Economia

Arrecadação de seguros cresce 22,3% no Estado

No ano até agosto, setor no Estado viu a arrecadação crescer 22,3%, 5 p.p. a mais do que a alta verificada no País
Arrecadação de seguros cresce 22,3% no Estado
Seguro automóvel subiu 40,1% nesses oito primeiros meses em Minas, com uma arrecadação total de R$ 2,7 bilhões | Crédito: Charles Silva Duarte / Arquivo DC

O mercado segurador de Minas Gerais está aquecido. De janeiro a agosto deste ano, a arrecadação do setor no Estado foi 22,3% maior que no mesmo intervalo de 2021. A análise foi feita com base na receita dos seguros de danos e responsabilidades, cobertura de pessoas, além de capitalização. Excluíram-se os segmentos de saúde suplementar e DPVAT. 

O Estado é o terceiro da federação que mais arrecada com seguros, atrás apenas do Rio de Janeiro (2º) e São Paulo (1º). O aumento na arrecadação mineira no acumulado dos oito primeiros meses do ano ficou acima dos dois maiores mercados do País. A alta foi tão expressiva que ainda superou em cinco pontos percentuais (p.p.) o crescimento brasileiro de 17,3%.

As informações são do diretor-técnico e de estudos da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), Alexandre Leal. 

Segundo ele, em termos de crescimento de arrecadação, os seguros que se destacaram no período são aqueles voltados para o segmento de danos e responsabilidades. “Destacaria o seguro automóvel, que cresceu 40,1% nesses oito primeiros meses em Minas com uma arrecadação de R$ 2,7 bilhões. Ele é um segmento importante. Em Minas Gerais, ele representa, entre todos os seguros vendidos, em torno de 3,7%”, destacou. 

“Também destacaria o seguro de transportes, que teve um avanço expressivo em Minas, na casa dos 54,9%. Ele já é um produto que tem uma participação menor na carteira. Ele representa cerca de 1,5% dos prêmios arrecadados no Estado, mas apresentou R$ 290,5 milhões de receita, um crescimento expressivo”, ressaltou.

O seguro rural também tem uma boa participação na carteira de seguros do Estado (3,3% em prêmios arrecadados). De acordo com Leal, esse produto teve um crescimento alto no País, e em Minas Gerais não foi diferente. “Ele avançou 53% nesses oito primeiros meses, com R$ 664,6 milhões de arrecadação”.

O mercado em Minas Gerais

O diretor-técnico e de estudos da CNseg afirma que Minas Gerais está à frente da média brasileira no mercado de seguros relacionados à cobertura de pessoas. Entretanto, no segmento de danos e responsabilidades a arrecadação é um pouco menor. 

“No Brasil, o setor de seguro de pessoas – que pega tanto seguro de vida, prestamista, viagem, como também planos de acumulação, principalmente, o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) e o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) – representa 60,6% da arrecadação de seguro. Em Minas é quase 63%. Então, proporcionalmente, ele é um pouquinho mais forte em Minas do que no resto do Brasil. Em contrapartida, o seguro de danos e responsabilidades é um pouquinho mais baixo. No Brasil, ele representa 31,5% e em Minas, 28,4%”, disse.

Conforme Leal, o VGBL, “considerado um seguro de vida, com cláusulas de sobrevivência”, é o produto mais vendido no Estado. As contribuições feitas aos planos VGBL representam 41% do total de prêmios e contribuições relacionadas aos produtos de seguros, previdência e capitalização no País. Em Minas, esse número se estende para 45%.

Juros altos se somam a riscos em pressão sobre custos

O setor de seguros, assim como vários outros setores da economia brasileira, sofre com inúmeras variáveis que alteram os custos para as seguradoras e, consequentemente, para o cliente final. De acordo com o diretor-técnico e de estudos da CNseg, Alexandre Leal, alguns dos fatores que podem influenciar a oscilação dos preços são o risco inerente ao produto, a inflação e o custo de capital das empresas.

As mudanças climáticas que afetam as safras, por exemplo, alteram os custos do seguro rural. Segundo ele, esse fator “aumenta a indenização e é natural que o segurador venha a aumentar o preço lá pra frente”. As despesas administrativas das seguradoras que tiveram aumento junto à inflação também pressionam os preços. 

