Economia

BDMG registra desempenho histórico e traça estratégia para continuar a crescer

Confira uma entrevista exclusiva com o presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Gabriel Viégas
BDMG registra desempenho histórico e traça estratégia para continuar a crescer
Presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, Gabriel Viégas Neto | Crédito: Ana Carolina Dias Schenk / Diário do Comércio

Depois de alcançar recordes em 2023, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) quer manter a trajetória de crescimento e apurar números históricos também em 2024. Para isso, tem direcionado, cada vez mais, os esforços a áreas estratégicas como as micro e pequenas empresas (MPEs) e prefeituras.

No ano passado, os desembolsos da instituição de fomento somaram R$ 2,98 bilhões aos setores público e privado, 23% superior ao ano anterior. Já os financiamentos destinados a projetos de investimento cresceram 72%, chegando a R$ 1,58 bilhão, desempenho que impacta de forma positiva o estímulo ao emprego e a renda no Estado. Com isso, o lucro líquido recorrente chegou a R$ 163,7 milhões em 2023, o maior da história do banco, 15% superior ao de 2022.

Prédio do Banco BDMG
Crédito: Divulgação/BDMG

Nesta entrevista exclusiva, o presidente do banco desenvolvimento, Gabriel Viégas Neto, faz um balanço de seu primeiro ano de gestão e comenta os resultados do balanço das demonstrações financeiras de 2023 divulgadas nesta segunda (25). Cita os esforços na pulverização da captação de recursos, visando o alongamento de prazos e custos menores, ressaltando o quanto esse movimento pode transformar a vida do empreendedor mineiro, e a presença cada vez mais comum de “recursos carimbados”, ou seja, já endereçados para áreas relacionadas à Agenda ESG.

“Hoje, todas as captações externas vêm carimbadas, seja para financiamento de energia renovável ou assuntos relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O crédito tem um poder que a gente às vezes não tem a real percepção, mas à medida que as empresas só conseguem fazer suas captações mediante uma pauta de sustentabilidade, elas são obrigadas a fazer isso, senão elas estão fadadas ao insucesso. E a gente observa esse crescimento também na nossa carteira”, diz.

Como foi o desempenho do banco em 2023?

Tivemos o maior resultado recorrente. Foram R$ 163,7 milhões ou 15% acima do apurado em 2022. Resultado de um trabalho bem feito, com muita dedicação e muito comprometimento. Cheguei ao BDMG e encontrei uma equipe técnica de primeira, trabalhei por 36 anos em banco privado e, ao chegar ao banco de fomento, fiquei surpreso com a qualidade dos profissionais. Esse resultado é fruto dessa equipe, porque são as pessoas que fazem as coisas acontecerem. Também credito o resultado ao programa de crescimento que desenvolvemos. Tínhamos muito claro o que queríamos, que era gerar mais impacto para a sociedade, por isso, precisávamos ser maiores. Formulamos um programa de crescimento para o banco alinhado com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e isso foi internalizado na casa e, efetivamente, todos os funcionários se apropriaram desse projeto, culminando com o sucesso na execução. Também tínhamos estabelecido uma meta para o desembolso – que é o número que faz a diferença – de R$ 2,4 bilhões. Isso já era muito desafiador, uma vez que no ano anterior o volume havia sido bem menor. E tivemos um valor bem maior e chegamos a quase R$ 3 bilhões. Foi muito comemorado, porque é um marco. Só o valor já seria motivo para comemorarmos bastante, mas não ficou só nisso. Qualificamos a carteira e o desembolso. Deixamos de fazer giro e começamos fazendo investimento, que pede um tempo de análise e de maturidade. Uma operação de giro é uma operação rápida e uma operação de investimento leva quatro meses dentro do banco. E nossa equipe rapidamente virou a chave. Por isso, já em 2023, grande parte dos desembolsos foi de investimento: R$ 1,6 bilhão e destes empréstimos, 56% foram feitos com clientes com notas AA e A. Ou seja, a gente qualificou e alcançamos a menor inadimplência dos últimos dez anos, chegando a 0,9%, número muito inferior ao do mercado. Tudo isso é uma demonstração de que estamos no caminho certo.

