Armazenamento é uma saída para desafio de oferta da geração de energia

Os investimentos vultosos em energia eólica e solar aumentaram de sobremaneira a capacidade de geração de energia limpa no Brasil. Entretanto, a grande oferta ainda não se traduz em benefício ao consumidor final e o mercado de armazenamento de energia pode ajudar nisso, observa o conselheiro da Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia (Absae), Marcelo Rodrigues.
O conselheiro, que também é vice-presidente de negócios e inovação da multinacional brasileira UCB Power, explica que o Brasil tem um “desafio de oferta”, com capacidade de geração de energia maior do que a de entrega. Esse desequilíbrio é resultado dos investimentos dos últimos cinco anos em energia eólica e solar. “Muitas empresas não conseguem entregar a energia para o cliente, e aí sim a bateria tem o papel importante de apoiar o armazenamento dessa energia”, disse.
Ele faz o contraponto com as grandes usinas hidrelétricas (UHE), que contam com o reservatório para armazenar sua capacidade de geração de energia, como uma espécie de bateria. “Com muita energia renovável (eólica e solar) disponível, também vamos ter que fazer esse armazenamento com bateria”, destacou.
O conselheiro da Absae considera que o mercado brasileiro está atrasado em relação ao exterior. Em 2023, a capacidade de armazenamento de energia dobrou no planeta. O impulso que falta para o País dar um salto no setor passa pelo ambiente regulatório, na definição da implementação das baterias no sistema on-grid, a cargo do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
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“Nós estamos atrasados, mas já temos vários projetos relevantes. O Brasil começou nos últimos dois ou três anos também a fazer esse papel de relevância no segmento”, destacou Marcelo Rodrigues. Além da regulação, o setor brasileiro busca aperfeiçoar a produção local para ganhar competitividade no custo de produção.
A produção local tem diferenciais importantes das importações, em sua maior parte, de origem chinesa, como o entendimento das particularidades do mercado brasileiro. “A matriz elétrica brasileira é diferente do mundo. Temos um dos maiores sistemas integrados do mundo, além da Amazônia legal”, comenta Rodrigues.
“São os desafios de ser um sistema isolado, temos maior capacidade de energia na Amazônia, mas não adianta trazer produto de fora, tem que entender dificuldades de clima, logística, ter um entendimento local”, ressaltou.
País alcançará demanda para fábrica de células de lítio em até cinco anos
Com a descoberta de jazidas de lítio em Minas Gerais, insumo essencial para as baterias mais eficientes do mercado, o Estado e todo o setor do País estão ansiosos com os benefícios que o chamado ouro branco da transição energética pode trazer. “Temos os minérios mais importantes para a transição energética, por isso que Minas tem de ser protagonista nessa agenda”, afirma o conselheiro da Absae.
Apesar de uma parte eletrônica ser produzida em território nacional, o Brasil ainda não é produtor das células de lítio, que são importadas do continente asiático. No entanto, Marcelo Rodrigues disse acreditar que, com o crescimento da demanda de armazenamento de energia, o País logo terá também uma fábrica deste item.
A expectativa é muito positiva com o mercado nacional. A projeção de crescimento é que o mercado brasileiro de armazenamento de energia dobre de tamanho em 2024. Uma fábrica de células de lítio impulsionaria ainda mais o setor.
“Hoje a demanda do Brasil é de 300 quilowatts (kW) de armazenamento, mas rapidamente, nos próximos três a cinco anos, a gente deve atender a demanda de cinco gigawatts (GW). Aí sim consegue chegar na demanda para uma fábrica de célula”, finaliza Rodrigues.
Tendo em vista este mercado, por exemplo, a UCB Power anunciou investimentos de R$ 380 milhões na ampliação da sua fábrica de soluções em armazenamento de energia em bateria, na cidade de Extrema, no Sul de Minas Gerais.
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