Após um longo período de reajustes para cima na taxa básica de juros da economia, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 13,75%. Apesar da manutenção, Leal destaca que a alta dos últimos meses afetam os negócios e é mais uma variável para a formação de preços. 

“Isso também acaba de uma certa forma tendo impacto no preço do produto. Na verdade, para qualquer setor da indústria, em qualquer setor econômico, se o custo de capital aumenta, o acionista acaba por exigir uma rentabilidade maior daquele negócio senão ele vai buscar atividades que remuneram melhor o capital”, afirmou. 

Entre riscos que ajudam a elevar preços de seguros estão as mudanças climáticas, que afetam as safras como a de café | Crédito: Roosevelt Cassio/Reuters

Desafios do setor

As seguradoras também têm desafios pela frente, entre eles, a alta no pagamento de indenizações. Na comparação do acumulado de janeiro a agosto de 2022 com o mesmo período de 2021, o total de indenizações, benefícios, resgates e sorteios pagos no Brasil cresceu 21,4%. Enquanto isso, a arrecadação subiu 17,3%, ou seja, uma diferença de quatro p.p.

De acordo com o diretor-técnico e de estudos da CNseg, somente nos oito primeiros meses do ano foram pagos R$ 20,2 bilhões em indenizações relacionadas ao seguro de automóvel. No ano passado, esse valor era de R$ 14,1 bilhões, ou seja, aumento de 43,5%. Já no seguro rural, foram pagos em indenizações R$ 9,5 bilhões. No mesmo intervalo de 2021, o valor foi de R$ 4,1 bilhões, uma significativa alta de 131,6%.

Conforme Leal, nos últimos anos, vários normativos foram publicados pelo órgão regulador, facilitando a criação de novos produtos adequados às necessidades dos clientes. Mas ainda existem outras demandas que requerem a atenção das seguradoras.

“Uma delas é o open insurance, que é um ecossistema onde as informações dos produtos de seguros vão ser disponibilizados de forma padronizada para a sociedade. Os clientes que assim desejarem poderão compartilhar as suas informações de uma seguradora para outra. Ele pode pedir que uma seguradora informe para outra como é que foi a vida dele enquanto segurado daquela empresa para ver se eventualmente a outra seguradora quer oferecer um produto que seja mais adequado às suas necessidades”, disse. 

“Então é um projeto muito grande, que começou no ano passado com a publicação dos normativos e tem o prazo de conclusão em meados do ano que vem. Isso também é um desafio bastante grande para as empresas que estão envolvidas e requer investimento em pessoas, em capital e em ajuste de sistemas e processos, enfim, talvez seja o projeto hoje em dia que esteja demandando o maior esforço das seguradoras para se adaptar”, completou.

Outros desafios citados por Leal dizem respeito à evolução da digitalização de processos e ao ambiente econômico brasileiro, em especial, em ano de eleição, no qual a economia tende a ficar mais volátil. (TH)

Eleição não deve afetar expansão

Quanto à expectativa do setor de seguros para os últimos meses do ano, o diretor-técnico e de estudos da CNseg, Alexandre Leal, afirma que o cenário é de otimismo.

“Você está com um crescimento robusto como um todo e particularmente em Minas. É um cenário otimista, sim. Recentemente, a gente revisou as nossas projeções para cima, hoje os números que a gente tem são mais altos do que tínhamos no começo do ano”, destacou. 

Ele ressalta o fato de haver uma cautela por se tratar de ano de eleição. No entanto, com a inflação dando sinais de que vai se acomodar e a melhora de outras variáveis, como a redução do desemprego, o setor poderá se beneficiar.

“Muitos produtos de seguro têm relação com outras indústrias e acaba que uma coisa puxa a outra. Então, se você tem uma recuperação em uma indústria de obras de infraestrutura, por exemplo, vai ter que ter seguro para isso. Se você tem uma recuperação na venda de imóveis, vai ter que ter seguro. Então o setor de seguros tem uma conexão alta com outros vários setores da economia, e a economia melhorando ele vai junto”, salientou.

Um novo levantamento da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) revisou para cima o crescimento da arrecadação do setor para 2022. A previsão de arrecadação (sem saúde e DPVAT) no Brasil é de cerca de R$ 350 bilhões, alta de 13,7%. A pesquisa anterior indicava avanço de 10,3%.

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