BDMG planeja diversificar carteira de financiamentos

Intensificar a relação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) com os municípios. Esta é a principal missão de Marcelo Bomfim à frente da instituição. Empossado no fim do mês passado, o executivo é ex-superintendente regional da Caixa Econômica Federal e possui estreito relacionamento com as prefeituras do Estado.
Com passagem por cerca de 580 dos 853 municípios mineiros, ele espera contribuir com o interior não apenas por meio da disponibilização de linhas de crédito competitivas, mas também auxiliando na capacitação de prefeitos e demais agentes no que se refere ao orçamento público e às diferentes fontes de receitas.
O microcrédito também está nos planos do novo diretor-presidente do banco de fomento do Estado, bem como a diversificação da carteira, que já soma quase R$ 6 bilhões. Projetos voltados para o Microempreendedor Individual (MEI) já estão sendo preparados e deverão ser lançados em breve.
Natural de Tarumirim (Rio Doce), graduado em Direito, pós-graduado em Direito Processual, doutor em Ciências Jurídicas Sociais, com MBA em Gestão Pública e MBA em Consultoria Empresarial, Bomfim atuou por 33 anos como funcionário de carreira na Caixa e, por 19 anos, foi superintendente Regional na Capital, Região Metropolitana e também em todas as regiões do Estado.
Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o executivo falou sobre desafios e planos para a gestão, expectativas e opiniões em relação ao mercado de crédito, sobre o papel da instituição em projetos de diferentes frentes e envergaduras, tudo isso com o objetivo maior de prover o desenvolvimento sustentável de Minas Gerais, incluindo iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG).
Quais os principais desafios à frente do BDMG?
Minha experiência na Caixa, que sempre priorizou uma vocação política de desenvolvimento e melhoria de qualidade de vida de famílias, será importante para auxiliar na relação do banco tanto com os municípios quanto com micro e pequenas empresas – que serão o foco da atuação. Isso não quer dizer que o BDMG deixará de apoiar médias e grandes empresas. O banco tem um corpo técnico altamente qualificado e reconhecido no mercado e tem vocações que vamos intensificar ainda mais. A agenda de responsabilidade ambiental, social e de governança é uma delas, assim como os projetos em energias renováveis. Mas o principal desafio será intensificar a relação com municípios mineiros para a capacitação de prefeitos, entes públicos e demais autoridades municipais para que possam conseguir recursos em todas as esferas, seja do governo federal ou organismos multilaterais, sempre em vistas ao desenvolvimento de Minas Gerais. Quanto mais o BDMG colaborar para a atração de investimentos, mais importante será para a economia de Minas Gerais. Queremos ser um hub de excelência nesta prestação de serviço aos municípios e também atuar junto aos pequenos negócios e no repasse para cooperativas do agronegócio.
E quais serão as primeiras ações?
Desde o começo da pandemia de Covid-19, o BDMG já desembolsou R$ 4,6 bilhões apoiando municípios e empresas. Para este ano, também prometemos uma ação muito vigorosa para o fortalecimento da economia do Estado. Estamos estruturando processos para que o banco possa desembolsar recursos com maior velocidade. Queremos aproveitar a captação internacional para incentivar as empresas mineiras no desenvolvimento de projetos; também pretendemos entrar com mais força no agronegócio e também estamos desenvolvendo algo inédito: um apoio ao microempreendedor individual. O microcrédito movimenta a economia e já começamos a estudar medidas para o segmento. Estamos constituindo um grupo de trabalho para entender a forma de atuar, mas queremos estabelecer parcerias com entidades como Sebrae e Fiemg para que se possa atingir e valorizar o microempreendedor. Hoje o banco apoia micro, médias e grandes empresas e o microempreendedor individual requer uma atenção especial, até por sua relevância no Estado.
As linhas para micro e pequenas empresas (MPEs) permanecem? E para os médios e grandes?
O banco sempre cumpriu seu papel. Temos um corpo técnico altamente qualificado, existe uma análise de risco muito bem elaborada da precificação de projetos para todos os segmentos. No entanto, nossa carteira ainda é formada por 45% de grandes empresas, 23% de médias, 22% de MPE e 10% do setor público. Precisamos diversificá-la, atuando com mais força na área pública e junto às micro e pequenas empresas, a fim de pulverizar a carteira que já chega a R$ 6 bilhões. Já trabalhamos com projetos diversificados e temos algumas intervenções no Norte de Minas na área de energia fotovoltaica e que integram as ações relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e à Agenda de 2030 – temas que vieram para ficar nas instituições e que o banco apoia. Mas o banco precisa cuidar do seu quantitativo de clientes. Se hoje mais de 96% das empresas são de micro e pequenas, esse contingente requer uma atenção especial. Para se ter uma ideia, apenas a carteira com o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) teve cerca de 12,6 mil clientes atendidos entre 2020 e 2021, período em que o programa vigorou. Agora precisamos reter esses clientes e prospectar outros.
