Ausência de frio não deixa setores de malhas e vestuário deslancharem

O outono, que começou no dia 20 de março, ainda não registrou temperaturas mais amenas, pelo menos em Belo Horizonte. Por isso, o setor de vestuário ainda não registrou alta nas vendas para começar a desovar os estoques da moda outono-inverno. As temperaturas só começaram a cair um pouco nesta última semana na capital mineira.
A expectativa do vice-presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas e de Curtimento de Couros e Peles de Minas Gerais (Sindimalhas), Gilberto Mairinques, é uma só: “Precisamos de um bom frio antes do Dia das Mães para o mercado deslanchar”. Tanto ele quanto o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis (Sindivest), Mauro Célio de Melo Júnior, esperam mais pela queda das temperaturas para que as vendas aumentem.
Conforme Mauro Júnior, as vendas este ano para os lojistas visando o inverno foram cerca de 30% menores em um dos mais importantes polo de modas do Estado devido à alta concentração de indústrias de confecção e têxtil – a concorrência aumentou este ano. Além da falta de frio durante o mês de março e até nos últimos dias, o empresário atribuiu à inflação o mau desempenho. “Os preços dos produtos subiram muito, as pessoas acabam priorizando comida e remédios. Roupas, só se o inverno vier mesmo, senão elas usam o que já têm”, afirma.
O presidente do Sindimalhas, Gilberto Mairinques, explica que a falta de frio do ano passado fez com que os lojistas não renovassem seus estoques para 2025. “Eles já estão abastecidos”, comenta. Segundo ele, a maior dificuldade do setor tem sido a venda para o consumidor final. “Não está tendo absorção na ponta. Como não teve frio no ano passado, o pessoal está com estoque e isso tirou cerca de 20% da demanda durante o período de compra e abastecimento para esse próximo inverno agora”, analisa.
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Mairinques explica que os comerciantes costumam fazer uma compra entre janeiro e fevereiro para a estação mais fria do ano e depois é retomada em maio. “Se der mais frio, muda o rumo da nossa história”, diz.
Em São Paulo a trabalho, o presidente do Sindimalhas exemplifica que o frio vivenciado na capital paulista há cerca de duas semanas já movimentou o comércio. “O setor é muito sensível às questões ambientais. Um bom frio agora mudará o rumo das nossas vendas”, acredita.
Cenário econômico
Conforme os empresários, as incertezas do cenário econômico também afetam o setor. “A guerra comercial, as altas taxas de juros e os preços enfraquecem o fluxo de caixa dos nossos clientes e tudo isso pode afetar até as compras do verão”, ressalta Mairinques.
A maior preocupação de Mauro Júnior, do Sindivest, nesse quesito é a guerra comercial entre China e Estados Unidos. “Se a China não conseguir vender nos Estados Unidos, pode encher muito o nosso mercado de roupas chinesas”, analisa ele.
Há tempos o setor da moda trava uma concorrência, considerada até desleal pelo setor, com os produtos importados. Tal problema ampliou a discussão das taxas impostas nas importações das mercadorias.
A “taxa da blusinha”, como ficou popularmente conhecida, referente à tributação de compras internacionais de até US$ 50, foi imposta pelo governo brasileiro. A taxação, que entrou em vigor em agosto de 2024, prevê o pagamento de 20% de Imposto de Importação sobre o valor da compra, acrescido do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que pode variar entre 17% e 20% dependendo do estado.
“A taxação ajudou bastante, mas ainda consideramos baixa. Ela tinha que ser mais alta. Se não fosse esta ação, o cenário era ainda pior”, afirma Mauro Júnior.
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