Presidente do BDMG
Gabriel Viégas Neto, em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio | Crédito: Ana Carolina Dias Schenk / Diário do Comércio

O que exatamente foi feito para a qualificação dos desembolsos?

Desde o segundo semestre de 2022, passamos a fazer basicamente financiamento de investimentos. Ou seja, os recursos são mais voltados para aportes do que para capital de giro ou outros fins. Investimentos têm um tempo de maturidade maior e demandam recursos mais longos e mais adequados. O banco vinha fazendo muito giro e conseguimos virar a chave no ano passado, fazendo com que R$ 1,6 bilhão dos R$ 2,98 bilhões desembolsados fossem destinados a esse fim. O financiamento de investimentos é o que tem capacidade de gerar mais emprego.

Isso implicou em mudança também no perfil de captação?

Sim, estamos fazendo movimentos que estão transformando profundamente nossa capacidade de financiamento e isso vai dar condições muito mais robustas para o empreendedor mineiro. Hoje, ainda existe uma limitação de recursos de longo prazo no Brasil, ou seja, é muito raro você conseguir linhas acima de cinco anos. Mas temos, por exemplo, a primeira operação do BDMG com garantia da União, que foi junto ao NDB (Novo Banco de Desenvolvimento). Trata-se de uma linha de 20 anos com quatro anos de carência. Isso nos dará capacidade de financiar projetos que precisam de tempo de maturidade. Também estamos avançando numa operação com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com prazo de 25 anos. Com o aval soberano, nosso risco é muito menor, o que faz com que a linha seja muito mais barata. Isso quer dizer que a gente vai conseguir emprestar por mais tempo, com mais carência e a um custo menor. Porque o custo do financiamento sempre tem a ver com a nota de risco do tomador e a menor nota de risco é a do risco soberano, o que torna os custos menores. Ao captar mais barato, a gente vai conseguir emprestar mais barato e, ao emprestar mais barato, a condição dos projetos se viabilizarem e se maturarem também é maior.

Fachada do prédio do BDMG
Fachada do prédio do BDMG | Crédito: Divulgação / BDMG

E é aí que está a oportunidade de transformação para os empreendedores mineiros…

Enquanto o banco privado trabalha muito para gerar valor para o acionista, o BDMG trabalha para gerar valor para a sociedade, para a economia mineira e para transformar a vida dos mineiros. Essa é lógica do nosso trabalho: trazer custos mais adequados, prazos mais alongados e fazer com que o Estado gere emprego, renda e consumo. A grande pauta desse governo é emprego. E com nossos empréstimos, geramos ou apoiamos 113 mil empregos em 2023, R$ 158 bilhões de faturamento e quase R$ 500 milhões de impostos. Ou seja, além de gerar emprego, você fortalece o caixa do Estado, que vai poder dar mais serviço para a população. É um círculo virtuoso importantíssimo. Eu vim do mercado privado e posso afiançar que este banco tem uma importância para o Estado que talvez as pessoas não saibam e a gente precisa reverberar. Mas a grande mudança está no prazo. Quando você fala para o empresário que ele vai ter um prazo de 15 ou 20 anos, é completamente diferente. É outra forma de se financiar, ainda mais se for com custos adequados.

Essas linhas já estarão disponíveis em 2024?

Com o BID temos outras linhas, a grande diferença agora será o aval da União. E com o NDB estamos na reta final e temos a perspectiva de assinar ainda este ano. Mas o grande foco para 2024 é levar cada vez mais o nome do BDMG para o micro e pequeno empreendedor, porque o grande empresário já conhece a instituição. Vamos fazer muita força para alavancar esse setor. Faremos um trabalho igualmente forte junto às prefeituras, segmento que tem se tornado relevantes nos últimos 24 meses. Para se ter uma ideia, entre 2021 e 2022 aumentamos os desembolsos para essa área em 100% e entre 2022 e 2023 em 89%. Foi o setor que mais cresceu. A vida acontece no município e em 300 dos 853 municípios de Minas, só o BDMG é fonte de financiamento bancário. Se não emprestarmos, ele não vai conseguir viabilizar os projetos estruturantes que aquele município precisa: uma ponte, um calçamento, uma escola, um consultório médico. Só o BDMG faz. Prefeituras e MPEs serão as prioridades.

