Polo da moda no Barro Preto se reinventa e movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano em BH

Importante polo da moda em Minas Gerais, o Barro Preto, na região Centro-Sul da Capital, tem se reinventado para permanecer relevante em um cenário dominado pelo e-commerce e produtos importados. Embora concentre um quarto da estrutura que possuía no auge dos anos 80 e 90, a cadeia produtiva do setor na região movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano em Belo Horizonte com empreendimentos de tecidos, armarinhos, roupas prontas, fábricas e pequenas indústrias.
As informações são do presidente da Associação Comercial do Barro Preto (Ascobap), André Soalheiro. Segundo ele, apesar do encolhimento, o polo se mantém engajado, impulsionado pela força de empresas consolidadas que permanecem há décadas no local.
Ao todo, o Barro Preto concentra cerca de mil empresas de diferentes setores ligados à cadeia produtiva da moda, com forte concentração de micro, pequenos e médios negócios. “Apesar de ter perdido fôlego por uma tendência natural de crescimento de outros polos, como os de São Paulo, as melhores empresas do passado ainda permanecem”, detalha o dirigente.
Com a expansão de polos pelo Brasil, a região, que antes atraía consumidores de outros estados e regiões, passou a focar no público mineiro, que permanece cativo até os dias atuais. Para Soalheiro, as mudanças nos últimos anos contribuíram para deslocamentos mais acessíveis País afora, aumentando as opções para o consumidor. Ainda assim, a região consegue se destacar, com um cluster funcional voltado para quem é do Estado.
A modernização das empresas em um mercado cada vez mais digital foi, por muito tempo, um dos principais desafios da região para se manter competitiva em um cenário de avanços do e-commerce e de produtos importados, principalmente da China.
Com o passar dos anos, especialmente a partir da pandemia, os negócios passaram a investir no conceito “figital” — a união entre o físico e o digital — como uma forma de adaptação e sobrevivência frente às novas exigências do consumidor e às transformações aceleradas pela tecnologia. “Hoje, aproximadamente 50% ou mais das vendas são feitas pelo WhatsApp. Com grandes concorrentes não acho que a maré estará ao nosso favor, mas acredito que podemos dar a volta por cima”, destaca.
Segundo o presidente da Ascobap, a concorrência é inevitavelmente desleal, com produtos chineses ocupando uma fatia considerável do mercado, principalmente pelo menor custo de produção da China. “A ampliação do e-commerce fechou algumas lojas, mas isso é um problema global e dificilmente vai mudar. A solução é encarar o desafio e mostrar o nosso diferencial”.
A partir dessa perspectiva, os empreendedores da moda no Barro Preto se organizaram por meio da associação local e intensificaram a adoção de tecnologias para se manterem competitivos. A digitalização dos processos, o uso de inteligência artificial — incluindo ferramentas como o ChatGPT — e o investimento em estratégias de fidelização e marketing têm sido fundamentais para aprimorar a qualidade e a agilidade no atendimento.
Além disso, a realização de eventos, como o Barro Preto Fashion Day, segue ampliando a visibilidade do bairro, atraindo cerca de 4,5 mil pessoas durante dois dias, com atrações que incluem desfiles femininos e infantis, shows e opções gastronômicas. “É um evento voltado para o reforço de marca do Barro Preto como polo da moda. As pessoas precisam saber que a moda lá está viva, pujante e atual”, reforça Soalheiro.
Questionado quanto ao que espera para o futuro do Barro Preto, o dirigente reforça a importância de políticas públicas para a revitalização da região, além da intensificação de cuidados de serviço social a fim de reduzir o número de pessoas em situação de rua no bairro. “Se resolvermos isso, o empresário consegue dar continuidade aos planos de crescimento dos negócios. Nosso caminho é fazer bem feito os produtos e zelar pelo atendimento para atrair pessoas para um bairro que vem crescendo, inclusive no número de moradores”, argumenta.
Público-alvo e Plano Diretor de BH podem justificar parte da evasão de empresas
De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede-MG), além dos desafios citados, muitas lojas do polo da moda no Barro Preto passaram a concentrar suas operações no bairro adjacente, Prado, em decorrências de mudanças no Plano Diretor de Belo Horizonte.
“Desde 2010, alterações no Código de Posturas e Lei de Uso dos Solos restringiram a instalação de empresas em diversas vias da capital mineira, sobretudo, na avenida do Contorno, o que causou o declínio da região no volume de confecções”, afirma a Secretaria em retorno à reportagem do Diário do Comércio.
Com relação ao deslocamento de lojas para o Prado, Soalheiro acredita que o principal motivo estaria relacionado ao perfil de público. “Com o tempo, algumas marcas começaram a desenvolver produtos para classes de alto poder aquisitivo e encontraram no Prado um bom local para se posicionarem. Já o Barro Preto é mais democrático, além de ser voltado para vendas em maior volume”, finaliza.
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