordo não é depois que ele foi assinado não. Os municípios tinham que ter opinado por ele”, declarou Salvador.

Ele critica que o Acordo de Mariana prevê a destinação de recursos para melhorias em trechos da BR-262, BR-040 e BR-356, conforme pleiteado pela Amig, mas que a associação não está segura em que partes das rodovias federais terão obras, como as de duplicação, que beneficiarão a população de uma forma justa. “Eles colocam (duplicação) na BR-356 só no percurso onde o rio Doce passa. E onde ela (a tragédia) impactou que não passa?”, questiona.

O consultor da associação teme que outras tragédias como a de Mariana possam acontecer no futuro, por conta do alegado sucateamento da Agência Nacional de Mineração (ANM), que não foi devidamente fortalecida no Acordo de Mariana. “Estão reparando o efeito, mas não fizeram nada para ir na causa, que é a estruturação da agência. A gente esperava que parte desses recursos fosse para que a agência tivesse toda a estrutura que ela não tem hoje para fiscalizar”, alerta.

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O enfraquecimento da fiscalização da ANM facilita a sonegação da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) por parte das mineradoras, como demonstrado em auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), que identificou R$ 12,4 bilhões do pagamento da Cfem que não foram arrecadados no período de 2014 a 2021. Pelo menos R$ 4 bilhões já foram perdidos de forma definitiva entre 2017 e 2021.

A Amig considera que, assim como no Acordo de Mariana, as prefeituras dos municípios diretamente afetados por outra tragédia, a de Brumadinho, também ficaram de fora da discussão sobre destinação dos recursos no acordo firmado entre o governo de Minas Gerais e a Vale.

“Na hora que você pode ter, pelo menos, alguma reparação para colocar essas cidades mais competitivas, mais atraentes para novos negócios, o governo federal, estadual e a própria mineradora desconsideraram isso. A gente considera um erro gravíssimo”, disse Waldir Salvador.

Ouro Preto entrará com mandado contra Acordo de Mariana

A Amig reivindica a necessidade de transparência na destinação dos R$170 bilhões do Acordo de Mariana e de uma supervisão ativa dos projetos de reparação. A entidade se comprometeu a acompanhar de perto o processo de homologação do acordo no Supremo Tribunal Federal (STF).

Waldir Salvador considera o montante destinado à repactuação como um paliativo diante da extensão dos danos socioambientais da tragédia de Mariana e que nenhuma quantia financeira poderá reparar adequadamente a devastação ocorrida.

Inclusive, o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo (PV), já anunciou que entrará com um mandado de segurança contra o Acordo de Mariana. O prefeito ouro-pretano chamou a Fundação Renova de “uma das maiores armadilhas já montadas no Brasil para lesar o interesse público” e disse que a cidade perdeu nove anos nas mãos da fundação.

A medida é endossada pela Amig. “O prefeito de Ouro Preto está certíssimo e acho até que, se ele não fizesse isso, ele não estaria sendo um bom gestor, estaria ignorando uma obrigação em contribuir para que o território dele não seja lesado”, finaliza Waldir Salvador.

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