Na Caixa sua atuação era forte junto aos municípios. Como será a estratégia de aproximação do BDMG com o interior?
Importante dizer que o banco aprimorou sua forma digital de atuação nos últimos anos. E qualquer cliente que acessa nosso endereço virtual tem acesso a todos os nossos produtos. Isso será ainda mais dinamizado. Queremos também prestar consultorias utilizando o ambiente do banco para que o prefeito tenha acesso a informações de recursos do Orçamento Geral da União ou de outras fontes, para que ele possa conhecer e acessar todas as opções. Queremos auxiliá-los porque todo recurso é muito importante para o desenvolvimento do Estado.
Caso o governador Romeu Zema (Novo) não seja reeleito, você ficará apenas um ano no cargo. O tempo é suficiente?
Minha função é contribuir com o desenvolvimento de Minas Gerais e com os mineiros durante todo o tempo que for necessário. O papel do banco é levar a boa informação, promover o desenvolvimento, atender bem as pessoas, as empresas e atuar nos grandes projetos. Meu papel será auxiliar na evolução desses projetos, intensificar a relação com os municípios e evidenciar a grandeza de um estado tão poderoso como Minas Gerais.
Pretende fazer alguma mudança no que vinha sendo executado pela antiga gestão?
Só tenho elogios à diretoria que sai. A gestão anterior construiu pedras importantes para que o banco ficasse ainda mais sólido. Nosso trabalho será aprimorar ainda mais essa construção e apontar outros caminhos para ampliar essa solidez, por meio do entendimento das realidades locais de cada região do Estado.
Como o BDMG pode ajudar no processo de recuperação fiscal de Minas Gerais?
Toda vez que o banco apoia projetos de investimento, seja para a indústria, comércio, agricultura, em projetos de energia fotovoltaica, destinado à educação ou à mineração, está contribuindo fortemente para a economia. E o Programa Recupera Minas, que disponibiliza linhas de crédito de R$ 366 milhões para as cidades e empresas atingidas pelas fortes chuvas que atingiram o Estado, é um importante exemplo deste processo. Mas apenas uma parte do que a instituição faz.
Qual a estratégia para diminuir o custo de captação e buscar novas fontes de receitas? Os acordos internacionais vão continuar?
A relação do BDMG com os multilaterais e a captação de recursos internacionais sempre foram muito bem executadas. Principalmente, porque lá fora se entendeu que o banco tem uma preocupação muito forte com projetos socioambientais. Agora o nosso papel é dar prosseguimentos nestas negociações para que possamos conseguir taxas ainda mais atrativas e dar continuidade a esse trabalho. Faremos isso através de contatos e expertise da nova diretoria.
Já há dados sobre os desembolsos de 2021? E quais são as metas para 2022?
Ainda estamos fechando os dados de demonstração financeira. Mas para este ano queremos ultrapassar os números do ano passado. Metas precisam ser cumpridas e também prospectadas. Para cada carteira teremos um orçamento e um plano de atuação: agronegócio, micro e pequenas empresas, médias e grandes, projetos de meio ambiente, políticas sociais e de governança, etc. Sempre lembrando que o BDMG é um banco, mas um banco de desenvolvimento. Por isso, precisa conciliar bem sua atuação com as políticas públicas de governo, captando mais barato para oferecer taxas competitivas.
Por falar em competitividade, como a alta da Selic está afetando o banco? O patamar histórico preocupa?
A alta da taxa Selic preocupa todo o mercado. Toda vez que a inflação aparece em patamares mais elevados, lança-se mão de aumento da taxa de juros e isso provoca uma diminuição dos investimentos. Neste contexto, nós, enquanto banco de desenvolvimento, precisamos ser criativos e inovadores em processos mais ágeis e mais baratos para oferecer ao tomador – seja o pequeno ou o grande – uma taxa menor do que a praticada pelo mercado.
Como estão a inadimplência e a solidez do caixa?
A inadimplência do banco não preocupa. Os índices estão controlados e dentro da normalidade. Trabalhamos com rigidez na análise de riscos para o gerenciamento da carteira e do risco de crédito, visando a sustentabilidade da instituição. Além disso, o banco tem boa liquidez, é respeitado e tem boas notas de risco. O mandato a que me foi confiado visa um trabalho para que o banco seja cada vez mais forte e necessário e que promova o desenvolvimento de Minas Gerais, por meio do fomento à economia, que auxilie as autoridades municipais no enfrentamento de seus problemas e realidades locais, que busque por recursos ainda mais baratos para oferecer às micro e pequenas empresas e também fortaleça o crédito rural.
Qual o futuro da Unitec? Era uma grande promessa para Minas, o banco é um dos sócios, mas o projeto não sai do papel.
Ainda não conheço o tema profundamente, mas o banco tem uma participação minoritária, acompanha com toda atenção o trabalho de reestruturação que vem sendo feito e já decidiu que não vai aumentar sua participação.
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