Backer retoma vendas em meio a processos judiciais

Em meio ao anúncio por parte da Cervejaria Três Lobos, dona da Backer, do retorno da comercialização de um de seus rótulos mais famosos: Capitão Senra, ex-funcionários e fornecedores da marca mineira buscam, na Justiça, o pagamento de dívidas e acertos trabalhistas.
Sem poder funcionar desde janeiro de 2020, quando teve as atividades interditadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em decorrência da contaminação da cerveja Belohorizontina, e com bens dos sócios-proprietários bloqueados, a empresa alega que o retorno das vendas é fundamental para honrar seus compromissos financeiros.
O retorno foi anunciado pela Backer por meio de um post nas redes sociais. “A Cervejaria Três Lobos Ltda. tem pautado sua atuação na estrita observância das normas e no cumprimento das decisões administrativas e judiciais. Nesse sentido, voltará a comercializar a cerveja Capitão Senra, iniciativa fundamental para a manutenção do emprego de seus colaboradores e para honrar seus compromissos”.
A reportagem procurou a empresa para mais detalhes, mas não teve retorno até o fechamento desta edição. Já o Mapa disse, por meio de nota, que a medida cautelar de fechamento não impede a contratação de uma empresa terceira, registrada no ministério, para a produção de suas receitas e marcas e que está ciente da terceirização da marca. Mas lembrou que a fábrica continua interditada.
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“O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento esclarece que a Cervejaria Backer continua interditada. Até o momento, a empresa não atendeu as exigências feitas pelo Mapa para garantir a segurança dos produtos. Dessa forma, qualquer manipulação de bebidas na Backer (produção, padronização, envase) continua proibida”.
Em outubro do ano passado, a cervejaria chegou a reabrir o Templo Cervejeiro, no bairro Olhos D’Água, e também a realizar um evento de relançamento da cerveja Capitão Senra, que já estava sendo produzida em uma outra cervejaria, no interior de São Paulo. No mês seguinte, no entanto, a Justiça determinou a suspensão das vendas da bebida.
Na época, o juiz da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, Haroldo André Toscano de Oliveira, acolheu parcialmente pedido do Ministério Público, determinando ainda a quebra de sigilo bancário e fiscal dos gestores da marca e indeferindo o pedido de bloqueio de valores em nome de supostos “laranjas”, empresas e pessoas físicas que não se encontravam denunciadas na ação penal.
A suspensão das atividades do conglomerado no Olhos D’Água ocorreu sob pena de multa diária no valor de R$ 10 mil. No último dia 22 de abril, porém, a 2ª Vara revogou a medida que proibia a comercialização da bebida da Backer. A decisão judicial levou em conta acordo entre o Ministério Público e a cervejaria para a comercialização da cerveja. Ainda de acordo com a decisão, a comercialização visa “a constituição de fundo para pagamento das despesas emergenciais dos beneficiários da ação civil pública”.
A ação diz respeito às vítimas da intoxicação ocorrida no fim de 2019. A empresa foi denunciada pela contaminação de 29 pessoas com dietilenoglicol, das quais dez acabaram morrendo.
Fornecedores – Ex-funcionários, prestadores de serviço e fornecedores da Backer não ficaram satisfeitos com a autorização e não acreditam que a recomposição financeira garantirá seus pagamentos que seguem pendentes.
Uma fonte, que pediu para não ser identificada, disse que a cervejaria teria contratado uma empresa de gestão de crise e fez acordo com alguns de seus credores. Outros, porém, tiveram que recorrer à Justiça e têm encontrado dificuldade para receber o que lhes é devido. “Só de ex-funcionários tenho notícias de pelo menos 70 ações em andamento“, disse.
A pessoa move um dos processos e afirmou que mesmo aqueles que optaram por negociar com a empresa estão com os pagamentos suspensos. “Muitos aceitaram o acordo proposto, receberam duas parcelas e mais nada. Até mesmo uns poucos que permaneceram no quadro de funcionários da empresa, já começaram a ver seus salários atrasar. Ou seja, quem tem qualquer dinheiro para receber continua com pendências. A alegação da empresa é de que estão com os bens bloqueados, mas sabemos que há patrimônio e outras empresas que garantiriam esses pagamentos”, denunciou.
Outra fonte que tem débitos a receber, disse que já desistiu. “Tenho informações de que pagaram as vítimas que estavam protestando, ex-funcionários precisaram recorrer à Justiça e os fornecedores seguem sem qualquer previsão. Eu já dei baixa no montante, porque sei que nunca vou receber esse pagamento”, afirmou.
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