Mineiridade é o mote da nova secretária de cultura e turismo do Estado

Formada em Direito, a nova secretária de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Bárbara Botega, pretende dar continuidade ao trabalho do antecessor, Leônidas Oliveira, na promoção de Minas como um destino diverso e que tem na gastronomia o seu carro-chefe.
Antes de assumir a pasta, ela ocupava o cargo de secretária-adjunta de Comunicação Social do Estado. Com longa vivência no setor privado, ingressou no Executivo estadual em 2021. Foi superintendente de atração de investimentos e estímulo à exportação na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e também cuidou da assessoria estratégica para atração de investimento em turismo, captando mais de R$ 2 bilhões. Bárbara Botega tomou posse na quarta-feira (17) no cargo.
Você já declarou que vai dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo Leônidas Oliveira, mas claro que você tem suas prioridades. Quais os temas terão a sua prioridade?
As minhas prioridades são as mesmas do governo como um todo. Eu sou muito focada em resultado. Com o que a gente pretende com cada uma das políticas públicas desenvolvidas aqui. Eu sou extremamente confiante na economia criativa como um vetor de desenvolvimento para as pessoas. Entendo que é uma pauta que a gente tem que trabalhar com muito afinco. O que eu mais quero é que as pessoas possam “viver da sua arte”. E viver muito bem dela. Fazer com que isso se transforme em oportunidades que, realmente, impactem a vida da população.
Minas é muito grande e diversa. Como promover uma política de regionalização e fortalecer as identidades, sem abrir mão do que nos faz todos mineiros?
Eu acho que isso vem de um histórico de assertividade quando a gente consegue unir alguns pontos que convergem todas essas diferenças que nos faz sermos ainda mais interessantes. Temos, por exemplo, o queijo. Temos muito orgulho dele, foi reconhecido patrimônio mundial e ele nos une. Se você está no Norte de Minas, você tem o cabacinha – que agora pode ser vendido fora do Estado -; você tem o queijo do Serro – com a sua casca florida; tem o da Mantiqueira, da Canastra… São tantas diferenças e, em algum momento, elas se unem em torno do produto em si. Quando a gente vai apresentar o destino Minas Gerais, temos a ousadia de querer retratar em 30 segundos tudo o que nós temos – “o nosso país Minas Gerais”. Às vezes é possível, a gente consegue juntar essas identidades como o próprio sotaque, por exemplo. O Leônidas foi muito feliz ao trazer a mineiridade como centro. Temos algumas políticas que já conseguimos implementar. Foi um trabalho que eu já fiz pela Secom (Secretaria de Comunicação) e que agora eu vou conseguir ter um olhar ainda mais atento: a questão as IGRs (Instâncias de Governança Regional). São 48 que fazem a gestão do turismo de maneira mais regionalizada. Agora, conseguimos um recurso para que elas trabalhem individualmente as suas necessidades, claro, respeitando a burocracia estatal. É um convênio de R$ 5 milhões e ainda apoiamos com o máximo de capacitação que podemos oferecer.
Os recursos são finitos e sempre menores do que o gestor gostaria. Mas você é conhecida por trazer recursos para o Estado. Esse é o seu maior desafio à frente da Secult?
Quando conseguimos pensar fora da caixa, entendemos que existem recursos, só não é no nosso caixa. Minas vive essa situação da dívida e que nos exige um esforço financeiro muito grande. Mas nós somos criativos! Sempre de maneira clara, transparente e republicana, vamos entender como atrair recursos. Meu histórico é na iniciativa privada e aprendi a matar um leão por dia. Acho que essa bagagem pode ser bastante positiva para pensarmos diferente, entender alguns caminhos alternativos que possam gerar economicidade para a secretaria. Vamos ver como podemos aproveitar o que já existe aqui e no mercado. Temos que ter bons projetos para apresentar para o mercado. O Ministério Público é um bom parceiro no que diz respeito ao patrimônio e pode ser ainda mais. Também o Sebrae e a iniciativa privada.
