Economia

Aumento do protecionismo ajuda a enfraquecer a globalização econômica; entenda

Ação se tornou mais evidente com retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos; imposições de tarifas pela Casa Branca são “duro golpe”, dizem especialistas
Aumento do protecionismo ajuda a enfraquecer a globalização econômica; entenda
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump impôs “guerra comercial” desde o primeiro dia de mandato na Casa Branca em 2025 | Crédito: Carlos Barria / Reuters

O aumento do protecionismo nas relações comerciais entre países, que se tornou mais evidente com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, está impactando a globalização econômica e há especialistas que falam em desglobalização ou mesmo slowbalization. Existe o receio de que seja viabilizada uma “guerra comercial”, ainda mais depois do anúncio da criação das tarifas recíprocas, causando reflexos negativos na economia mundial.

O fato é que o comércio global de bens expandiu em ritmo modesto no quarto trimestre de 2024 e as perspectivas para crescimento em 2025 são incertas, segundo o Barômetro de Bens da Organização Mundial do Comércio (OMC). Entre os fatores de incerteza, a instituição cita possíveis mudanças em políticas comerciais. A OMC tem 166 membros, respondendo por 98% do comércio mundial e é administrada por seus governos-membros. 

Também no ano passado, em dezembro, a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, já mostrava preocupação com o cenário, já que durante um debate em que foram discutidas as ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, ela disse que qualquer guerra comercial do tipo “olho por olho” teria consequências catastróficas para o crescimento global.

“Se tivermos uma retaliação do tipo olho por olho, seja com tarifas de 25%, (ou) 60% e chegarmos ao ponto em que estávamos na década de 1930, veremos perdas de dois dígitos no PIB (Produto Interno Bruto) global. Isso é catastrófico. Todos pagarão”, disse a diretora-geral no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Duro golpe contra a globalização

Para o economista Carlos Caixeta, com as ações unilaterais e imposições de tarifas iniciadas pelo governo Trump, os acordos de cooperação comerciais ficam seriamente comprometidos e a globalização sofre um duro golpe.

Ele afirma que a tendência é que os países negociem cotas de exportação e importação, redirecionem o seu comércio internacional (caso da China) ou retaliem na mesma medida, caso a pressão dos Estados Unidos continue.

O professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Carlos Primo Braga, que atua nas áreas de economia internacional, cenários macroeconômicos, estratégia empresarial e organismos internacionais, diz que, nos últimos anos, a globalização vem perdendo dinamismo, o que alguns analistas chamam de slowbalization.

Ele observa que os Estados Unidos, um país considerado o pilar da ordem econômica neoliberal, está tomando agora uma posição totalmente oposta ao que prevaleceu na maior parte dos anos pós-guerra.

Para Braga, se o presidente Trump começar a utilizar a regra de reciprocidade, devem acontecer impactos significativos nos fluxos comerciais e, eventualmente, um processo de retaliação semelhante ao que aconteceu na década de 30. “A crise financeira que começou com o colapso da Bolsa, em Nova Iorque, em 1929, e países ao redor do mundo começaram a adotar medidas protecionistas bem como começaram a retaliar. E, com isso, o comércio internacional despencou”, diz.

O coordenador de Relações Internacionais do Ibmec BH, Adriano Gianturco, observa que a globalização vem perdendo força nos últimos. Ele aponta o aumento do protecionismo nas relações comerciais entre países e a restrição ou mesmo o fechamento das fronteiras geográficas, como “movimentos que vão contra a globalização”.

Enquanto a globalização, no seu aspecto econômico, reflete um processo crescente de interdependência econômica, a desglobalização marca justamente o recuo da integração econômica global. “Já se fala em desglobalização”, acrescenta o especialista.

Com mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro, André Matos, CEO da MA7 Negócios, ressalta que o anúncio de Donald Trump sobre a criação de tarifas recíprocas para países que impõem taxas de importação sobre produtos dos Estados Unidos, como o etanol brasileiro, reforça a sua estratégia de reduzir os déficits comerciais e implementar a política de priorização do país (America First). “Porém, a medida acirra ainda mais a tensão comercial, especialmente entre os membros do Brics, ameaçados de taxas de até 100% e que já vêm enfrentam desafios relacionados à competitividade e ao uso do dólar”, diz. (com informações da Reuters)

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas