Economia

Aumento da tarifa de importação dos EUA deve afetar preço do aço

Exportação de produtos mais diversificados pelo setor em Minas Gerais gera um impacto menor do aumento da alíquota adotado pelo Estados Unidos
Aumento da tarifa de importação dos EUA deve afetar preço do aço
A expansão da oferta de aço no mercado interno pode provocar redução de preço | Foto: Divulgação Instituto Aço Brasil

A elevação da tarifa dos Estados Unidos sobre a importação de aço e alumínio, de 25% para 50%, pode impactar os preços do aço no mercado interno, avaliam especialistas consultados pelo Diário do Comércio. Apesar disso, há discussão em torno do tamanho do efeito da nova sobretaxa imposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump.

Além disso, a nova taxa pode gerar uma concorrência mais acirrada no cenário internacional, já que os grandes fornecedores globais deverão buscar e intensificar negócios em outros países. A opção está no radar da siderurgia mineira, que, com exportações mais diversificadas do que a indústria nacional, deve ser menos afetada pelas tarifas de Trump que o setor siderúrgico brasileiro como um todo.

Para a economista do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, uma barreira tão alta para importações pode fazer países exportadores de aço redirecionarem a oferta dos EUA para novos mercados, entre eles, o brasileiro, já bastante afetado pela importação de aço, sobretudo da China, o que pode derrubar os preços e pressionar ainda mais a indústria nacional.

“Com mais aço chegando aqui ou ficando aqui, aumenta a oferta. Se a demanda interna não acompanhar esse aumento, os preços tendem a cair”, explica. “E aí entramos num problema: os preços podem sim ficar abaixo do custo de produção, especialmente em um setor como o siderúrgico, que tem custos fixos altos”, alerta a especialista.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


O economista da Terra Investimentos, Homero Guizzo, também aponta para o caminho da maior oferta de aço no mercado nacional, com consequentemente queda no preço, mas não considera que o impacto da nova tarifa será tão grande. “Os grandes vencedores são as siderúrgicas americanas. Toda a siderurgia brasileira, concentrada em Minas, será afetada, mas não sei se chegará ao ponto de o aço doméstico chegar abaixo do preço de produção”, avalia.

Certo é, segundo Guizzo, que os “vencedores” terão uma fatia maior do mercado norte-americano, enquanto os maiores fornecedores de aço do mundo, dentre eles Brasil e China, com uma fatia menor da demanda dos EUA, devem reforçar a concorrência na disputa pelo mercado internacional.

“Fornecedores globais de aço que perderam um cliente importante tendem a disputar um cenário ex-EUA com mais afinco. Nesses clientes remanescentes, a competição por eles será mais acirrada também”, destaca o economista da Terra Investimentos.

Aço Brasil pede atuação do governo frente tarifa de importação

A carteira maior de mercados no exterior e a diversificação de produtos são os motivos que fizeram as usinas siderúrgicas mineiras não sentirem tantos impactos pela antiga tarifa de Trump, de 25%, para importação de aço e alumínio, aponta a analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Veronica Winter.

“Minas tem uma pauta para exportação, em termos de aço, um pouco mais diversificada que o Brasil. Os tipos de aço exportados de Minas para os Estados Unidos são diferentes”, argumenta. “Tem outros países para onde Minas Gerais já exporta, República Dominicana, Peru e Argentina, e poderia aumentar a exportação para esses países, diversificando mercados que não o dos Estados Unidos, para justamente não ter tanto impacto com essa tarifa”, pontua a analista da Fiemg.

Até por isso, Veronica Winter não vislumbra um aumento de oferta do aço no mercado interno. A esperança, segundo ela, também está na negociação entre empresas brasileiras e norte-americanas, para absorverem o novo custo dentro da cadeia produtiva, e uma reflexão do governo da maior economia do mundo em rever as taxas.

Essa reflexão de Donald Trump seria bem-vinda pelo Instituto Aço Brasil. Em nota, a entidade afirma ter preocupação com a medida e que o já delicado cenário global do setor ficou mais grave. A entidade ressalta a importância da atuação do governo federal para restabelecer o acordo bilateral de exportação de aço brasileiro aos EUA em cotas, sem tarifas adicionais.

Diana Chaib entende que a União deveria ir além, frente ao protecionismo internacional. “Se o governo brasileiro não agir com inteligência, por meio de incentivos à produção, por exemplo, vamos continuar apenas reagindo às decisões dos países ricos, pagando o preço por um modelo desigual de comércio internacional”, adverte.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas