Economia

Apesar de desafios, aviação prevê retomar cenário pré-pandemia em 2025

Impulsionado pela demanda corporativa, setor se organiza financeiramente e deve voltar a decolar no próximo ano
Apesar de desafios, aviação prevê retomar cenário pré-pandemia em 2025
Companhias aéreas transportaram 102,5 milhões de passageiros no Brasil em 2023; em 2019, ou seja, antes da pandemia, foram 108 milhões de pessoas transportadas | Crédito: istock / Rodrigo Mello Nunes

Embora passe por reformulações e desafios financeiros, a aviação brasileira apresenta sinais promissores e deve retornar aos níveis pré-pandemia no próximo ano. A expectativa é que o setor – que em 2023 transportou 102,5 milhões de passageiros – volte a ultrapassar os 108 milhões registrados em 2019.

Os dados, presentes no Anuário do Transporte Aéreo de 2023, divulgado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), indicam que, apesar do alto custo, ao somar os mercados doméstico e internacional, foram constatadas importantes evoluções. Voos regulares e não-regulares somaram 911 mil durante o período, representando um aumento de 10,5% com relação a 2022 e 97% do nível de 2019.

De acordo com o professor de ciências contábeis e diretor da Estácio Floresta, Alisson Batista, o setor ainda se destaca pela comodidade e deve voltar a decolar no próximo ano, impulsionado especialmente pela demanda corporativa. “A probabilidade é que tenha um fomento para a realização de viagens com prevalência para o turismo de negócios, como congressos, encontros e grandes eventos”, avalia.

Apesar do bom momento, Batista frisa que o período é de readequação, especialmente para companhias aéreas. As empresas estão ampliando estratégias para redução de custos, que já passaram por restrições e cobranças extras em bagagem e agora miram comodidades, como lanches e escolha de poltrona.

A iniciativa, porém, está distante de sanar problemas das companhias, já que 50% dos gastos estão relacionados a combustíveis, seguros, arrendamentos e manutenções. Ao analisar o mercado externo, a perspectiva é que os gastos só aumentem dado ao impacto do preço dos combustíveis e da desvalorização cambial. “Conflitos internacionais, ainda sem expectativa de cessar-fogo, impactarão certamente no aumento do preço dos combustíveis. Além disso, a manutenção que depende da importação de peças pode sofrer com a variação do dólar e esse valor tende a refletir no bolso do consumidor final”, analisa.

Judicialização – Outro desafio apontado pelas empresas está relacionado ao âmbito jurídico. Entre 2020 e 2023, o número de processos contra companhias aéreas aumentou cerca de 60% segundo dados da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear). A partir do estudo, a entidade alega que as judicializações podem ser incentivadas por empresas que lucram com processos, que custam aproximadamente R$ 1 bilhão por ano às empresas.

Para Batista, por se tratar de direitos de consumidores, especialmente em âmbito de danos morais, a solução deve passar pelas próprias companhias de aviação, que precisam se blindar para evitar dores de cabeça. “As empresas precisam encontrar mecanismos para reduzir o impacto das judicializações, otimizando processos para lidar com inconveniências”, acrescenta.

Já os consumidores seguem se adaptando às mudanças e planejando cada vez mais as viagens com antecedência para obter o melhor custo-benefício. Segundo o professor, ações pontuais como a compra com antecedência e a preferência por malas de bordo podem resultar em economias substanciais no bolso dos brasileiros.

Para o futuro, a perspectiva é que o Brasil construa políticas que incentivem a atração de novas companhias aéreas, especialmente as low coasts (de baixo custo), que já são realidade em diversos países. “Muitas companhias de aviação internacionais low coast não oferecem nem opção de bagagem de mão, mas o custo é muito mais acessível e pode ser um caminho”, conclui Batista.

Companhias buscam reduzir dívidas

Em meio às turbulências do mercado, as companhias de aviação seguem realizando ações para evitar eventuais crises financeiras. Uma das ações mais discutidas gira em torno da fusão entre as marcas Gol e Azul, com anúncio que deve acontecer ainda neste ano.

Recentemente, a Azul firmou um acordo para repactuar contratos comerciais com fornecedores, ação que corresponderia a 92% das dívidas totais da companhia. O acordo estabelece que os proprietários dos aviões concordaram em reduzir as dívidas aproximadamente R$ 3 bilhões, o que pode dar fôlego para que a recuperação da empresa e evitar um processo de recuperação judicial.

Já a Gol entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro deste ano nos Estados Unidos, enquanto a Latam refinanciou as dívidas com economia prevista de R$ 464 milhões.

Para o economista e professor do Ibmec-RJ, Gilberto Braga, a realização de fusão e aquisição de empresas deve ser o caminho mais provável para reduzir custos, preços e aumentar a demanda. “A massificação e a consolidação do setor é inexorável e também passa pela redução dos tributos e custos gerais para atrair mais voos. Em termos nacionais, uma melhor distribuição da malha doméstica pode alavancar a demanda”, avalia.

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