Economia

Bares e restaurantes podem ficar ainda mais caros na RMBH

Confira as estratégias de bares e restaurantes da RMBH para evitar repassar os custos aos consumidores
Bares e restaurantes podem ficar ainda mais caros na RMBH
Foto: Alessandro Carvalho/Diário do Comércio

Os empresários de bares e restaurantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) ainda não repassaram para o consumidor a inflação dos principais insumos do setor que é alimentação e bebidas. Enquanto o grupo dos insumos registrou alta no acumulado do ano em 3,01%, a inflação de alimentação fora do domicílio (bares e restaurantes), foi de 2,83%. 

Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) foram divulgados na última sexta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mostram que no acumulado de 12 meses, o cenário se repete. Enquanto alimentação e bebida registraram alta de 5,27%, bares e restaurantes registraram inflação de 4,64% na RMBH.

A explicação da Associação Brasileira de Bares e Restaurante – regional Minas Gerais (Abrasel/MG) é que os empresários estão optando por trabalhar com uma margem de lucro menor a repassar o aumento a ter como possibilidade a fuga dos clientes para a concorrência. “Eles optam em absorver parte dos custos adicionais mesmo que isso resulte na redução da lucratividade”, avalia a presidente da Abrasel/MG, Karla Rocha.

Na avaliação do economista da Suno, Guilherme Almeida, o setor é muito reagente a preços e os comerciantes tomam outras medidas antes de repassar a inflação para o consumidor final. “O empresário, principalmente do ramo alimentício, adota diversas ações e economia de custos antes de aumentar o preço dos seus produtos. Ele adequa a matriz de insumos, troca de fornecedores, por exemplo. Isso porque ele corre o risco desse consumidor substituí-lo por um concorrente”, avalia.

A prática é realizada no bar Seu Buriti, no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte. A casa de carnes vem registrando uma média de 40% a menos nas vendas nos últimos meses e tem trabalhado com uma margem de lucro menor para não perder a clientela.

O proprietário do Cabernet Butiquim, na Savassi, região Centro-Sul da Capital, Pablo Teixeira, comenta que a variação de preço dos insumos é muito constante no setor e por isso, ele foca em acompanhar a variação dos vinhos, que é o carro-chefe da casa comercial. “Há muita variação nos produtos, não dá para acompanhar. Por isso, foco nos vinhos que variam muito com a variação da taxa cambial. E quando precisa, repassamos. A gente acaba ficando mais atento à concorrência mesmo”, diz. 

Rafael Minoro, proprietário do bar Nada Contra, no bairro Funcionários, também na região Centro-Sul de Belo Horizonte, diz que chegou a negociar com os fornecedores para conseguir manter a margem de lucro até o período do reajuste anual que pratica. “Costumo reajustar anualmente no verão, um pouco antes das festas de final de ano. Estamos tentando manter essa prática, antes de repassar os valores”, comentou.

Para a presidente da Abrasel/MG, Karla Rocha, o momento é extremamente complexo | Foto: Alessandro Carvalho

Repasses nos preços de bares e restaurantes para o consumidor final já podem ser percebidos

Apesar dos números do acumulados do ano, quando observados os índices mês a mês, desde março a inflação de bares e restaurantes já supera a dos insumos. No mês de julho, por exemplo, enquanto a inflação da alimentação fora de casa registrou alta de 0,52%, acima do índice geral do mês que foi de 0,26%, o grupo de alimentos e bebidas registrou deflação de 1,37%. 

O economista Guilherme Almeida explica que, de fato, há um indício desses repasses, mas que eram esperados ainda em função das consequências da pandemia. “De fato já há um indício para esse repasse, quando a gente olha, principalmente, o período de pandemia, o setor de alimentação fora do lar, restaurantes, bares, lanchonetes, foi o que junto com a hotelaria os que mais sentiram. E, agora, eles começam a restabelecer suas margens de lucro. É um repasse natural e que já era esperado”, analisa.

Dados divulgados pela Abrasel/MG na semana passada mostraram que apenas 34% dos estabelecimentos operam em equilíbrio. De acordo com os números, a maioria dos estabelecimentos do Estado, 55%, ainda está operando sem lucro. E que destes, 21% tiveram prejuízo em julho. Além disso, quase a metade dos bares e restaurantes, 41%, estão com dívidas em atraso. 

“O setor enfrenta dificuldades financeiras significativas em um cenário delicado com os consumidores muito sensíveis a aumentos de preços. O momento é extremamente complexo. A combinação de inflação, redução de margem de lucro e a necessidade de inovar em um ambiente econômico desafiador, torna a gestão dos negócios ainda mais complicada”, relata a presidente da Abrasel/MG.

Outro desafio apontado por Karla Rocha é a questão da mão-de-obra. “Os custos aumentaram e com a pressão para ajustar os salários e a escassez de profissionais qualificados, as despesas operacionais cresceram. Esse aumento dos gastos com o pessoal adiciona uma camada extra de dificuldade já na complexa gestão financeira dos bares e os restaurantes”, concluiu.

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