Políticas públicas não se faz sozinho. Nos últimos anos, Belo Horizonte tem diversificado a sua oferta turística, deixando de ser apenas uma cidade de negócios. O Carnaval talvez seja o melhor exemplo disso. Como tem sido a relação com a Capital e como incrementar essa parceria?
Eu coordenei as ações do Estado para o Carnaval, integrando as secretarias envolvidas. O Carnaval talvez seja uma boa síntese do que a gente pode falar. A construção com a prefeitura foi melhorando com o tempo. Eu tenho uma relação muito positiva com a minha xará – Bárbara Menecucci – presidente da Belotur (Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte). Tentamos, o máximo possível, ir pela parte técnica. Eu amo Belo Horizonte, cresci aqui. Acredito que a gente pode contribuir muito com a Capital e já fazemos isso. O Circuito Praça da Liberdade é o circuito de museus mais visitado da América Latina. Isso é um presente para a cidade! Mas talvez aquele orgulho, aquele pertencimento todo que falamos sobre Minas ainda falte ao belo-horizontino sobre a sua cidade. Tem tanta coisa pra fazer em BH, mas a gente ainda precisa fomentar isso na população. A cena cultural da cidade está muito ativa.
Impossível falar de cultura e turismo em Minas sem falar da gastronomia. Terça-feira saiu o resultado da 7ª edição do Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, em Tours, na França e Minas ganhou 33 das 58 medalhas conquistadas pelo Brasil, sendo três de ouro, 12 de prata e 18 de bronze, distribuídas entre queijos, requeijões e doces de leite. Como a secretaria vai capitalizar esse feito?
A gente já vem desenvolvendo isso. O calendário é bem extenso e estratégico. Temos que sinalizar mostrando que o Brasil não é só sol e mar. Um dado interessante é que, no mundo, as pessoas quando pensam em viagem de férias, não pensam em praia. Quase 70% das pessoas no mundo quando pensam em viagem de lazer não está relacionado a sol e praia. Esse é um dado que nos aponta um grande mercado. Por que a gente fala “mas eu não tenho praia”? Já me disse o presidente do Vila Galé que é o mar que sente falta de Minas e não o contrário. Então, temos um mercado muito interessante. Trabalhamos por novos voos para o Estado. Isso implica em divulgação do destino nesses países e não sermos só um emissor de turistas. E nós temos o melhor aeroporto do Brasil, que podemos aproveitar mais com ações culturais. Temos o projeto de colocar uma sala de cinema com produções audiovisuais mineiras e uma bombonière mineira.
Falando em voos, Minas é muito grande e uma “dor” do interior é a falta de conectividade com o BH Airport. Como solucionar esse problema?
Essa é uma questão complexa. Acredito que podemos resolver em parceria com a iniciativa privada. Existe no mundo um déficit de aeronaves e o governo não vai produzir aviões. A questão dos subsídios é muito delicada porque vivemos um contingenciamento financeiro pelo contexto do pagamento da dívida. Vamos contribuir para que esses aeroportos sejam cada vez mais ativos, mas não é uma simples decisão do governo. Mas o que estiver ao nosso alcance, vamos fazer.
Estamos discutindo o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) e o governo de Minas propõe entregar diversos imóveis para a União, entre eles a Fundação Clóvis Salgado, Palacete Dantas, Iepha, Expominas, Minascentro, entre outros equipamentos. São todos patrimônios da população de Minas. Como garantir que a população não vai perder o acesso a esses bens culturais?
Esse assunto não passa pela Secult, mas eu confio plenamente na capacidade do comitê que se formou para trabalhar o Propag. O cenário pela não adesão no teto máximo é catastrófico para todo mundo. Tenho a certeza de que ninguém quer entregar nada para a União. Tenho certeza de que existe um cuidado para tornar tudo isso o menos traumático para a população.
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