Economia

Analistas recomendam cautela aos investidores

Analistas recomendam cautela aos investidores
Crepaldi aponta que a bolsa brasileira pode ter desempenho positivo | Crédito: Divulgação

“Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos” – esta é uma frase famosa no mercado de capitais, atribuída ao financista londrino Nathan Rothschild. Basicamente, ela determina que se aproveite os momentos de terra arrasada para se beneficiar após o armistício. Mas nem sempre é assim e cautela é tudo o que os analistas de investimentos estão aconselhando aos investidores nesta primeira semana de conflito entre Rússia e Ucrânia.

Para o diretor de gestão de patrimônio na WIT – Wealth, Investments & Trust, André Crepaldi, não é hora do investidor tomar alguma atitude precipitada. “A ideia é manter a cautela, manter a carteira diversificada, conversar com quem lhe dá suporte, apertar o cinto e seguir. Esperamos que a solução da guerra ocorra em breve”, acredita. “Quem já tem carteira diversificada, deve confiar na estratégia de longo prazo, seguir com a estratégia adotada, fazendo apenas as correções pontuais”, completa. 

Para ele, a  bolsa brasileira pode se beneficiar de algumas combinações. Por um lado, o País é importante produtor de commodities, com grandes empresas de siderurgia, carnes e outros produtos do agronegócio. E pode se beneficiar da entrada de capitais estrangeiros, que estão saindo da Rússia, que é um mercado emergente, e migrando para outros mercados emergentes, como é o Brasil. Ou seja, segundo Crepaldi, a perspectiva para a bolsa brasileira, mesmo com a guerra, ainda é positiva.

Para os clientes de longo prazo, a própria diversificação da carteira tem como objetivo suportar essas intempéries. A orientação da WIT para seus clientes tem sido a de ser um pouco mais conservador e ter caixa para aproveitar algumas oportunidades, que surgem num ambiente mais volátil. “Para fazer uma alocação mais certeira, antes de qualquer decisão, o investidor deve responder a duas perguntas: pra que e pra quando?” Ou seja, o objetivo do cliente vem antes de tudo”, indica o analista. 

A gerente regional da XP Inc. em Minas Gerais, Jéssica Oliveira, frisa que, antes de qualquer coisa, “é preciso entender que este ainda é um momento de incertezas e cada dia é um dia”. A principal dica da corretora para os investidores é ter calma, não tomar decisões por impulso, motivado por medo ou insegurança, e apostar na diversificação de ativos. “Alguns reflexos dessa crise são inevitáveis para o mercado financeiro, mas a experiência nos mostra que ele se recupera”, revela Jéssica Oliveira.

Para ela, o impacto econômico mais direto da guerra ocorre sobre os preços internacionais das commodities. Rússia e Ucrânia são produtores importantes de commodities energéticas (petróleo e gás), agrícolas (milho e trigo) e fertilizantes e os custos destes produtos, que já vinham subindo significativamente por conta dos efeitos da pandemia, recebem forte impulso adicional com a ação militar russa.

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“Algumas commodities energéticas, metálicas e agrícolas registraram picos nos seus preços nos últimos dias. Sabendo do peso que elas têm para a bolsa brasileira, seguimos cautelosamente otimistas com a alocação em renda variável no País e, em contrapartida, estamos neutros sobre a exposição à renda variável global, que terá desafios com o atual ambiente geopolítico”, diz a analista.

Pontos favoráveis

A XP detectou alguns fatores que favorecem a bolsa brasileira. São eles a rotação global de crescimento para valor, ou seja, o movimento entre setores considerados de crescimento (growth), que estão sendo preteridos em relação aos setores de valor (value), de ações consideradas mais baratas; a forte exposição às commodities e os múltiplos de entrada muito baixos. 

A corretora também constatou o movimento de capitais estrangeiros, apontado por Crepaldi. “Recentemente, identificamos um movimento de fluxos saindo da Rússia e migrando para outros países emergentes, como o Brasil”, confirma Jéssica. Para ela, a melhor opção de investimentos é sempre a diversificação, que garante uma solidez maior, mesmo em cenários adversos.

O sócio-diretor da Belo Investiment Research, Paulino Oliveira, também acredita que este é um momento de manter cautela. No emaranhado de incertezas que nasce do conflito europeu, ele não tem dúvidas de que pode fazer mais sentido voltar os olhos para a renda fixa, o ouro e o setor imobiliário.

