Alta nos juros e apostas esportivas impulsionam dívidas das famílias em BH

Apesar de ser marcado por recuperações, especialmente com relação ao poder de compra, o último trimestre de 2024 indica um cenário de avanço na inadimplência em Belo Horizonte. Em novembro, 56,1% dos lares tiveram contas em atraso – aumento de 1 ponto percentual (p.p.) em relação a outubro, conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), analisada pelo Núcleo de Pesquisa e Inteligência da Fecomércio MG.
O endividamento também está maior. Segundo o levantamento, 91,3% dos entrevistados admitem ter algum compromisso financeiro – avanço de 0,6 p.p. Entre esses, 37,9% se dizem pouco endividados, 36,9% possuem dívidas moderadas, enquanto 16,4% consideram-se muito endividados.
No recorte das famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos, o comprometimento da renda se mostra ainda mais acentuado (59%). No total, o levantamento indica que 61,5% da população de Belo Horizonte possui dívidas em atraso e somente 51,6% terão condições de pagá-las, total ou parcialmente, no próximo mês.
Para a economista da Fecomercio MG, Gabriela Martins, um dos fatores que explica o avanço da dívida do belo-horizontino é o aumento da taxa de juros, que faz com que as famílias tenham mais dificuldades em pagar dívidas já existentes.
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“Com a alta da Taxa Básica de Juros (Selic), podemos ter uma trajetória de alta na inadimplência. Isso acontece porque o crédito se torna mais caro e as dívidas em atraso ficam com juros ainda mais altos, o que torna, muitas vezes, o pagamento inviável por parte das famílias”, explica.
A economista também cita que outros fatores podem estar relacionados ao atual cenário, dentre eles, gastos cada vez maiores com jogos on-line, também chamadas de bets. Segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, 63% dos entrevistados avaliam que tiveram comprometimento na renda principal em decorrência das apostas, o que impactou em outros gastos como roupas, supermercados e até mesmo no pagamento de faturas recorrentes em 2024.
Restrição de crédito leva famílias a retornarem aos carnês
Herói ou vilão do orçamento familiar? Apesar da praticidade, o cartão de crédito é a forma de pagamento onde 93,5% da população mais concentram dívidas. A modalidade lidera ainda mais entre famílias que ganham acima de 10 salários mínimos, com 98%, seguido pelo financiamento do carro, que atualmente é responsável pelas dívidas de 25,2% da população em Belo Horizonte.
Apesar disso, Gabriela Martins destaca que, ao longo dos meses, houve um aumento da busca pelo uso do carnê, que hoje é responsável pelo endividamento de 26% da população que ganha até 10 salários mínimos.
“Este comportamento pode estar atrelado a uma restrição de crédito das famílias que buscam essa modalidade para conseguir manter o seu consumo e, muitas das vezes, comprar bens duráveis”, pontua.
Para 2025, economista ressalta que a expectativa é que o endividamento se mantenha estável, entretanto, em patamares elevados. “Com a nova alta da Selic e as próximas altas anunciadas pelo Banco Central, esperamos que a inadimplência continue elevada, tendo em vista o encarecimento da dívida atrasada das famílias aliada a juros extremamente altos”, finaliza.
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