E o que precisará ser feito para concretizar a estratégia?

Temos capital, liquidez, todos os indicadores muito fortalecidos e somos capazes de fazer o crescimento que a gente projeta. E não precisamos fazer escolha, mas, logicamente, que a gente vai ter que dar uma atenção muito especial para esses dois setores, especialmente para as prefeituras, porque em ano de eleição, as contratações precisam ocorrer até 31 de abril. Disponibilizamos R$ 300 milhões para o segmento e estamos correndo contra o tempo. Estamos com R$ 70 milhões contratados e R$ 163 milhões em trâmite. Com as micro e pequenas empresas também estamos acelerados. Em fevereiro, alcançamos o recorde para o segmento e entre janeiro e fevereiro fizemos um volume muito expressivo. Reduzimos a taxa em 0,5% e isso deu efetivamente um impulso nas tomadas de crédito. Nos dois meses, fizemos R$ 31 milhões contra 2022, que somamos R$ 19 milhões. Em março, mês das mulheres, voltamos as ações para as empresas lideradas por elas, já que hoje, 40% das MPEs de Minas Gerais são liderados por mulheres. Fizemos uma campanha que vai até dia 31 com taxa reduzida de 4,9% ao ano mais Selic. Com isso, triplicamos a quantidade de acesso às nossas plataformas para pedidos de informações e solicitações de cálculo do crédito e os resultados são realmente muito bons, estamos impactando de forma clara a vida dessas mulheres que, na sua maioria, segundo o Sebrae, ainda continua exercendo jornada dupla. Não é um programa novo, o olhar para as mulheres no BDMG vem desde 2018, a gente apenas fortaleceu e melhorou as condições para a linha. O resultado até o momento é muito positivo, já foram solicitados mais de R$ 100 milhões.

Gabriel Viégas, presidente do BDMG
Presidente celebra resultado positivo em 2023 | Crédito: Ana Carolina Dias Schenk / Diário do Comércio

E qual a meta de desembolso para este ano?

R$ 3,2 bilhões, ou seja, quase 10% de crescimento sobre 2023. É uma meta desafiadora. Não é simples, porque precisamos nos tornar mais eficientes. Estamos crescendo, mas nossa estrutura não cresce na mesma na mesma velocidade. Continuamos exatamente com a mesma estrutura, com a mesma quantidade de gerentes, com a mesma quantidade de pessoas analisando os projetos, então, o grande desafio é tornar a nossa operação cada vez mais eficiente. Mas praticamente triplicamos nosso orçamento em TI justamente para tornar toda a operação cada vez mais eficiente. Hoje, MPE e prefeitura possuem processos totalmente digitais. Médias e grandes estamos numa jornada importante e também buscando capacitar cada vez mais nossas equipes. Mas, logicamente, o mercado também tem que ajudar.

E está ajudando? Como você vê o movimento de queda da Selic?

Estamos muito otimistas. As perspectivas são positivas para 2024. A queda da taxa faz com que as pessoas se sintam incentivadas a desengavetar seus projetos. Estamos vendo muito positivamente. Além disso, é importante frisar que Minas Gerais cresce mais do que a média do Brasil e o Estado, recentemente, ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão no PIB. Isso, de certa forma, reverbera no banco também, porque as pessoas se sentem mais otimistas para fazerem seus investimentos e vão em busca de crédito. A gente quer que todos os empresários de Minas Gerais saibam que eles vão ser acolhidos no BDMG. Temos capital, tecnologia, know-how e queremos ajudá-los a crescer. Minas tem sido muito resiliente, a par do que tem acontecido no restante do Brasil. Como diz nosso governador, “o trem está nos trilhos” e nós estamos empurrando. Minas está fazendo seu trabalho de forma exemplar e eu não vejo nenhuma preocupação no momento. Mas tem um assunto que é extremamente importante e que depende do governo federal, que é o Regime de Recuperação Fiscal e isso, chegando a um bom termo, vai facilitar muito as coisas para Minas e para outros estados. Mas, independente disso, vamos fazer o que precisa ser feito para chegar às metas estabelecidas. A exemplo do que aconteceu em 2023. Em janeiro e fevereiro do ano passado, o mercado de crédito estava um caos. Eu estava muito preocupado com o que poderia acontecer com o cenário no Brasil, entendemos que era o momento de ficar mais criteriosos e atentos, o que impactaria no desembolso. Mas conseguimos fazer os ajustes necessários e eles foram absolutamente adequados, tanto é que alcançamos a menor taxa de inadimplência da história do banco e, mesmo assim, conseguimos superar o desembolso que já era muito desafiador. Por isso, independentemente das externalidades, vamos cumprir o nosso papel. A gente vai ter que ser criativo à medida que as coisas forem acontecendo para fazer os ajustes que são necessários, mas a meta está dada e “missão dada é missão cumprida” e nós vamos cumprir.