Mas se o investidor tiver apetite de risco, pode literalmente apostar nas empresas de petróleo e gás, que oferecem oportunidades a curto prazo, mas estão sujeitas à incerteza representada por eventos próximos – a Petrobras, por exemplo, sofre pressões políticas no Brasil.

Alguns desses eventos se desenham de imediato, como o fato dos Estados Unidos utilizarem reservas de petróleo para controlar o preço do barril. Outros eventos são provocados por questões de realinhamento geopolítico que se refletem na economia.  “A Otan não honrava os gastos com armamento, de 2% do PIB. A Alemanha já segue por esse caminho”, cita Oliveira. “E já há sinalização para conter a exportação de fertilizantes russos, o que impacta o Brasil”, completa.

O risco, no entanto, deve ser refreado no caso do mercado de cripto, que já opera em viés de baixa por questões de regulamentação e, por isso mesmo, “fica mais perigoso”. “Melhor focar em setores mais seguros. Energia, por exemplo, com Cemig e afins. Mineração também. E bancos, um ativo que pode ser arriscado na Europa por causa da posição Ucrânia, mas não aqui”, aconselha Paulino. 

Dividendos dos bancos

O setor financeiro, aliás, é uma opção levantada por Juliano Lima Pinheiro, ex-presidente da  Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-MG). 

“Ao invés de ficar cobiçando os elevados resultados dos grandes bancos, por que não se tornar sócio deles e dividir os lucros?’ – brinca o analista, hoje professor de Finanças da Faculdade de Economia da UFMG.

 “Banco sabe lidar com crise”, diz Pinheiro, que vê boas possibilidades também nas empresas de mineração e de commodities agrícolas. Simplicidade é a palavra mágica neste momento de incertezas: é sempre bom ter um pouco de renda fixa e, neste momento de inflação, buscar um porto seguro em um título público.

 Mas a renda variável continua tendo lugar na carteira dos bons investidores. “É importante garantir meu futuro e minha velhice, então vou investir em boas empresas pagadoras de dividendos. Elas podem ser inclusive uma oportunidade neste momento, já que suas ações podem cair de preço”, orienta o professor. 

Mas basicamente, o investimento no mercado de capitais não tem milagre. E o que salva o investidor nessa hora saber o que ele quer. Isso quer dizer, primeiramente, não se pautar por conjunturas imediatas. Quando for investir, tem que traçar uma meta: o objetivo é ter dinheiro para a aposentadoria? Comprar uma casa? Atender a uma emergência? A partir desta meta é que o investidor vai buscar um produto no mercado.

Segundo Juliano Pinheiro, pra começar, o mundo não vai acabar. “Se o investidor tem um plano, não vai mudá-lo porque há uma guerra na Europa. Quando acontecem coisas ruins, as pessoas tendem a entrar em pânico e se desfazem de coisas boas. E podem acabar compram falsas promessas de gente que trabalha para instituições que precisam vendê-las”, alerta o professor. 

Neste contexto, a solução é fechar os ouvidos para o canto da sereia. “Dinheiro é um meio para trazer felicidade. Ele não pode gerar a obrigação de ganhá-lo”, conclui.  


O desafio da Segurança Energética
O desafio da Segurança Energética

O que é Segurança Energética?

São medidas adotadas para evitar a falta do abastecimento de energia, provocada por fatores como a escassez hídrica e até mesmo dificuldades inerentes aos tipos de fornecimento. Associada a essas medidas está a segurança na disponibilidade de energia adequada, de qualidade e a preços acessíveis.

Quais os próximos eventos sobre Segurança Energética?

“O desafio da Segurança Energética” é um evento on-line gratuito que ocorrerá no dia 16 de março de 2022, a partir das 10h, com transmissão via plataforma Youtube. Na ocasião, profissionais qualificados e renomados do setor discutirão sobre os caminhos a serem percorridos para garantir o fornecimento de energia elétrica seguro.

A Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) é a instituição realizadora do evento, que tem correalização do jornal Diário do Comércio — veículo de imprensa de Minas Gerais quase centenário e especializado em economia, gestão e negócios.

Evento sobre energia elétrica
Arte: Diário do Comércio
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