Atividades não essenciais voltam a fechar na Capital

Depois de poderem voltar a funcionar de portas abertas por pouco mais de um mês, comércio de rua, shoppings, bares, restaurantes, salões de beleza, academias e outros segmentos considerados não essenciais de Belo Horizonte estão com atividades físicas suspensas novamente.
Esta é a quinta vez, desde a chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil, em março do ano passado, que apenas atividades essenciais estarão liberadas na capital mineira.
Assim, somente farmácias, supermercados, padarias, sacolões, açougues, postos de combustíveis, óticas, lojas de material de construção, agências bancárias, oficinas mecânicas, entre outros poucos estabelecimentos poderão funcionar com as portas abertas. A medida começa a valer às 14 horas de hoje (6).
“Temos números absolutamente assustadores e não vemos outro caminho, por isso, retomamos à estaca zero. Preciso da colaboração das cidades do entorno de Belo Horizonte, peço aos prefeitos: precisamos tomar atitudes. Peço desculpas ao comércio, ao povo e ao trabalhador”, anunciou o prefeito Alexandre Kalil (PSD).
A decisão pelo retorno à fase 0 de controle da pandemia ocorreu após reunião do líder do Executivo da Capital com os membros do Comitê de Enfrentamento à doença da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) na última sexta-feira (5) e levou em conta as taxas de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) específicos para Covid-19, que saltaram sete pontos percentuais de um dia para outro.
Conforme o boletim epidemiológico, a taxa saiu de 74% para 81% de quinta-feira (4) para sexta-feira e a ocupação em leitos de enfermaria para coronavírus chegou a 61,9% – antes era 60,8%. Já o número médio de transmissão por infectado (RT) caiu de 1,18 para 1,16 – ainda em estado de alerta.
O prefeito, que admitiu que foi “tomado por um otimismo enganoso e perigoso” com os números que havia recebido no meio da semana, disse que novamente os números é que vão ditar por quanto tempo a cidade ficará fechada.
Quanto à adesão ao programa Minas Consciente, do governo estadual, que nesta semana criou a onda roxa, impositiva aos municípios situados em regiões com situação crítica na rede hospitalar, Kalil argumentou que Belo Horizonte seguirá com a metodologia própria.
“Temos nossa metodologia, estamos seguindo nosso próprio rumo e por uma questão de responsabilidade vamos continuar com ela. Estamos reeditando o decreto de março do ano passado, fechando tudo, inclusive parques e clubes. Não vamos esperar perder o controle da situação na cidade para tomar uma atitude”, justificou.
Comércio
Por meio de nota, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) disse que compreende a decisão da Prefeitura de Belo Horizonte de mais uma vez fechar o comércio da cidade, uma vez que o País vive o maior pico da pandemia. “Temos que reunir todos os esforços para que possamos salvar vidas”, disse, lamentando o anúncio ter sido feito a menos de 24 horas do fechamento.
Mas a entidade também fez cinco reivindicações para a Prefeitura: que tenha o máximo de empenho na abertura de novos leitos; melhore a fiscalização; estabeleça o diálogo com as entidades que estão dispostas a cooperar; lidere uma ação sintonizada com os municípios da região metropolitana; e busque um diálogo com o governo do Estado.
“É inadmissível uma tragédia dessas como a que estamos vivendo e a Prefeitura não ter o mínimo de diálogo com o governo do Estado para enfrentar o problema de forma conjunta”, diz a nota assinada pelo presidente Marcelo de Souza e Silva.
Mortes podem ir a 3 mil por dia sem restrições no País

Brasília – O número de mortes causadas pela Covid-19 pode chegar a 3 mil por dia se medidas de restrição não forem adotadas, mas, apesar de concordar com as estimativas apresentadas pelo gabinete de crise da Covid-19, o Ministério da Saúde não vê chances de propostas restritivas serem aceitas pelo presidente Jair Bolsonaro, disseram à Reuters fontes que acompanharam as discussões.
Em meio à aceleração de mortes no País, a conta feita pelo gabinete de crise – formado pela Casa Civil, Ministério da Saúde, representantes de estados, municípios e sociedade civil – leva em conta a velocidade do aumento de casos, das mortes e a lotação das UTIs no País, em que 26 das unidades da Federação têm hoje mais de 80% dos leitos ocupados, de acordo com uma das fontes ouvidas pela Reuters.
Apesar de alegar que não faz estatísticas e esse acompanhamento seria responsabilidade dos estados e municípios, os representantes do governo que compõe o comitê concordaram que esse era o cenário mais provável. O Brasil vem quebrando recordes sucessivos de mortes diárias. Na quarta-feira, chegou ao número mais alto: 1.910. A média móvel dos últimos 14 dias é a maior desde que a epidemia começou, 1.250.
A resposta do Ministério da Saúde aos números recordes foi, segundo uma das fontes, que havia pouco a se fazer nesse momento, mas o ministério iria investir na reativação de hospitais de campanha nos estados e na habilitação de novos leitos de UTI, onde fosse possível.
Oficialmente, o ministério nega que trabalhe com a possibilidade de o País chegar a 3 mil mortes por dia. Procurado pela Reuters, a informação é que “o ministério não faz estimativa, apenas recomenda cuidados, mas caberá aos estados e municípios determinarem suas necessidades”.
As medidas de restrição de circulação, propostas pelos secretários estaduais de Saúde em uma carta entregue na terça ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello – entre elas, um toque de recolher nacional das 20h às 5h, fechamento de aeroportos e de viagens interestaduais -, disse a fonte, seriam levadas ao presidente Jair Bolsonaro.
“Foi dito que iriam tentar medidas de restrição. Mas sabemos que o presidente jamais aceitaria”, disse uma das fontes.
Resistência – Recentemente, Bolsonaro voltou ao ataque a prefeitos e governadores que decidiram adotar medidas mais duras de restrição de circulação. Chegou a cobrar que lhe “devolvessem o poder” de decidir sobre essas medidas, acusando, mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal de ter lhe tirado poderes – na verdade, a decisão da corte diz que estados e municípios podem determinar restrições independentemente da posição do governo federal.
“No que depender de mim, nunca teríamos lockdown. Nunca. É uma política que não deu certo em lugar nenhum do mundo”, disse a apoiadores na frente do Palácio da Alvorada, na quarta-feira.
Na semana passada, em outra reunião, técnicos do ministério da Saúde já tinham dito a secretários de Saúde que não podiam indicar medidas mais restritivas por proibição de Bolsonaro. De lá para cá, o presidente subiu o tom contra as quarentenas. Na quinta, chegou a dizer que era preciso parar com “frescura” e “mimimi” e que é preciso enfrentar o problema “de peito aberto”.
O Ministério da Saúde tem apenas uma aposta para reverter a situação: acelerar a compra de vacinas. A política, que também havia sido deixada de lado até o final do ano, agora aparece como salvação para o Brasil.
Esta semana, o ministério anunciou que as negociações para a compra das vacinas da Pfizer e da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, travadas há meses, avançaram, e devem trazer 138 milhões de doses de vacinas ao País até o final do ano. O ministério também anunciou negociações para a compra de doses da vacina da Moderna.
O ministério vê a possibilidade de ter todos os principais grupos prioritários – cerca de 70 milhões de pessoas – vacinados até junho deste ano. (Reuters)
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