Como vê o chamado financiamento verde? Eles também estão crescendo no BDMG?

Hoje, todas as captações externas vêm carimbadas, seja para financiamento de energia renovável ou assuntos relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Isso também está mais forte junto às grandes empresas, que possuem mais robustez para este tipo de iniciativa. Mas isso vai acabar descendo, porque elas já começam a exigir que seus fornecedores tenham a mesma postura, causando um efeito de indução muito forte. Já vejo, por exemplo, uma preocupação central dos grandes bancos, buscando que suas carteiras sejam cada vez mais verdes. E não é diferente para o BDMG. Temos a preocupação com o desenvolvimento econômico sustentável e social. Hoje, a gente não conversa com multilaterais se esta pauta não for prioridade. O crédito tem um poder que a gente às vezes não tem a real percepção, mas à medida que as empresas só conseguem fazer suas captações mediante uma pauta de sustentabilidade, elas são obrigadas a fazer isso, senão elas estão fadadas ao insucesso. E a gente observa esse crescimento também na nossa carteira. Para se ter uma ideia, 40% do volume desembolsado pelo banco no ano passado estava ligado a pelo menos um dos ODS. A sustentabilidade tem se tornado, cada vez mais, protagonista da nossa estratégia. A gente não fala mais somente em desenvolvimento, mas em desenvolvimento sustentável.

Vista do prédio do BDMG
Balanço mostra que foram R$ 163,7 milhões ou 15% acima do apurado em 2022 | Crédito: Divulgação / BDMG

Como o BDMG avalia a atuação dos demais bancos de fomento no País?

São poucos os bancos de desenvolvimento de Estado. A grande parte do sistema virou agência de fomento. Mas temos hoje o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), com uma atuação mais de fundos; o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDS), que reúne Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e foca em repasses; e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que eu diria que não é comparável, por seu tamanho e importância. Então, na verdade, cada um tem suas características e contribuem para o desenvolvimento econômico de suas regiões. O BDMG tem uma atuação de banco muito similar a qualquer outro banco e quero crer que está hoje numa situação de benchmarking, tanto é que a gente recebe constantemente a visita dos nossos similares e das agências de fomento que querem entender como fazemos. É importante reverberar essa importância do banco. A principal vocação do Estado é melhorar a vida das pessoas e o banco trabalha todos os dias para melhorar a vida do mineiro. Esse é o nosso grande objetivo: gerar emprego, porque estar desempregado é tão ruim quando estar doente. Então, enquanto houver algum desempregado em Minas Gerais, a gente tem que continuar trabalhando. Porque emprego gera renda, mas gera também cidadania.

Qual o balanço do seu primeiro ano como presidente da instituição?

Estou há dois anos no BDMG e há um ano na presidência. E fazendo uma reflexão sobre esses últimos 12 meses, avalio como um período muito positivo, em que a gente teve crescimento nos principais pilares da gestão: processos, pessoas e produtos. Nessas três áreas, a gente evoluiu como grupo. Pessoas – temos dado oportunidade de capacitação, promoção e de incentivos adequados com a PPR; produtos – inovamos e criamos vários produtos, adequamos e ajustamos à realidade do mercado; processos – fizemos diversas reestruturações, mudanças no organograma de forma a sustentar o crescimento que pretendíamos e que os resultados comprovam que deu certo. Mas não tenho dúvida que o grande motor desses resultados foram as pessoas.

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